Consertando as falhas

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_Eunão quero isto! – Lourdes atirou o copo de vitamina C longe. O líquidoespatifou-se ganhando propriedades de vidro. Na parte branca da cozinha ficaramas marcas da birra que a menina aprontava.

A atitude causou espanto em Lucrécia. As faces de Juliano estavam ruborizadas e ele respirava fundo. Lucrécia sabia que aquele gesto enclausurava a raiva que Juliano estava sentindo.

Tinham feito com o outro um acordo, que os impossibilitava de tomarem a dianteira da educação da menina, sem que para isto tivessem dialogado bastante antes.

_Lourdes, você não pode fazer isto – Disse Lucrécia com a voz alta e firme.

O cenho da garota se fechou à medida que suas mãos guardavam-na contra as reprimendas.

_Eu já disse que não gosto dessa bebida.

Juliano sabia que Lourdes era uma boa menina. Sabia também que ela não seria um anjo todos os dias, mas ainda a amava. Temia que pelo excesso de sua bronca a menina voltasse a se retrair como nos primeiros dias em que chegou definitivamente, para morar nas suas casas.

O casal estava tendo dificuldades para sintonizar as responsabilidades de pais e vencer a timidez que sentiam como pessoas seminovas da vida da garota.

Também somava a isso as dúvidas sobre a repercussão de uma educação mais rígida. Não podiam permitir que Lourdes crescesse sem conhecer os importantes limites, que só a boa educação podia dar as crianças.

Juliano tinha um amigo íntimo chamado Marcos. Esse seu amigo tinha um filho de uns dez anos. Vendo agora Lourdes ali descabelada pela semiconsciência do sono lembrou-se deste filho de Marcos.

O menino era gordinho e carrancudo, mas o que mais chamava a atenção era o excesso de mimos que o garoto recebia. Uma noite ao visitar o amigo para tomar umas geladas, viu que o garoto emancipava-se dos cuidados paternos, com os papariques de um pequeno imperador.

Aquela situação havia ficado na cabeça de Juliano.

Esse não era o tipo de pai que ele gostaria de ser.

_Chega Lourdes! Obedeça à sua mãe.

Nenhum dos três moradores daquela casa tinha tido até então a consciência do primeiro obstáculo que enfrentavam juntos como uma família.

Mãe.

Sim, era o que Lucrécia era.

O mais cômico de tão simples naquela cena matinal, era que a menina parecia não ter se atentado ao detalhe da declaração.

De certa maneira isso tocava Lucrécia de um modo ainda mais extraordinário. Lourdes já se sentia como parte da vida do casal, de modo que aquele estranhamento diante da palavra Mãe representava apenas um medo sem fundamento que lhe assombrava a cabeça, nas noites de insônia.

_Isso que você fez foi errado Lourdes – prosseguiu Juliano. – Estamos fazendo isto para o seu bem e esperamos que você tenha no mínimo uma boa educação. – rapidamente se acendeu uma ideia ótima na cabeça de Juliano de modo que ele encurralou a garota – Você gostaria que eu ou sua mãe agíssemos assim?

Desta vez estas palavras atingiram Lourdes. Ela se lembrou de sua outra mãe, das vezes em que Maria chegava a casa e era grosseira com ela, tão grosseira...

Lourdes desvaneceu para dentro de si de modo tão automático que foi impossível a Juliano não sentir o efeito amargo do peso de suas palavras.

Foi aprofundando-se no olhar para a menina, não encontrando respaldo no rebatimento dessa encarada.

_Lourdes o que foi? Disse Lucrécia se aproximando.

_Eu não quero ser assim...

Lucrécia não entendeu o que Lourdes dizia.

_ Assim como, meu bem?

_Assim agressiva...

Juliano olhou para sua esposa compreensivamente.

_Nós não achamos que você é assim querida – falou ele.

A menina agora, já lhe revidada o olhar._

_Vocês ainda gostam de mim?

Juliano chegou para próximo dela, sentindo em seu coração um forte aperto.

_Nós sempre vamos amar você, você é a nossa filha.

As pupilas sempre pequenas da garota, que se adaptavam tão bem aos contrastes de sombra e luz, foram instantaneamente se alargando, dando vazão aquela onda de emoção amorosa que lhe transformava a face; antes de birra; depois de preocupação; e finalmente uma face que era a representação sincera da alegria que sentia.

Ela não seria uma boa menina sempre, porque simplesmente estava em um processo de amadurecimento que dependia fortemente de um apoio externo. Este apoio que encontrava em seus pais adotivos.

E estava tudo bem.

Não existiam culpados, só existia e havia o amor.

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⏰ Última atualização: Nov 06, 2017 ⏰

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