Minha respiração está suave, meus pulmões estão cheios e eu consigo escutar o sangue do meu corpo fluir calmamente, tudo se silencia e cada vez mais a água me leva para baixo até uma mão grande e forte me puxar para fora das águas. O ar volta aos meus pulmões e eu o engulo rapidamente, várias e várias vezes, logo começando a tossir e jogando tudo para fora. Como estou viva? Quem me tirou de debaixo da água? Quem diabos me salvou?
Não chove tanto como antes, mas ainda cai água do céu, só que em quantidades menores. Olho ao redor ainda tossindo e limpo os olhos para ver algo pálido parado perto de uma árvore, estreito os olhos, pois parece que vejo uma luz, então tenho que coçá-los pelo menos umas duas vezes para ver que é apenas um garoto.
— Então foi você? Seu idiota! — ando até ele com toda a raiva do mundo, mas antes que possa empurrá-lo me abaixo descansando as mãos em meus joelhos e volto a tossir, minha garganta arde.
— Por que... fez isso? Eu estava quase lá, não acredito que me parou!
Exclamo ainda tossindo e volto a chorar desesperada. Eu não consegui! Eu sei que eu realmente não queria morrer, mas ter chegado tão perto, ter sentido o alívio naquele momento e saber que tudo poderia ter acabado ali me deixa ainda mais chateada. Só que eu deveria saber que não é tão fácil assim fugir do inferno. Levo a manga do moletom até boca e puxo entre os dentes me virando de costas para o estranho, não quero que um desconhecido me veja chorar.
— Eu salvei a sua vida, você deveria me agradecer ao invés de ficar reclamando, sua maluca!
— Acontece que, eu não queria ser salva! Você não pode salvar alguém que não quer ser salvo!
Grito de volta para ele e me encolho quando um raio rasga os céus, acompanhado de um trovão barulhento. Olho para o rapaz alto que ainda tenta tranquilizar sua respiração enquanto encara o chão e nego com a cabeça. Nunca o vi, nem ao menos sei quem é.
Envolvo meus braços a volta do meu corpo, ando até a margem do grande lago e me sento na borda do mesmo e, em menos de um minuto, o branquelo está ao meu lado, acho eu que pensando nas palavras certas à se dizer quando se interrompe um suicídio, no entanto, não tem o que ser dito. O que ele poderia dizer? Mentir dizendo o que sempre todas as pessoas dizem? Que vai passar e vai ficar tudo bem e amanhã será um dia melhor? Não, com certeza não é isso, pois essa vontade de acabar comigo é constante, tão constante como a necessidade que tenho de respirar. As pessoas acham que ajudam, e talvez, façam o seu melhor, mas elas não podem fazer nada e não podem dizer nada, pois não irá mudar coisa nenhuma. A vontade de acabar com a própria vida sempre estará lá e eu não consigo entender o porquê ele me salvou quando sabemos que será exatamente igual a todos. Mas o quê estou esperando? Ele não é o salvador.
— Por que fez isso? Por que me salvou? — o interrogo após longos minutos, um pouco mais calma e ainda tossindo. Parece que continuo dentro da água e ela está dentro de mim.
— Porque não é certo que as pessoas se matem. Isso é errado, muito errado! Com o que estava na cabeça quando pensou em se jogar dali? — ele pergunta de forma nervosa e rápida. Viro-me para olhá-lo e tentar entender o porquê está falando dessa forma comigo quando nem nos conhecemos e ele não me respondeu da forma que esperava. Com certeza não é mesmo o salvador ou qualquer merda dessas. Eu sou incrivelmente patética, desesperada e muito fútil por depositar esperanças sobre um qualquer que eu não sei nem o nome.
— Não lhe interessa. Só para de se intrometer na vida dos outros! — levanto, caminho até o lago e volto a me jogar na água em uma tentativa de calar a porra dos meus pensamentos que insistem em falar todos de uma vez. Bato em minha cabeça com as mãos e vou empurrando minhas pernas entre as águas que estão pesadas devido ao jeans. Mergulho e o silêncio volta, então fico ali e eu juro que se esse menino vier aqui ele vai morrer também. Entretanto, segundos passam logo formando-se em minutos, longos segundos e nada dele vir atrás de mim e me tirar da água, então decido me fingir de morta. Abro meus braços e pernas, deixando o rosto submerso e meu corpo começa a boiar e mesmo assim nenhuma mão me puxa, me salva ou me tira dali.
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• My Angel • || Daniel Sharman ||
Teen FictionO que pode acontecer quando um anjo é enviado à Terra para cuidar de uma menina rebelde? Daniel foi mandado à Terra em uma missão, cuidar de Aspen, resolver seus problemas e mantê-la viva. Em troca ele receberia um grande par de asas e se tornaria u...