Capítulo 6

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* Julia e Elias na mídia

O sábado transcorre  tranquilamente, fui com mamãe ao mercado fazer a feira para a semana, meu padrasto havia saído cedo e não o tinha visto ainda, perto do meio dia quando estava ajudando a terminar o almoço ele chegou, como sempre cumprimentou mamãe com um selinho discreto, pegou seu jornal e sentou a mesa esperando o almoço ser servido. Almoçamos em paz, ajudei  organizar a cozinha, mamãe subiu para descansar e eu fui até a varanda dos fundos, me deitei na rede, sopra um vento gostoso, fiquei ali pensando em tantas coisas, como fui feliz nessa casa, tive uma infância boa depois que mamãe se casou com Seu Elias. 

Meu pai biológico e minha mãe vieram para cá quando ela estava grávida de mim, haviam se casado e ele veio trabalhar na usina, eram felizes segundo ela conta, logo após meu nascimento ele sofreu um acidente de trabalho o que veio a tirar sua vida, foi um choque para ela, ficar sozinha em um lugar estranho sem familiares e com uma filha pequena, obteve ajuda da empresa a qual ele era contratado, mas era pouca, mal dava para pagar o aluguel e comprar comida, foi então que conseguiu emprego na ferragem do Seu Elias. 

Ele era um homem bonito e foi muito gentil com ela, suas histórias eram parecidas, ela viúva com uma filha pequena, e ele também era viúvo e tinha uma filha dois anos mais velha que eu, com o tempo os dois foram se conhecendo melhor, ele sempre foi cristão, a levou conhecer sua igreja, ela aceitou Jesus e não demorou muito para começarem a namorar e em seguida se casarem.

Ele era um pai pra mim, se preocupava com minha saúde, nunca deixava faltar nada para nós, eu o amava como pai, e amava Clara como minha irmã. Ela era mais velha e por isso andava sempre atrás de mim cuidando tudo que eu fazia para que eu não me machucasse. Também se apegou com mamãe e a aceitou como sua mãe, formávamos uma família feliz.

 Mas em um triste dia eu e Clara fomos brincar na represa, um lugar lindo onde forma um lago tranquilo para se banhar, eu ainda não sabia nadar e mamãe sempre alertava para não irmos lá sozinhas mas naquele dia nos esquecemos e fomos juntamente com outras crianças. Logo que entramos no lago não me senti bem e fui puxada pela força da água até o fundo umas duas vezes, quando subi já não tinha forças nem para respirar, me debatia e estava me afogando, Clara como era muito cuidadosa nadou até onde eu estava e me agarrou, meu corpo estava pesado pois eu estava sem forças, isso fez com que eu fosse ao fundo novamente e ela foi junto, ela lutou muito e conseguiu me tirar com a ajuda de outro menino que brincava conosco, mas ela estava cansada e sem forças então a força das águas a puxaram  e ela não conseguiu voltar. 

Foi terrível,lembro de ver as pessoas chegando apavoradas,gritando, mas nunca vou esquecer do desespero de meu padrasto chegando e chamando por Clara, jogou-se na água na tentativa de salvar ela mas já era tarde, os bombeiros encontraram seu corpo alguns metros abaixo já sem vida com apenas 14 anos.

 Eu me senti culpada e chorei muito por dias, mamãe mesmo triste se manteve forte por mim e por seu marido que estava em estado de choque e entrou em uma depressão.A partir dali que Seu Elias deixou de ser meu pai, ele nunca falou nada mas seu silêncio declarava que ele me culpava pela morte de sua filha, se não fosse por mim ela estaria viva, penso que ele desejaria que eu estivesse morrido no lugar dela.

Sempre que lembro disso é impossível não chorar, e aqui estou chorando novamente, já conversei muito com meu Jesus sobre esse acontecimento e aceitei que tudo tem o seu tempo determinado por Ele, tempo de nascer, crescer, viver e morrer, e talvez aquele era o  tempo da Clara, creio que ela está em um lugar bem melhor ao lado de Jesus e não gostaria que nós sofrêssemos assim por causa disso, então superei e aceitei tudo em meu coração, já se passou 4 anos e agora consigo lembrar sem sofrer tanto com as lembranças.

Dona Júlia ajudou Seu Elias a se levantar depois da perda da filha, acho que isso os uniu mais ainda, ele parece ter se tornado dependente dela, mas quanto a mim, ele simplesmente se afastou e passou a me tratar com indiferença, eu aceitei essas atitudes pensando que um dia Deus iria curar as feridas de seu coração e ele me perdoaria,talvez um dia realmente ele me perdoe se eu tive culpa na morte da Clara.

Chega desses pensamentos, me levantei da rede e corri pra cozinha fazer uma pipoca e um tererê bem geladinho, enviei uma mensagem pra Mari para nos encontramos na praça em frente minha casa, ela não demorou a responder e logo já estava ali gritando feito doida a me chamar, e não estava sozinha trouxe mais algumas meninas do nosso grupo ali da igreja, peguei a pipoca e o tererê e corri pra lá, antes claro que  avisei minha mãe mesmo estando em frente de casa nunca vou a lugar algum sem avisar.

* Capítulo pequeno mas não deixem de curtir e que Deus abençoe a cada um de vocês.

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