- Tempo de espera é de uma hora.
Henrique sentou do meu lado, no sofá. É tão bom ter um amigo de verdade. Nos damos super bem, dificilmente brigamos, ele geralmente está disponível quando preciso. Amigo de ouro.
Mais uma vez, o som estridente da campainha.
Mas não é possível. A pizza não é, mesmoo.
"Deixa que eu atendo".
Viu? Amigo.
Não consigo ver quem é, pois a parede fica bloqueando. Mas ouço vozes. Masculinas.
Levanto, mas nem dou dois passos e quem eu vejo ali quase me faz tombar.
-Sr. Suarez? O que faz aqui?
Ele parece furioso. Dou um passo para trás.
-Estou esperando a senhorita há quase 40 minutos. Tem idéia do quanto isso é irritante?
Esperando? Ue.
-E está esperando por qual motivo? Eu deixei bem claro que não iria a lugar algum. Não com você.
Ele aperta os lábios, fecha os olhos e parece contar mentalmente.
-Eu não a convidei, senhorita Borges. Eu disse que iríamos jantar. Sou seu chefe.
Engasguei. Tive que rir.
-Meu chefe? Se bem me recordo, fui demitida ontem. Hoje já até recebi a minha rescisão. E, daqui a dois dias, vou assinar a homologação, fazer o exame... Você não é meu chefe. Não manda em mim. E, na sua empresa, pode se achar o rei, mas está no MEU apartamento, e quem canta de galo aqui sou EU!
- Mas é uma desaforada! Deveria me agradecer por dar uma oportunidade a uma atrevida, como você. Queria ouvir sua versão do "cheguei na hora" - falou essa parte fingindo me imitar - mas agora...
- Agora o que?
- Vá se trocar. Eu vou esperar mais 20 minutos.
Devo ter ficado um peixe fora d'água, tentando respirar. Ele ainda está dando ordens!
- Qual parte do "você não manda em mim" não ficou clara? E, ainda tem mais, eu tenho visita. Não notou?
Henrique pareceu surpreso ao ter a conversa virada para ele.
- Ah, eu? Nã...
- Seu namorado não vai deixar a querida dele sem aproveitar a oportunidade de reaver o emprego, certo?
- Não, claro que não.
Boca aberta de novo. Não somos namorados. Henrique está sorrindo. Estou vendo! Patife.
- Ótimo. Você tem quinze minutos.
Aproveitando do meu momento de atordoamento, o meu amigo segura a minha mão e me leva para o quarto.
- Anda logo! Quinze minutos!
- Não vou a lugar algum. Esse cretino...
- Chega! Você pode reaver seu emprego. Não vai trabalhar diretamente com ele. Vai ser como se nada tivesse acontecido! Você nunca havia falado com ele antes. Vai continuar assim. Entendeu? Chega de ser tão orgulhosa e turrona!
- Tá! Ok. E que ele n me teste muito.
Coloco uma calça jeans, ums sapatilha preta e uma blusa preta básica. Um colar, brincos. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo. Ótimo. Ele não merece mais do que isso.
Ao sair para a sala, vejo O Indesejável olhando minhas fotos da parede. Fotos de meus pais, de nossas viagens. Fotos de quando eu era pequena.
Pigarreio.
Ele se vira, olha o relógio e vai para a porta.
- Pode passar. Vamos logo.
Dou um beijo em Henrique e vou para um jantar que, pelo visto, tem tudo para não ser agradável.
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Perdão pela demora. Meu gatinho estava doente e acabou falecendo. Eu não estava com cabeça para terminar de escrever o capítulo.
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Desejos
RomanceTrabalhar com o chefão pode se mostrar uma tarefa e tanto. Ana Borges irá descobrir que, às vezes, a rotina deve ser quebrada para que algo de bom possa aparecer.