Viagem ao inferno

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Enquanto Eduardo ia ter com sua família, o Caçador resolveu terminar o trabalho pendente de reunir uma equipe. Ainda um componente era necessário para transformar aquele num grupo de elite, pois como ensinou Sun Tzu, em - A Arte da Guerra: conheça teu inimigo como a ti mesmo. O espírito benigno se direcionou para uma casa de candomblé e assim que ele entrou, os tambores já famigerados do local pararam de rufar e todos olharam para ele, até mesmo os encarnados com "poderes sobrenaturais".

O Caçador pensou em quanto tempo fazia que não colocava os pés num local como aquele. Figuras de santos e estátuas espalhadas por todos os lados. Ensinamentos de diversas doutrinas se misturavam ali. O cheiro de incenso era forte e a pintura do local era de uma cor escura meio macabra para um local religioso. Começou a lembrar, quando encarnado, ainda uma jovem criança, que sua mãe sempre o levava em diversos locais como este. Talvez no fundo ela sabia que deveria treiná-lo para algo maior no futuro. Mesmo jovem, nunca ficou espantado com aquele ambiente. Achava tudo natural e apenas tinha dúvidas e porquês intermináveis que nunca eram respondidos.

Suas lembranças logo sumiram da mente, ao sentir uma presença hostil no local, os olhares dos protetores espirituais dali pulverizaram-no, então o Caçador disse:

- Calma pessoal, vim apenas conversar!

De repente, ele foi surpreendido por uma figura já conhecida. Era o mesmo Exú que havia enfrentado junto de Eduardo, na festa onde treinava o jovem para lutar contra vampiros espirituais. Continuava o mesmo capoeirista com máscara de caveira, apavorante como sempre.

- Como ousas entrar em minha casa? Moleque desrespeitoso!

Pra variar, ele partiu pra cima do invasor antes de ouvir qualquer resposta. O Caçador bloqueou como pode, além de esquivar de uns três ou quatro golpes. Ele saltou quando seu oponente chegou a dar uma rasteira, procurando evitar uma queda. De repente, Exú tentou um famigerado golpe da capoeira, o "beija-flor". O Caçador aproveitou que seu inimigo estava com uma das mãos no chão, enquanto lançava o pé do lado oposto em sua direção, e se lembrando de um filme que havia assistido enquanto encarnado, chutou aquela mão de apoio de seu agressor. Ele estatelou-se no chão e levantou furiosamente. O Caçador respondeu com ar de pretensão:

- Ei amigo. Andei treinando um bocado desde o nosso último encontro. Podemos passar o dia inteiro aqui fazendo isto.

- Onde você aprendeu esses movimentos, garoto?

- Num filme que assisti quando eu estava encarnado! - respondeu o Caçador com um sorriso maroto.

Naquele momento, Exú estava convencido. Até ali ele acreditava que aquela guerra não era dele. Mas seu oponente fez seus olhos abrirem e ele resolveu ouvir o que seu "inimigo" tinha para dizer. Após um longo debate, ficou definido: Exú seria o guia que levaria a equipe até os confins do abismo, numa missão perigosíssima para recuperar uma alma perdida. Desafios são sempre bem apreciados por espíritos lutadores.

O Caçador e Exú se encaminharam até o Centro Espírita onde tudo iria ter início: Caminhos de Chico Xavier. Alguns dias se passaram para Eduardo retornar. Ele estava meio triste e quando perguntaram, ele disse apenas que aquele não era o momento correto para falarem disto e que eles deviam se concentrar na missão. Professor Carlos, Marcelo e Nakata, que agora era um iniciado de todo aquele ensinamento místico, seriam a ponte do grupo no mundo material.

- Cuidado para não terem o períspirito de vocês alquebrado. Se sofrerem um ferimento muito grave, vocês correm o risco de chegar ao estágio ovoide de involução. Daí apenas reencarnações emergenciais para recuperação serão possíveis de trazerem vocês de volta! - alertou Marcelo.

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