Gabriel, cravo e canela - Parte Final Feliz

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— Eu tô nervoso, doutor, desculpa... é...

— Porque? — Ele pergunta segurando a tampa da caneta na boca, enquanto escreve e fala comigo sem me encarar, concentrado no que está fazendo. — Senta, meu querido, já me localizei.

— Nada não. É pessoal...  

Bom... nenhum dos doutores era gay, nenhum, então não quis gastar meus sonhos de princesa com uma fantasia. Mais do que já tinha gasto. Sério isso, porque se eu continuasse a me masturbar pensando no psiquiatra de madrugada, ia me denunciar sem querer. E por isso que eu andava tão errado na frente do André.

Mas nem por isso, larguei aquele serviço do qual eu gostava demais. Nem o Geriátrico, porque sendo portador de um registro no COREN, me abriu uma vaguinha pra técnico na própria empresa e tive um pequeno aumento de salário. 

A gente busca o sucesso profissional, mas também, preencher o vazio do coração. Eventualmente ter um cara gostoso na cama (no sofá, chuveiro e na cozinha) e que esse cara sinta alguma coisa pela gente além do tesão.

A solidão me empurrava de volta pro Júnior, eu voltei a pensar muito nele. Ele sempre junto comigo, em especial, naqueles momentos que eu precisava de abraço, ele me abraçava e eu aproveitava pra fazer brincadeiras mais íntimas que o deixassem notar que eu queria que rolasse alguma coisa. Eu tava preparada pra atacar!

— Ôrra, que bunda gostosa a tua. —  ele provoca quando me vê de costas e eu devolvo.

— Eu sei... mas se quiser, tem que pagar pra ver. Sou muito caro.  

Ele me mostra a língua e eu encaro como brincadeira, porque nossa intimidade nos permitia essas besteiras sem parecer apelação, mesmo quando apelávamos, porque ambos estávamos na seca. Juro que nós éramos amigos, mas tão amigos que eu lhe disse (menti) que poderia ver seu corpo peludinho e bonito, peladíssimo, que não me causaria efeito algum. Eu disse que poderia, não quer dizer que ele me deixou ver alguma coisa.

Muito me perguntei sobre o que ele teria visto no seu ex, que sempre foi meio bruto, mandão e partia pra ignorância em quase todas as conversas. Nada de partir pra briga física e antes fosse, pois cheguei a consolar várias vezes o carinha que tanto chamei de crush no aplicativo de leitura.

Me lembro do dia que ele veio pro meu lado, contar sobre o pé no rabo que tinha dado no ex:

— Acho que acabou. Eu não consigo mais aguentar ele me encostando. Nem o beijo, Biel. Sabe... ele me chama de vadia na cama, mas é porque me vê assim, sou só um rabo pra ele meter. Eu tô sempre pronto aqui. Vim morar nessa cidade só por ele. O que ele faz? Me chama de burro e preguiçoso porque moro nessa casa do pai e ele tem um padrão de vida melhor.

— Cada um tem a vida que pode ter. Não queira acompanhar esse cara, já são uns três anos que você diz correr atrás. Deixa ir... vai te fazer mais bem do que mal. 


A gente estava chegando perto demais um do outro, o coração aprontou com ambos. Fez tudo sem pressa. O destino foi caprichoso e armou uma cilada que aprisionou dois caras numa sala num dia em que por acaso, folgamos na mesma data e a chuva forte com ventos e raios nos inibiu de sair. 

De besteira, apelando como sempre, eu me arrumei, fiquei cheiroso e gostoso pra ver se ele se mexia, ele tava um tesão e ficou me olhando com a chave do Gol nas mãos. Achei que ia me convidar pra dar uma volta. Depois sentou e olhou pra parede... Ele queria falar alguma coisa.

— Dá um colo?  —  Foda-se, eu ataquei e perguntei na cara.

— Vem meu neném. Senta e quica gostoso.

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