- Posso saber o motivo de seu bom-humor? – Merriam percebeu o brilho nos olhos e o sorriso discreto de Catherine, assim que ela entrou em seu ateliê pela manhã.
- Não é nada. – Catherine pegou uns metros de seda que havia cortado na noite anterior e fingiu medi-lo para não olhar a condessa nos olhos.
- Não finja que não é nada. Pois sei bem o que essa expressão significa. Acho que tive ela em alguns dias quando o conde ainda era um bom marido. – As bochechas de Merriam coraram.
- Eu já disse que não foi nada. – Catherine se atrapalhou e acabou por derrubar alguns carrosséis de linha no chão.
Colocou a seda de lado e foi atrás dos malditos que rolaram por todo o ateliê.
- Viu, não adianta mentir para mim. Acaba se entregando sem ajuda. – Merriam cruzou os braços e torceu os lábios.
- Não tive uma boa noite com o rei. Ele estava bêbada. Mas tive uma noite bem dormida. – Catherine ajeitou os carrosséis no lugar.
- Ah, só isso! – O sorriso desapareceu do rosto da condessa.
- Imaginei que me contaria histórias libidinosas e sem pudor que me deixariam morrendo de inveja.
Catherine gargalhou ao se apoiar sobre a mesa.
- Imaginei que me jugaria como fazem todas as outras senhoras desse castelo. A meretriz que passa noites de luxúria com o rei.
Merriam bufou.
- Quantas vezes precisarei lhe dizer que muitos desses olhares atravessados são de pura inveja? Isso só deixa óbvio que cresceu em um convento. – A condessa olhou para a janela onde vinha o sol suave da manhã e suspirou. – E eu aqui imaginando apenas como seria o belo rei entre minhas pernas.
- Merriam!
- O que foi? Também tenho direito de sonhar.
- Irá para o inferno por luxúria junto comigo.
- Será um lugar agradável em sua presença.
Catherine balanço a cabeça em negativa e pegou um veludo grosso para cortá-lo no molde feito pela condessa.
A conversa a fez pensar na noite anterior, no encontro com o lorde Oxe e na forma como ele havia lhe mostrado uma sensação desconhecida. Não deveria ficar pensando nisso, pois Frederick não lhe oferecia isso e era ao rei que deveria servir. Podia continuar vivendo sem o que Peder provocava. Assim ia se manter viva, confortável e segura.
- Aí! – Deu um gritinho agudo quando cortou o dedo com uma lâmina afiada.
Merriam largou seu bordado de lado e foi ver o que havia acontecido.
- Por Deus, menina! Precisa tomar cuidado. O que direi ao rei se a amante dele perder um de seus preciosos dedos em meu ateliê.
- Não seja tão dramática. – Catherine cobriu o dedo com a outra mão para estancar o sangramento.
- Sente-se ali. – A condessa apontou para uma poltrona ao lado do biombo, usando um tom autoritário que poucas vezes dirigiu a cortesã. – Hoje irá apenas assistir.
- Mas...
- Sente-se lá.
Com um bico enorme a cara emburrada. Catherine cruzou os braços e fez o que lhe foi pedido.
- Peder, ouviu alguma coisa do que eu disse? – Frederick bateu com as duas mãos na mesa tentando chamar a atenção do lorde que nunca lhe pareceu tão aéreo.
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A cortesã do rei ( Degustação)
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