Dito e feito. Estou aqui, esperando O Intragável. São 6h da manhã. E ele vai aparecer, uma hora ou outra. Acredito que entrará pela porta principal, como ontem.
1h depois e nada desse homem. Mas como assim? Ah, não. Não pode ser.
"Tá esperando alguém?"
Aaaah, que susto! Henrique. Praga.
"Estou esperando o Sr. Suarez. Quero esclarecer o que aconteceu. Você sabe que não foi culpa minha. Eu te contei tudo, ontem."
"Bom dia para você, também! Então, não acho que valha a pena. Ele não me parece um cara muito aberto. Você tá perdendo tempo." - ele levanta as mãos para que eu não o interrompa - "Melhor você ir pra casa e se preparar para procurar outro emprego. O país não está fácil. Melhor você ir.".
"Mas é injusto, Henrique. É muito injusto! Eu quem vou ter que procurar emprego, enquanto aquela vaca tá lá, mostrando os 100 dentes dela e rindo de mim! Não fiz nada para ela. Por que ela faria isso?"
"Tem gente que gosta de fazer mal. Só isso. Uma hora a verdade aparece."
Ele me olha profundamente com seus olhos castanhos. São como duas canecas de chocolate quentinho. Henrique é charmoso, o sorriso de lado e os cabelos escuros e baixos dão um toque final. A pele é bronzeada, meio dourada. O porte também conta, ele é alto, quase como o Sr. Suarez e bem forte.
"Vai dar tudo certo. Tá bem? Vai pra casa."
Solto um suspiro. Talvez ele esteja certo. O homem nem vai ne ouvir.
"Passa lá em casa, depois. Vamos pedir algo para comer e assistir Netflix."
"Pode deixar, Aninha.". Um beijo na testa e lá se vai meu amigo. Melhor pessoa.
Passo no mercado, compro umas frutas, uns ingredientes para uma bela lasanha e, claro, sobremesa. Quero brigadeiro. Socorro. Preciso.
Chego em casa e ela está vazia. Como sempre. Meus pais faleceram quando eu entrei na faculdade. Acidente de carro. Eles iam aproveitar o fim de semana na praia. Eu estaria junto, se não fosse um trabalho que precisava entregar na semana seguinte.
Carlos, meu pai, era um homem de seus 50 anos. Cabelos rajados de branco, mas como era bem loiro, não se notava muito. Olhos azuis. 1.76m de altura. Estava muito bem para sua idade. Raquel, mamis, era um jovem senhora de 44 anos. Esbelta na juventude, ganhou uns quilinhos com a idade, mas sua postura não mudou nadinha. Era muito elegante. Sempre sorrindo e via o lado bom em tudo. Uma otimista. Dizem que me pareço com ela. Olhos e cabelos castanhos. Esses, um pouco avermelhados ao sol. Pele pálida, como se me faltasse sangue. Mas eu to saudável, gente. Sou 1cm mais alta, com 1.66m.
Pensar neles me deixa meio para baixo, porque primeiro eu fico feliz em lembrar dos pais maravilhosos que tive. Depois, triste, por eles não estarem mais aqui. Nessas horas, eu estaria com minha mãe, choramingando e ela dizendo que as coisas iam melhorar. E me fazendo algum mimo comestível, sem dúvidas.
Graças às economias deles, eu pude terminar faculdade e me manter até conseguir um emprego bacana e dar conta de mim mesma. A casa foi vendida e comprei esse apartamento de 1 quarto. O resto, guardei na poupança.
Enxugo as lágrimas. Nada de chororô. Vamos preparar essa lasanha porque o dia não pode ficar ruim. Não mais do que já tá, né. Enquanto a gracinha está descansando, do jeito que mamis ensinou, vou procurar emprego nos aplicativos e sites.
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Desejos
RomansaTrabalhar com o chefão pode se mostrar uma tarefa e tanto. Ana Borges irá descobrir que, às vezes, a rotina deve ser quebrada para que algo de bom possa aparecer.