Descemos em silêncio pelo elevador. Estava tentando controlar meu gênio, porque a vontade de voltar para o meu apartamento e mandar aquele homem se lascar era muito grande.
Ele abriu a porta do carro, um Bentley. Não sou muito conhecedora de carros, mas um personagem de um livro usava essa marca de carro, então fui ver qual era. Só assim, mesmo. Carro de gente rica.
Entrei, ele fechou a porta, deu a volta no carro e sentou no assento do motorista. Ah, ele iria dirigir.
-Onde está aquele senhor que foi bater na minha porta? Senhor Gustavo, certo?
-Dei folga. Hoje, eu vou dirigir. Algum problema? - perguntou ele, com uma falsa educação.
-Não, nenhum. Por que teria? Só curiosidade, mesmo.
Ele resmungou algo que não entendi e deu partida. Eu não perguntei mais nada. Quanto menos falarmos, melhor.
Eu estava imersa em pensamentos sobre o que ele queria falar comigo e nem percebi quando o carro parou.
-Vamos.
Sai do carro e vi um belo restaurante. Varandinha, algumas pessoas comendo ali fora, mas mesmo sendo local aberto, era reservado. O ambiente tinha aquelas luzes, estilo pisca-pisca, dando um ar misterioso e romântico. Muito bonito. Eu seguia o Sr. Suarez e adentrei a construção. Mais linda ainda. Mesinhas espalhadas pelo salão, não eram muitas, dando um bom espaço entre uma e a outra. Mesas redondas, com toalha branca, iluminação baixa, uma rosa bem no centro, dentro de um vasinho transparente (acho que vidro, não sei).
Fomos levados a uma mesa ao fundo, longe de tudo. A mais reservada, percebi. Sentei e recebi o cardápio. Preto, capa feita do que parecia ser couro, as pontinhas douradas. A variedade de pratos não era muito grande, tinha carne, peixe, frango e frutos do mar, mas pouco de cada coisa. Massas e risotos. A carta de vinhos era em separado.
-Então, sobre o que queria falar? Na verdade, O QUE queria falar, afinal, o senhor disse que o assunto seria a minha recontratação.
-Poderia escolher o que vai comer, por favor? Ficará mais agradável. Estou com fome.
O humor dele não era dos melhores. Eu entendia, afinal, eu também estava com fome. Henrique ficaria com a pizza só pra ele. Voltei a pegar meu cardápio.
-Nossa, os preços daqui são muito salgados. Não posso pagar por isso.
Ele olhou por cima do cardápio.
-Eu vou pagar. Não se preocupe. Agora, escolha logo o seu prato.
Ai, credo. Tá bem. Olhei novamente e optei por um fettuccine ao molho Alfredo e uma carne vermelha. Eu olhei para o Raviolli, mas uma garçonete passou com um na mão e vinha muito pouco. Detesto miséria na comida.
Ele chamou uma das atendentes e fez os pedidos. Não me consultou quanto ao vinho, apenas pediu uma garrafa de tinto. Eu pedi um suco de laranja.
-Bom, a senhorita me informou, no dia da sua demissão, que estava lá na hora certa. Eu não acreditei, mas chegou até mim um vídeo da sua conversa com minha secretária, após nosso encontro. Pedi as câmeras, depois disso. Realmente, a senhorita não se atrasou.
Ele falou muito sério. Suas mãos estavam cruzadas em cima da mesa e ele me olhava, esperando uma resposta.
-Eu não mentiria. Jamais mentiria dessa forma.
-Mas como eu saberia? - ele suspirou - Eu estava com a cabeça cheia. Acabei ignorando o fato de que a senhorita poderia estar falando a verdade, e acabei por demiti-la. Acredito que a sua malcriação tenha sido por conta da injustiça feita, por isso, estou passando por cima dela e lhe readmitindo na empresa.

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Desejos
RomansaTrabalhar com o chefão pode se mostrar uma tarefa e tanto. Ana Borges irá descobrir que, às vezes, a rotina deve ser quebrada para que algo de bom possa aparecer.