Liebe Blumenau - Parte I

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Ponte Sérgio Motta - Cuiabá, onde inicia o conto.



Paulinho... ou para nós íntimos: Paulíssimo!

Aparece cada cidadão em minha vida... 

Sendo eu "menina" pintosa, sempre mantenho um pé atrás com esses caras discretos que chegam muito perto. Não é de hoje que a maldade desses falsos héteros nos rodeia. Eu conheci e ainda conheço um. Ele, o Leo, um curioso louco pra saber como era pegar um viadinho e eu louco para agarrar um macho daquele porte. Digamos que no começo juntou a fome com a vontade de comer e o desespero de ambas as partes nos levou aos primeiros encontros até nosso casamento lindo de viver! 

Começou mais ou menos assim:

Estava eu, linda e poderosa, dono de mim, trabalhando como vendedor em uma loja de cosméticos e o cara aparece... Sim euzinho mesmo, porque sou o que tenho vontade de ser, me aceito e me adoro sendo afeminado, usando e abusando do meu direito à liberdade de me expressar. E me expresso escandalosamente!

Então, eis que esse cara grande, meio gordinho, loiro e de rosto bonito, entra no estabelecimento: clichê? Parece.

Ele chega perto do balcão com flores, rosas vermelhas e me olha dentro dos olhos...

— A Brenda?

Meio óbvio que não era eu.

— Ela deu uma saidinha de cinco minutos, pode deixar recadinho ou prefere aguardar. — Eu não podia queimar minha colega de trabalho dizendo que ela estava na "latrina".

Nem poderia olhar dentro daqueles olhos claros, jeitão de cara bruto, pelos loiros aparecendo por culpa daquele botão da camisa polo aberta, sem me apaixonar. AHHHH, Javé! Pelo, muito pelo... Que vontade de depilar com cera só de maldade.

Ele me olhou umas duas vezes e não puxou assunto. Estava suado afinal Cuiabá é quente. Muito... quente. Um homem daquele com cara de soldado da Gestapo em pleno novembro, dentro de uma mini loja de produtos de beleza, não combinava. Ah grande coisa!

Mais dois olhares entre nós e me senti molinho, Jesus, minha colega tinha sorte.

— Vai demorar? — Ele pergunta desse jeito secão. Nunca mudou.

— Olha moço, cê tá com pressa, pode deixar que eu entrego a ela. — Meio fino e meio grosso, já não faz meu tipo. Só que ele me olha outra vez, parecendo me analisar, seus olhos descem dos meus para a minha boca que é muito carnuda, presente da ascendência afro trazida pelo meu pai em seus gametas. Então o som da descarga nos desconcentra.

— Paulinho, nem entre naquele banheiro por pelo menos dois dias. — Brenda larga essa frase sem cerimônia e o bofe-escândalo dela, fica vermelho feito um tomate. Eu não coro, pois sou moreno e nem aparece, mas por dentro fico todo errado. — Grande Leopoldo! Tá aí há muito tempo? "Atchooooo"

Minha amiga é meio ogro, espirra escandalosamente em cima das rosas do cara e sorri com o nariz vermelho.

— "Dossa" rosas! Detesto flor, espirro feito condenada. — Brenda fala enquanto esfrega o nariz. — Mas deixa aí.

— Ah... Vim trazer uma lembrança, vou visitar a família em Santa Catarina... Não quer ir junto?

— "Dão". — Gente, como Brenda é doida! Eu querendo casar, brincar de casinha e encher a casa de bacuri e ela me "corta" um macho desses. — Cadê a lembrancinha?

Pelo jeito que ele fica todo atrapalhado, a lembrancinha eram as flores. Sei lá, só sei que me sento num canto para não ficar ouvindo a conversa dos dois, o que é meio impossível devido ao tamanho do recinto. Sinto dó de ouvir as cacetadas que ele leva de uma moça que claramente não está afim dele. Mas ele é ríspido também, combinam os gênios de ambos. Quando ele parte dali, eu quase tenho um chilique.

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