Capítulo 6

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Enviei alguns currículos. Agora, resta cruzar os dedos e torcer por uma entrevista. Espero estar empregada em breve, não quero mexer no dinheiro das economias.

A campainha tocou.

Deve ser o Henrique. A lasanha já está quase pronta. Ele veio voando, porque sai às 18h00 e são 18h21.

"O trânsito deve tá ótimo, pra demorar só uns 20 minutos até..."

Paro de falar. Meu cérebro bugou. Não é o Henrique. Um vizinho?

"Oi. Posso ajudar?"

O homem de meia idade que estava à porta vestia um paletó, mas estava também com um chapéu que me lembrava um chofer de gente rica. Ele sorriu e, gentilmente, falou.

"Senhorita Ana Borges?"

"Humm, sim. E o senhor?"

"Meu nome é Gustavo. Sou o motorista do Sr. Suarez. Venha, ele pediu que a buscasse para o jantar."

"O que? Desculpa, mas, isso não faz sentido. Sei quem é o seu patrão, mas eu não tenho nada agendado com ele. Vai ver o senhor trocou os nomes. Está buscando a pessoa errada."

"Não. É a senhorita, mesmo. O endereço é esse. A senhorita é do setor administrativo, da empresa dele."

"Ah, viu como está enganado? Eu ERA do setor administrativo. Seu patrão me demitiu. Ontem, mesmo."

Ele sorriu outra vez. Mas vi que o sorriso chegava aos olhos dele. Senti que ele era sincero.

"Sim, senhorita. Talvez ele queira voltar atrás. Por que não desce e descobre?"

Fiquei tentada. Meu emprego de volta! Mas tem o Henrique, que está pra chegar. Ah, e eu não sou nenhum cachorro para ir sempre que esse senhor chamar. Hum.

"Olha, talvez ele queira mesmo voltar atrás. Afinal, a demissão não foi justa. Mas eu estou esperando um amigo. E, além disso, ele foi um grosso e estúpido. Que peça desculpas".

Gustavo aquiesceu, pediu licença e se retirou.

Mal tive tempo de fechar a porta e a campainha de novo. Revirei os olhos. Mas que saco! Abri com uma cara de antipatia, não deu para esconder.

"Eita, calma. Sou eu." Era Henrique. Com as mãos para cima.

"Ah, ta. Entra. Vou te contar o que houve."

Ele ouviu atentamente. Quando terminei, soltou um suspiro, balançando a cabeça.

"Olha, vai ver ele resolveu te ouvir. Talvez estivesse num dia ruim. A gente não conhece o homem. Você poderia ter ido e mandado uma mensagem pra mim."

"Não. Ele tem que pedir desculpas. Antes mesmo da armação daquela bruxa, o desgracento esbarrou em mim, colocou a culpa na minha presença e nem ajudou a me colocar de pé."

"Mas você é muito tinhosa, heim?"

Dei de ombros. Eu odeio injustiça. Sempre detestei ser acusada do que não fiz e nem uma desculpa receber.

"Vamos deixar isso pra depois. Agora, é hora da gente comer.". Parei por um instante. A lasanha!!!! Dei um pulo e corri para a cozinha.

"Criatura, o que houve, agora? Humm, cheiro de queimado.".

É. A lasanha queimou. Droga! Meus ingredientes, meu tempo e meu gás, desperdiçados. Vontade de chorar. Detesto quando a comida tem algo errado. Comida.

"Acabei me distraindo. A lasanha tá hiper seca. Desculpa, Henrique. Mas ainda tem a sobremesa. Pavê sensação. E brigadeiro de colher. Vamos pedir uma pizza e assistir o filme. Perdão."

"Relaxa. Acontece. O de sempre?"

"Sim, por favor".

Enquanto ele liga, eu pego o controle e procuro o filme. Pulp Fiction. Fizemos uma lista de filmes para assistir e esse tá como o próximo. Eu já assisti, mas faz muito tempo.





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