Capítulo 4

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Voltei logo mais para a ferragem e graças ao bom Pai que a tarde está sendo bem movimentada, vendemos uma grande quantidade de material de construção o que ocupou o Seu Elias pelo resto do dia fazendo a entrega das  mercadorias aos clientes, assim pude ficar sozinha e pensar com mais tranquilidade na oportunidade que está aberta em minha vida. Antes de fechar o expediente minha amiga Mariana passou na loja toda feliz para contar que conseguiu vaga aqui no campus da Unesp de Rosana no curso de Turismo, eu a parabenizei e não contei à ela sobre minha bolsa, Mari é minha amiga e irmã em Cristo mas as vezes ela tem um comportamento estranho, e minha mãe sempre vive me alertando para não contar as bênçãos antes do tempo.

Fechei a loja as 18 horas e como estamos no horário de verão aproveitei para caminhar um pouco na beira da praia, tirei meus calçados e deixei meus pés sentir a areia quentinha, sentei um pouco, fechei meus olhos e em pensamentos falei com Deus agradecendo por Ele ser tão bom e ter cuidado de mim, pedi também que Ele leve de dentro de mim toda angústia e ansiedade por causa do futuro, que direcione minha vida e dê saúde para minha mãe. Senti o vento bater em meu rosto e imediatamente uma paz envolver meu coração, deixei as lágrimas escorrerem, não estou triste, são lágrimas de gratidão pois sei que Deus está no controle de tudo.

Ainda de olhos fechados senti alguém colocar as mãos sobre os mesmos, me assustei e abri imediatamente:

—Adivinha quem é? —falou a voz que só poderia ser do Eduardo, outro amigo desde a infância e também irmão em Cristo.

—Eu reconheceria sua voz a quilômetros, Edu essa sua voz de taquara rachada, é conhecida por todos os Rosanenses kkkkk. — Ri da cara dele mas parei assim que vi que ele não gostou da minha brincadeira.

—Desculpe Edu só estava brincando contigo. —Puxei ele para um abraço tentando quebrar o gelo entre nós, ele fez bico e recusou o meu abraço.

—Pensei que você reconheceria minha voz a quilômetros porque ela soa como uma música aos teus ouvidos, sua ingrata.

Eduardo e essa mania de achar que eu deveria ser apaixonada por ele, só porque ele é único jovem da igreja bem tratado por meu padrasto, eu penso que Seu Elias acha ele um bom partido e candidato para casamento porque é filho do pastor e esta sempre envolvido nas atividades da igreja, mas o fato dele ser filho do pastor não quer dizer que ele viva uma vida como verdadeiro cristão, suas atitudes fora do alcance de vistas de seu pai e da igreja não tem sido um exemplo de jovem separado e diferente do mundo, na escola anda com várias garotas e soube que ele também frequenta as festinhas que a turma dos mais populares dão regadas de bebidas alcoólicas , não serei eu que irei o julgar mas não quero nada com ele a não ser sua amizade e ainda assim sempre vigio quando estou com ele.

— Edu você é muito metido, eu não tenho motivos para querer que sua voz soe como música aos meus ouvidos. — Falei dando um tapinha em suas costas e me afastando um pouco.

Conversamos por um tempinho, ele me contou que também conseguiu vaga na faculdade Estadual de Bauru  para cursar Engenharia Ambiental e outra vaga aqui no campus da universidade de Rosana, para  cursar Engenharia de Energia, mas está tentando convencer seu pai a deixá-lo ir para Bauru,  pediu se vou ao culto dos jovens amanhã a noite, respondi que sim e nos despedimos.

Voltei para casa, subi direto para meu quarto, estou louca por um banho bem gelado e demorado, liguei o chuveiro e separei minha toalha, joguei meu vestido no cesto e entrei embaixo da ducha gelada, senti um arrepio mas logo a água gelada tornou-se agradável e refrescante, demorei um pouco mais e terminei meu banho, saí do meu banheiro enrolada na toalha e levei o maior susto quando vejo Seu Elias parado ao lado da porta, ele nunca entrou assim em meu quarto, ele desviou o olhar para não me ver assim dessa maneira com uma toalha enrolada, ficou todo desconcertado e quando eu fiz menção de voltar ao banheiro ele falou:

—Adélia eu vim até aqui porque queria aproveitar a oportunidade de falar contigo antes que sua mãe retorne da igreja, eu sei que ela quer falar comigo hoje sobre a sua ida para faculdade , mas quero que saiba que eu não sou a favor, se espera o meu apoio não terás, e se fores será por sua conta e risco, não posso ir contra algo que sua mãe quer pois não quero que ela fique aborrecida, então eu sugiro que desista dessa ideia, será melhor para todos nós.

Falou tudo olhando para baixo, eu senti minhas pernas tremerem mas como ele teve a ousadia de invadir meu quarto eu também tive a ousadia de responder:

—Seu Elias aqui não é o lugar e nem o momento para o Senhor vir falar comigo, em respeito a minha mãe eu peço que saia do meu quarto.—falei sentindo minha face ruborizar.

—Desista disso, podes estudar aqui. Ir sozinha para outra cidade não é coisa boa, vais cair na tentação desse mundo e nos escandalizar perante nossos amigos e irmãos aqui de Rosana.—ele falou e se retirou do quarto fechando a porta.

Ele está preocupado comigo ou com sua reputação perante as pessoas? Acha que eu quero sair de casa para ter minha liberdade e uma vida de pecados que o mundo oferece, não confia em mim mesmo depois de eu sempre obedecer suas regras e nunca ter dado motivo para que houvesse essa desconfiança quanto a minha índole e comportamento. 

Dos meus olhos rola uma cascata de lágrimas, abracei meu travesseiro com forças, eu gostaria muito de realizar meu sonho, mas não posso ser desobediente. Fiquei ali deitada por um tempo até me acalmar, então orei ao Senhor que sabe todas as coisas para que direcione minha vida e provesse uma maneira de meu padrasto aceitar pois só assim poderia ir tranquila.

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