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Após o que pareciam horas, fui jogada em uma espécie de cela.

Aquele lugar era mínimo, havia uma mini cama de solteiro e uma janela grande o suficiente para apenas um filhote de gato passar.

Ouço batidas na porta de ferro.

—Entre, Sr. M.

—Agradeço, mas não sou a M — uma mulher de longos cabelos negros com alguns fios já brancos perdidos, passa pela porta —, meu nome é Catarina, vim trazer comida. Creio que esteja com a barriga doendo de fome.

"Ah, se fosse apenas a minha barriga que está doendo." Penso antes de rejeitar.

—Imagino que esteja com medo depois do que aconteceu, não quero machuca-la,  já passei por isso, infelizmente sei como é — Catarina, por um instante, olhou para o nada  como se estivesse se lembrando de alguma coisa. — Apenas faça o que for mandada e não irá se machucar, não muito. 

"Já percebi isso, infelizmente, mas obrigada pela dica." Penso com um leve sorriso, alias ela deve estar tentando evitar que eu pegue trauma ou fique traumatizada.

Ela vai em direção a porta, mas antes de sair, deixa no chão uma bandeja com algumas frutas, alguns pães e um copo grande de suco.

Vou desesperadamente de encontro com a comida, quando foi a ultima vez que comi alguma coisa que eu realmente podia engolir?

Fico simplesmente maravilhada com a comida, as frutas estão doces, os pães quentes e o suco é de frutas naturais. Eu estava com uma divina festa de sabores em minha boca.

Após me alimentar de modo que não faço a muito tempo, vou para a cama.

Tudo dói, quanto mais eu tento massagear o corpo para tentar relaxar os músculos, mais os sinto doer.

Alguns lugares ainda tem a marca certinha dos dedos dele, ainda consigo sentir a pressão que suas mãos fizeram sobre mim.

Começo a sentir lagrimas em meus olhos, um choro silencioso, temo que se eu fizer barulho M poderá me bater novamente.

Tudo está doendo, o que aconteceu comigo? Por que ele está fazendo essas coisas? Que pecados eu cometi para ter parado no inferno?

Uma luz invade a pequena janela, luz do nascer do sol. É manhã.

Depois de um tempo olhando aquele luz, sou obrigada a desviar o olhar. O brilho ficou forte, meus olhos estão muito frágeis, do tempo que estou aqui, só vivi sob luz de velas, não vi um única janela ou porta que levasse ao lado de fora da casa.

Vou em direção a luz, quando chego perto da pequena abertura, alguma coisa a fecha, fazendo um vento tão forte que apagou as chamas de um vela que estava ao quarto.

Estou totalmente presa no inferno.

Com o medo do escuro que sempre tive me desespero, com muito cuidado vou para a cama, tento dormir para fingir que estou fugindo das trevas por um tempo breve.

~~~

Sou acordada com gritos. Gritos de uma garota. Gritos de dor, pedidos de socorro e implorando para parar. Também tinha um certo choro. Choro de medo.

Era o mesmo choro e gritos que tive quando M me pegou. Eu não estava sozinha. Tinha mais alguém na casa.

Existem outras garotas que vieram para cá antes de mim? O que pode ter acontecido com elas? O que vai acontecer comigo?

- CALA A PORRA DESSA BOCA, SUA PUTA – M grita para ela. Seu grito também me abala, me fazendo calar a boca que nem estava aberta. Me fazendo silenciar os pensamentos.

Os barulhos somem. Qualquer som desapareceu. Eu não estava conseguindo ouvir a minha respiração ou o pulsar das minhas veias. O silencio que surgiu após o grito de M é de deixar qualquer um com calafrios.

Estou com muito medo, será que por um acaso ele tirou a vida daquela pessoa? Se ele tiver a matado, o que espero que tenha feito, será muito melhor para a moça. Ela não sentira fome, dor, medo, frio e, provavelmente, não estará presa no inferno.

Se ele a matou, espero que faça o mesmo comigo. Não estou mais aguentando. A morte parece ser bem melhor do que este inferno no qual estou sendo obrigada a frequentar ainda com vida.

Capítulo Revisado

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