Ronald mal acabou de chegar a sua casa e já tinha que sair novamente. Puta saco, pensou. Ninguém merece isso.
Apesar do clima de neve que estava rondando o ambiente da cidade, o sol exibiu-se um pouco naquela tarde, derretendo um pouco os pequenos flocos de neve. O caminho estava mais livre.
O detetive saiu de seu prédio e decidiu ir andando até o IML, que não ficava tão longe de sua residência. Um pouco de ar fresco, vai me fazer bem. Espero relaxar, pensou.
Ronald era tipo de cara esquentado, estressado, sem pouca paciência — quando ficava sem o seu cigarro então, virava o bicho.
Passando pela praça central da cidade, ele pôde observar algumas crianças brincando com a neve. Elas jogavam uma nas outras, faziam pequenos bonecos de neve. E gargalhavam muito.
Ronald nem percebeu quando chegou ao seu destino.
O prédio do IML era uma construção velha, alguns tijolos estavam descascando, a fachada não era muito bonita. Tinha uma porta de correr e uma placa pendurada por correntes escrita: Instituto médico-legal da cidade de Minsk. Devido ao frio, a porta se encontrava fechada. Ele apertou a campainha para anunciar a sua chegada.
— Pois não, em que posso ajudar? — uma voz estridente no interfone.
— Sou o detetive Irving, tenho uma reunião com Soraya — disse. — Ela me ligou mais cedo a respeito do caso Richards.
— Ok, um momento! Vou anunciar e liberar sua entrada.
Ronald revirou os olhos.
A porta do lugar demorou a ser aberta, então ele acendeu um cigarro e aguardou alguém vir abrir a porta. Alguns minutos depois, — vinte minutos para ser exato —, uma senhora gorducha veio em passos de pinguim e abriu a porta. Pra que a demora, santo Deus, pensou. Aposto que não tem muitas pessoas morrendo nessa época do ano.
— O senhor pode entrar — disse a gorducha.
— Obrigado — respondeu o detetive roboticamente.
Ronald definitivamente não tinha muita paciência para com as pessoas. Especialmente se essas pessoas fossem lerdas.
— Onde eu posso encontrar com Soraya? — ele perguntou.
— No final do corredor a sua esquerda.
Ronald seguiu em direção ao corredor e depois a sua esquerda, bateu na porta fazendo um barulho ecoante.
— Pode entrar, está aberta — berrou a voz feminina.
— Olá detetive — disse a jovem moça, avistando o homem que havia acabado de entrar em seu escritório.
Ronald ficou encantado ao ver Soraya. Ela era uma latina, cabelos castanhos enrolados, seus olhos castanhos grandes, uma boca carnuda e ela vestia uma roupa social que lhe caia muito bem em suas belas curvas.
UAU, ele pensou.
— Boa tarde, Soraya — quase ele não conseguiu pronunciar essas palavras mediante a tamanha beleza da jovem.
Soraya não parecia ser tão velha, na verdade ela tinha um rosto muito jovial.
— Detetive, eu te chamei para passar algumas informações importantes sobre o cadáver encontrado no lago, no caso, o cadáver de Leonard Richards.
— Pois não.
— Então vamos até o necrotério, preciso te mostrar algumas coisas interessantes.
— Ok, vamos lá — ele disse levantando as mãos com sinal de concordância.
O necrotério daquele velho prédio ficava em um lugar estranho, no porão. Ok, não era necessariamente um porão, mas sim um lugar adaptado para parecer um "guarda cadáveres".
Desceram alguns lances de escada e logo avistaram um ambiente escuro, não era escuro no sentido de não haver luz e sim, escuro no sentido de morte, sem vida. Havia algumas gavetas, — dez.
Certeza que todas elas deve ter alguma surpresinha, pensou. Ao mesmo tempo, que Ronald sofria pela perda de sua esposa, a morte também lhe agradava. Ela era como sua grande companhia, se é que dá para chamar isso de companhia.
O detetive tinha vários hábitos e costumes estranhos, que a maioria das pessoas não conseguia entender. Ou até tentavam, mas falavam miseravelmente.
— Vamos lá, garota! Cadê o meu brinquedinho? — Ele disse em um tom de brincadeira e ao mesmo tempo de deboche.
— Detetive... Por favor... — Soraya tentou aplicar-lhe um sermão.
— Não, desculpa! Estou tentando levar seu caso a sério, mas estou cansado. Fico extremamente irônico, cínico, quando estou nesse estado.
— Ok, vamos lá — ela disse, abrindo a gaveta de numero seis.
Quando a jovem legista abriu a gaveta, o cadáver fora exibido a sua forma natural, pálido, gélido e as partes do corpo agora estavam unidas ao tronco — costurados.
Essa parte, eu já vi, pensou o detetive.
— Ok, o que descobrimos.
— Detetive olhe atentamente para o corpo.
O detetive olhou fixamente para o corpo, olhou de novo e de novo. E apenas viu um milionário imbecil.
— O que temos que ver?
Grosso, sem educação, ela pensou.
— Há sinais de luta, Irving. — ela disse, apontando os sinais com um instrumento que aparentava ser aqueles indicadores usados por professores em sala de aula para mostrar a aula em seus quadros negros.
— Ah sim, isso é verdade! Eu já havia notado isso, quando encontramos o corpo no lago, Srta Mendez.
Soraya já estava ficando irritada com o comportamento do detetive. Ela percebeu o ar de petulância do homem, mas tentou se manter calma.
— Certo, provavelmente deve ter sido algum sinal de luta, alguma reação mediante ao assassino.
Descobriu isso sozinha, gênia, ele pensou.
— Sim, quase certeza que foi isso mesmo — ele concordou. — O que mais temos aqui?
Soraya suspirou, olhou para o detetive.
— Descobrimos precisamente qual fora a causa da morte do milionário. E também a data da morte dele.
Ronald arregalou os olhos e de soslaio encarrou a garota:
— Desembucha — ele disse.
— Pelas primeiras analises do cadáver, Richards foi assassinado na noite de sexta feira por volta da meia noite. E envenenado, encontramos uma substância toxica em seu organismo, chamada de Cianeto.
Ronald estava pálido, chocado, não acreditava no que estava ouvindo.
Quem matou o milionário está na mansão, envenenou-o e depois usou o lago para despachar o corpo, simulando um crime brutal, ele pensou. E tomou nota em seu caderninho.
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Morte na água
Mystery / ThrillerPor quanto tempo você conseguiria esconder um segredo? Ronald Irving, um detetive aposentado de sua carreira se vê obrigado a retornar ao trabalho, após um corpo ser encontrado gelado, petrificado feito um iceberg em um lago, próximo do Natal. Quem...