Anjinho arretado e o Urso dobrado - Parte II

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Por Muriel...

Uma semana depois vem o encarte e vou dar aquela conferida básica antes de mandar pra panfletagem.

— AHHH! — Eu grito! Não foi ele dessa vez que gritou. — Matheus, lembra que eu te disse que era Achocolatado M. sachê? Você ficou de mandar o e-mail pra retificar e tirar a foto do pote. Ai não... o André vai comer meu fígado com farofa.

— Eu defendo você, falo pra ele que a culpa é só minha e que ele pode descontar do meu salário. Eu sei que você tinha me falado, mas...

De novo não! Aquele olhar triste. Aquele beicinho! Aqueles cachinhos! Aquela boca maravilhosa! Coisa linda de olhar!

Foco, Muriel!

O que aconteceu? Alguém me ajuda a lembrar...

André entra na nossa sala todo sorridente e cumprimenta PRIMEIRO o Matheus, não que eu sinta ciúmes, mas fico mordido. Nem sei de quem eu tenho mais ciúmes, patrão ou colega.

— Seu André, a culpa foi todinha minha. Esse achocolatado de pote, eu... eu...

— O quê? —  André pega um panfleto e olha. —Mas tá bem certinho. Era pra colocar o pote e o de sachê, se saiu só a foto do pote, Matheus, tá tranquilo. Ficou bem legal essa arte que você escolheu, todos esses palhacinhos para o dia das crianças... Bem fofo.

FOFO? Meu patrão nunca disse FOFO quando eu fiz o encarte SOZINHO todos esses anos. 

Espera, que papagaiada foi essa essa do pote "também".

— André, tu me passou que era só o sachê que entraria na promoção.

— Muriel, não coloque defeito, foi o primeiro encarte do Matheus. Tá tudo certo.

— Não tá! Tá escrito: Achocolatado M. 400g sachê e a foto é de um pote.

— Ninguém vai morrer por isso, Muriel. Fica frio!

Posso dar um tiro no André?

Porque ele fica bobo na presença no MEU colega?

André é dono e nada mais que isso. Não faz a menor diferença aqui. Tudo bem que paga nosso salário, manda, desmanda, pode falar e até dizer que não falou, mas olhar para o Matheus, com aquela cara de lobo mau, isso não né.

— Seu André, eu cuidei tanto. Isso nunca mais vai acontecer. Eu sou o único culpado, o Muriel tinha me falado...

— Não precisa me pedir desculpa, meu anjo. — ANJO? — Se isso é um erro, é culpa do Muriel que é responsável pelo encarte.

Ah tá! Eu posso dar dois tiros nele? Depois chutar, pular em cima e tacar uma pedrada?

Quando o André sai da sala eu fico puto, muito puto e se esse moleque crespinho com essa cara de inocente me falar um "ai" sobre o assunto, vou brigar com ele.

— Muriel, você ficou chateado com a história do erro, foi?

— Não.

— Tá com essa carinha de vexado porque?

— Não tô.

— Ah tá sim.

Se ele falar mais um "ai", agora é sério, não me responsabilizo.

— Oh urso mais brabo do Matheus, se avexe não, tá tudo certo. Pode relaxar.

Barbaridade, eu arrepio todos os pentelhos do meu corpo... Ai que merda, eu confesso que tive uma nítida "paudurescência" e ele olhou, sorriu e saiu da sala. Cara, "urso não se avexe"... isso é um crime, uma tortura, é pratica indiscriminada de sadismo em ambiente profissional.

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