5

101 8 6
                                    

Aspen

Depois das compras com Daniel voltei para casa, diretamente para meu quarto para ser mais exata, para me arrumar, pois iremos para a balada daqui a pouco. Daniel havia dito que nunca fora em nenhuma e eu realmente não consigo acreditar em nada que ele me fala, é muito inocente para um garoto e garotos não são inocentes. Nenhum deles.

Sento em minha cama, olho para minhas botas brilhantes e bufo pesado. Há alguns minutos eu estava tão feliz e contente, rindo e sorrindo com o garoto da casa ao lado e agora estou aqui encarando meus próprios pés dentro de meu quarto. Não sei... é como se essa casa não fosse mais minha. É possível sentir isso? Sentir que não faço parte da casa a qual nasci e cresci? A casa a qual carrega lembranças demais em suas paredes e portas? No entanto, talvez tudo seja uma questão de pertencimento. Para pertencer a um lugar você tem que sentir que faz parte dele e eu não sinto mais que faço parte de nada disso aqui. É como se eu só tivesse sido colocada na vida dessas pessoas, mas, certamente, não deveria estar aqui. É como se eu fosse uma intrusa e eu sinto que se não estivesse aqui, nada, nada mesmo mudaria e, é horrível essa sensação. Sentir que você não pertence a canto nenhum.

Bufo outra vez. Odeio ficar sozinha no silêncio, pois a minha mente começa a fazer muito barulho e começo a perceber o quão bosta tudo é e novamente aquela vontade, constante, de acabar comigo mesma vem. Me sinto sozinha, às vezes idiota e infeliz. Muito infeliz, mas gosto de pensar que não estou totalmente sozinha porque uma grande parcela da população também se sente tão vazia e morta quanto eu e, de uma forma terrível, isso me alivia um pouco. Pensar que não sou a única pessoa que não aguenta mais estar viva e ser obrigada a viver, pensar que não sou a única desesperada para fazer com que as dores se vão, o zumbi ambulante cansado de tudo, me alivia.

Caio para trás na cama e agora encaro o teto de meu quarto que está com um pôster grande da cantora Avril Lavigne pregado com fita adesiva vermelha. Comprimo os lábios olhando para o lindo rosto de Avril e reviro os olhos sentindo algo horrível crescer em meu peito.

— Por que estou me sentindo assim, Avril? Estava tão bem instantes atrás.

Continuo olhando para o pôster como se esperasse que o papel me respondesse, quando sei bem que isso não irá acontecer. Entretanto, a resposta vem e consigo ver que estou assim porque consegui me divertir com Daniel, o qual é um estranho, e quando se trata de minha mãe, não tenho nem palavras para direcionar a ela. Às vezes as pessoas que estão de fora são melhores do que as que estão dentro de sua casa.

— É isso mesmo, Avril. — Respondo acreditando que fora ela que colocou essas coisas em minha mente e continuo a encarando. Não posso me permitir ficar assim, sairei com Daniel daqui a pouco e eu preciso estar preparada para fazer com que a noite dele seja legal. Ele tem que ver o que perdeu esse tempo todo. Então, levanto da minha cama, mando um beijo para o pôster, agradecendo, e vou até meu guarda-roupa procurar uma roupa para vestir.

O que usarei?

Jogo tudo o que tenho no chão e entre todas as roupas pretas tento encontrar algo bom para vestir hoje à noite, mas tudo parece saturado. Eu já vesti inúmeras vezes tudo o que tenho e preciso de algo novo, mas não tenho nem um Cent para comprar, então terei que achar algo por aqui.

— Por que caralhos eu só tenho roupas pretas?

Grito e chuto as roupas, logo me abaixando novamente e pegando o que costumo vestir: jaqueta, blusa larga e meias. Nada novo.
Então pego o que vestirei e deixo sobre a cama, apanho minha toalha em seguida e vou para o banheiro tomar um banho. Já são quase nove da noite e eu preciso começar a me arrumar logo se quiser estar pronta até às dez, por isso tomo um banho rápido e depilo a perna pelo menos uma três vezes, hidrato o cabelo em menos de meia hora. Assim que termino vou para o quarto e visto a roupa que separei, e se não bastasse coloco uma cinta-liga em minha perna esquerda, por cima da meia. No cabelo faço algumas ondas bem definidas e na parte da maquiagem algo bem preto, do jeito que gosto: não dando nem para ver o azul dos meus olhos por conta da sombra preta.

Paro de olhar para mim mesma no espelho, porque por incrível que pareça estou me amando agora, e saio às pressas de casa quando vejo que já são quase dez e meia.
Corro pela porta da frente e quando darei a volta para entrar no quintal ao lado vejo Daniel parado na calçada em frente à minha casa.

— O que está fazendo aí?

— Esperando você?

Ele retruca com ironia e eu sorrio sem mostrar os dentes. Acho que o garoto sente que foi um pouco rude e tenta se desculpar logo depois, dizendo:

— Anh... eu quis dizer que... você marcou às dez e meia, então estava esperando você. Desde às dez.

Arqueio as sobrancelhas, não me importando muito se ele foi grosso ou não, e me pergunto qual o problema dele. Por que ele simplesmente não bateu na porta e ficou me esperando em minha casa?

— Anh... então, me desculpe por tê-lo feito esperar por vinte minutos.

Ando a passos lentos até ele e enquanto me aproximo faço uma avaliação rápida, o olhando dos pés à cabeça. Ele está usando o que compramos hoje e está bem bonito.

— Essas roupas caíram bem em você.

— Obrigado.

— Vamos arrumar uma xoxota para você fácil, fácil.

— O quê? — ele dispara e eu rio alto. Caminhamos alguns minutinhos até que paramos em uma avenida e aí chamamos um táxi.

— Não sei o que aconteceu com você a sua vida inteira, mas normalmente os pais levam os filhos para uma casa de shows ou algo do tipo e dão uma mulher para ele, para que ele perca a virgindade e blá-blá-blá. Já vi isso em filmes e apesar de achar isso idiota, hoje serei seu pai.

Bato em seu ombro de leve e rio baixo por perceber a sua tensão. Os ombros largos dele estão duros e tensos.

— Eu não preciso disso. Não podemos só dançar? Já é o bastante para quem nunca nem beijou.

Me aproximo do ouvido dele, para que o taxista não escute, e digo baixo:

— Quando você estiver gozando, você me fala o que acha, okay?

Daniel praticamente pula no carro e olho para mim como se eu tivesse dito as coisas mais absurdas que existem no mundo. Oh, meu Deus, esqueci como virgens se envergonham quando se fala de sexo. Sorrio para ele e apenas direciono meu olhar para a janela, deixando o rapaz de olhos claros com sua indignação.


Oi, cá estou eu depois de um ano! Sei que está ruinzinho mas fiz só isso para no próximo capítulo voltar para o ponto de vista do Daniel e eu prometo que vai melhorar (pelo menos espero que sim). Até sábado, porque prometo que vou escrever. Beijo, fantasmas.

• My Angel • || Daniel Sharman ||Onde histórias criam vida. Descubra agora