Eddie percebera que ele precisava se lembrar de algo muito importante e só assim ia se ver livre de sua "maldição". Além do mais, aquele lance de passado e futuro estava ficando cada vez mais confuso. Como assim o seu tempo "presente" é o passado e o futuro é o presente? Sua vida não passa de uma simples lembrança? E se ele resolvesse simplesmente fazer tudo diferente? O que seria do futuro? E se ele não conseguisse fazer nada de diferente porque aquilo já havia passado? Sim, eu sei, são questionamentos que como Nakata, seu melhor amigo, dizia nas rodas de bar: "dão câimbras no cérebro"!
Os dias que se passaram foram um tanto quanto normais na nova rotina de Eddie. Ele havia ficado um pouco mais introspectivo do que o normal. Afinal de contas, a constante pergunta que não queria se calar era: o que ele tinha que se lembrar? Sua esposa Samantha reclamava constantemente que ele estava muito distante e que ele mudou muito. Ela ainda não sabia de suas "visões". Para ela, assim como para os demais, ele apenas teve uma crise de estresse nervoso e que agora estava controlada. Poucas pessoas sabiam da verdade. O que mais preocupava ela era que Eduardo havia mudado muito. Aquele cara cético, tranquilo, todavia estudioso e até um pouco "nerd", agora acordava às 06:00 da manhã para praticar kung fu antes de ir para o trabalho; apenas se alimentava de comida vegana (ou seja, sem qualquer intervenção animal) e frequentava centros espíritas. Tudo isso era muito legal, porém, onde estava seu marido?
Eddie tinha conhecimento que sua esposa não gostava das mudanças. Por isto ele queria respostas mais rápidas o possível para ser o marido e pai que ele tanto deveria ser. Contudo seus deveres como cidadão continuavam também. Ele tinha que trabalhar.
Durante a semana, surgiu um serviço que exigia que o jovem advogado se deslocasse para a tumultuada capital do estado - São Paulo. Por sorte, Nakata, iria para a mesma cidade e resolveu dar uma carona. Durante a viagem, passava na rádio uma entrevista com um tal de Marlon Lusk. Segundo Nakata, esse cara era tipo um Tony Stark, ou seja, o homem de ferro da vida real. Era um empreendedor multibilionário que sempre inventava coisas maneiras. Atualmente o Sr. Lusk estava numa empreitada para fazer o homem chegar até Marte. Em um congresso de tecnologia em Massachusetts nos EUA, ele disse que conforme as leis da probabilidade e da estatística, podemos estar vivendo numa realidade simulada assim como mostra o aclamado filme Matrix. Ele dizia que era uma chance muito pequena de estarmos em uma vida "real". Aquele assunto parecia louco até mesmo para Eddie que acabou pegando no sono durante a viagem. Durante seu sono, um sonho veio lhe perturbar a mente. Era um sonho tão lúcido que parecia real. Por um breve instante, Eduardo achou que era mais uma de suas encarnações, entretanto algo não batia. Dessa vez ele viu o mundo de uma menina adolescente e o tempo cronológico era bem próximo do que eles viviam. Não havia como aquilo ser uma encarnação dele. Não havia tempo. O que Eduardo viu em detalhes foi:
Amanda tinha dezesseis anos e era homofóbica. Naquele fatídico dia, a garota sentia raiva de seu professor de português, o senhor Rodolfo, que lhe mandara defender o casamento de pessoas do mesmo sexo perante toda a turma num debate em sala de aula. O pior de tudo era que a sua antagonista, Sarah, era uma garota que "gostava de meninas" e por ela estava "tudo bem" fazer o papel inverso desta vez: agir como se fosse contra o casamento de homossexuais depois do discurso do professor:
- A ideia que eu quero de vocês é: não sou o dono da verdade! Aquilo que você acredita não é um dogma, ou seja, uma verdade incontestável que deve ser seguido por todos. Devo ter empatia, que é entender o sentimento alheio e me colocar no lugar do próximo. Porque Fulano pensa assim? Porque Sicrano age de determinada maneira? É isso que desejo de vocês neste debate. Nesse momento, esqueçam suas convicções interiores e pessoais. Vocês devem agir como verdadeiros advogados do diabo!
Aquelas palavras podiam ser muito belas para alguns, entretanto não convenciam Amanda. A garota era egocentrista e o que interessava era o que ela achava. Os outros estavam errados.