O dia começa como de costume. O despertador é o primeiro som que escuto, ainda embolado com o que quer que eu estivesse sonhando. Raramente lembro. Silencio o bendito celular e dou uma olhada, para ver se há alguma mensagem relevante. Nada. Claro. Hora de fazer aquele esforço e sair dos lençóis.
Depois de um longo suspiro, vou ao banheiro e esvazio a bexiga. Lavo minhas mãos e vou à cozinha caçar o que comer. Dizem para tomar água meia hora antes de comer, assim que se acorda, mas só lembro disso após a primeira mordida em alguma coisa. Aí, já é tarde. Deixo para o próximo dia a mudança na rotina.
Estômago forrado, vamos para o banho e escovar os dentes. Gostaria de escovar os dentes no banho, mesmo, mas não sou capaz. Já tentei, de verdade, várias vezes. Não dá. Definitivamente.
Outra coisa que só me lembro na hora em que já deveria estar pronto: escolher e separar a roupa na noite anterior. Ah, mais um suspiro longo. Quão desanimador é ser tão esquecida. Parece que vivo em outra dimensão, só que no meio dessa aqui.
Apesar de tudo, ainda estou dentro do horário previsto para sair de casa. Maravilha. Se tem algo que me irrita profundamente é estar atrasada. Hoje parece que será um dia promissor.
Vou para o ponto de ônibus, na hora exata. Sem correr. O ônibus aparece no início da rua bem no momento que me viro para observar sua chegada. Adoro quando as coisas saem do jeito que programei. Estico o braço, aguardo ele parar e subo. Normalmente é o mesmo motorista. Ele acena em reconhecimento, e eu devolvo a gentileza. Passo na roleta e sento. O bom de sair nesse horário, e não quatro minutos depois, é que consigo ir sentadinha.
Sem trânsito, chego ao trabalho rapidamente. Olho mais uma vez o relógio. Estou dentro do tempo previsto, suficiente para que eu espere pelo elevador - sempre demorado e lotado - e possa chegar calmamente à minha mesa. Posso ligar o computador e ir colocando minha bolsa no armário próximo à mesa, sentar e me acomodar.
Sinto que o dia realmente vai ser ótimo. Está tudo indo conforme o esperado. Conforme a rotina. Não poderia querer nada diferente, não é? Não... é? Claro que não, mas que bobagem.
Após algumas horas de serviço, finalmente a hora do almoço. Sempre preciso que o celular avise, com outro alarme. Caso contrário, esqueço da vida e quando vejo, não dá mais tempo de sair para comer algo. Aprendi que o despertador é um aliado magnífico, de fato.
Hoje é terça feira, então, teremos frango com milho, arroz, feijão, salada e uma sobremesa comum, a mini salada de frutas. Mini, mesmo.
Levanto confiante de minha poltrona. Após horas analisando números, tudo o que eu preciso é um bom almoço, quentinho e saboroso.
- Olá, Ana. Boa tarde. Preciso falar algo com você. Pode ser agora?
Regina. Ela estava em uma linda saia lápis, delineando seu corpo esbelto, e uma blusa branca, com mais botões abertos do que o aceitável. Mas, se o chefe não fala nada, quem sou eu?
Sento novamente em minha cadeira e faço sinal para que ela sente na cadeira em frente, vazia. Ela o faz prontamente, assim que fecha a porta.
- Bom, como você sabe, está em aberto uma vaga para a assistente do Senhor Suarez - ela faz uns segundos de silêncio, me olhando bem profundo, como se eu soubesse o que ela ia falar.
- Humm, não, eu não sabia. Como são setores diferentes, não fui informada. Mas, então, o que isso tem a ver comigo?
Ela torce o nariz em sinal de que não acreditou no que falei.
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Desejos
RomanceTrabalhar com o chefão pode se mostrar uma tarefa e tanto. Ana Borges irá descobrir que, às vezes, a rotina deve ser quebrada para que algo de bom possa aparecer.