❂ twenty eight ❂

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Por mais que nervoso, Jisung esqueceu todas aquelas pessoas quando escutou o tiro. Esqueceu os haters, a torcida e até mesmo os amigos. Lembrou do discurso de Mark meia hora antes, mas logo o esqueceu. Pois algo em seu corpo renasceu, e ele deu o melhor de si.

Com toda a sua adrenalina, Jisung Park estava a todo vapor naquela pista de atletismo. Não escutava nada, não via ninguém. Era apenas ele naquela pista, como nos treinos que se forçava a fazer depois das aulas. Queria quebrar o próprio recorde, queria ser melhor que sua versão anterior. E com aqueles passos, logo conseguiria.

Não olhava para o lado, se comparar iria lhe atrasar e lhe atrapalhar. Para frente e além, era o seu lema. Não podia desistir, não podia fraquejar. Olharia na cara de todos que o julgaram por ser gay e diria: "Com ou sem a sua opinião, eu consegui. Sendo gay ou não, eu consegui. Você não pode mudar isso, ninguém pode."

Jisung se sentiu o Flash, pois quis acreditar que era. Sempre acreditou que tudo o que acreditamos com todas as nossas forças se torna real. E se o seu real significa virar o Flash (olha lá, bem melhor que Barry Allen), Jisung deve ter virado. Porque ele correu o mais rápido que pôde, e ele chegou ao limite da pista e escutou a torcida vibrar.

Enfim, pôde parar e se inclinar para respirar. Quando levantou o corpo, bateu palmas para quem tiver sido o vencedor. Então percebeu que todos os olhares estavam sobre ele, o real vencedor. Os outros participantes lhe parabenizaram, houve troca de apertos de mão e um grito do narrador.

Jisung era vencedor regional. E agora teria de subir ao pódio e receber a sua medalha de ouro.

Não parava de sorrir, inclusive quando estouraram confetes perto de si. Depois do hino, subiu num pequeno palco improvisado e limpou a garganta. Não ensaiou a fala, pois estava muito nervoso e Mark havia falado quase tudo o que poderia falar, sobre LGBT e tudo mais. Limpou a garganta e segurou a sua medalha mais forte. Aquele momento era dele, e estava se sentindo feliz em estar sendo fotografado para o jornal e revistas de esportes locais.

— Eu... Só tenho a agradecer. À todos vocês, de verdade. Sem vocês, sem o incentivo de vocês, nada disso teria dado certo. Eu realmente me sinto bem agora, por saber que fui capaz. Independente de quem sou, do que sou ou faço; eu consegui. E mesmo se eu fosse mulher, fosse negro, índio, e mesmo assim sendo gay; eu teria conseguido. Sabe o porquê? Porque todas essas sub-raças que o ser humano criou, toda essa diferenciação que insistimos em criar; tudo isso é rótulo. Nada disso define quem somos e o que fazemos ou somos capazes de fazer. Eu sou gay, e isso não é contra a lei. Eu nunca fiz mal a ninguém, e sinto muito por estarem sofrendo por algo que não depende de vocês. — fez uma pausa — Acho que... Se gosto ou não do meu sexo oposto não me define em nada. Eu ganhei em primeiro lugar, e nem eu pude acreditar nisso. Quero parabenizar os participantes, que correram tão bem e... Caramba, eu realmente me sinto honrado em ter corrido com todos aqueles talentosíssimos atletas e que foi muito difícil para mim porque... Tudo foi levado a sério e eu pude ver o talento de cada um deles. E se ganhei, não foi porque eu gosto de garotos. Foi porque eu sou ser humano, independente da minha homossexualidade de nascença, e não uma coisa que "me tornei." Eu nasci assim, gente, e não há cirurgia nenhuma que "corrija" isso. — Jisung fez as aspas com as mãos e sorriu, esperando os aplausos cessarem — Então... Obrigado à todos. Foram muito importantes para mim.

Jisung então se lembrou de quando estava prestes a dormir no dia anterior e recebeu uma ligação de Renjun lhe fazendo uma aposta. Segundo ele, se Jisung ganhasse, teria de fazer um aegyo no final do discurso na frente de todo mundo. Como Jisung precisava de dinheiro, ergueu as mãos próximas ao rosto e tentou fazer um aegyo. Concluiu que deu certo, pois todos gritaram e fizeram barulho.

— Esse é o meu macho... — comentou Mark consigo mesmo.

— Ai, que alívio! Meu cu 'tava suando já! Graças a Deus eu não precisar virar hétero, senhor! Amém! Uhul! É isso aí, Jisung! — Renjun suspirou de alívio e aplaudiu o amigo.

Sun Boy ❂ MarksungOnde histórias criam vida. Descubra agora