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Sabe aquele momento crítico em que você está com tanta vergonha que só quer que um buraco apareça para você enfiar sua cabeça? É exatamente o que quero agora.

Quando a porta é aberta e Marta entra com as mãos cheias de sacolas, minha primeira reação é empurrar a mão de Daniel e levantar do sofá para abaixar o vestido.

— Vejo que já se conheceram.

Ela solta timidamente com um sorrisinho e Daniel se mexe desconfortável no sofá logo dizendo:

— Nos conhecemos em uma situação bem diferente, pode acreditar.

Suspiro baixo e coço levemente a nuca. Que situação fodida!

— Tia, peguei uma pomada sua. Espero que não tenha problema — Daniel tenta puxar assunto outra vez assim que um silêncio instantâneo se desenrola pela sala, em uma esperança de fazer o momento de instantes atrás desaparecer.

— Não, nenhum. — Marta responde ainda ao pé da porta, olha entre nós e vai para a cozinha, então olho para Daniel e estendo a língua logo dizendo que falei que não haveria problema, o mesmo rola levemente os olhos e eu caminho até a cozinha para encerrar o assunto. Sento em um dos bancos do balcão da cozinha italiana e apoio os braços sobre a pedra de mármore gelada.

— Vim aqui por ver a luz do quarto de Peter acesa. Achei estranho e quis saber se havia acontecido alguma coisa. Está tudo bem?

Quando menciono o nome de Peter, olho para Marta com cautela e estreito um pouco os olhos, pois sei que é insensível falar dele, porque todos sofremos quando aquilo aconteceu.

A mulher de cabelos escuros continua neutra e olha para mim antes de colocar uma caixa de café na parte de cima do armário.

— Está tudo bem, querida. Obrigada pela preocupação, mas é só o Daniel. Ele estava com problemas em casa, então o chamei para vir morar comigo e como só temos dois quartos, ele ficou com o de Peter.

— Fico feliz que passou por isso, mas... — olho para as minhas unhas e comprimo os lábios, logo levando o mindinho até a boca e tirando a pele do lado, depois levanto o olhar para Marta e sussurro: — Nunca me falou sobre ele...

Marta nunca havia me falado que tem um sobrinho tão jovem e ela sempre me fala muito de sua família, que é bem pequena e ficou ainda menor depois da morte do seu único filho e nunca mencionou nenhum Daniel. Não que eu lembre.

— Tem certeza? Acho que falei, você que não lembra.

— É... talvez tenha falado.

Sorrio pequeno sem mostrar os dentes para disfarçar e dou de ombros. Acho que eu estava pensando em outra coisa enquanto ela falava, com certeza era no Zedd e em como ele é um idiota ou em como eu iria fazer para que reatássemos. Esses eram dois pensamentos constantes que se passavam em minha cabeça, mas que com certeza não pensarei neles outra vez. Não quero mais voltar com ele. As últimas cem vezes já foram o suficiente, embora eu ainda tenha um pouco de fé que ele possa mudar, mesmo que ele tenha agido como um animal da última vez.

Acordo dos meus pensamentos com barulhos de panelas e balanço a cabeça.

— Onde você estava?

— Anh... aqui... — dou de ombros e apoio o rosto em uma das mãos.

— Como estão as coisas em sua casa? Você está linda neste vestido, bem que poderia jantar conosco, uh?

Ela me elogia e depois me chama para comer e meio que me sinto uma grande merda por isso. Marta sabe pelo que passei e ela tem que me elogiar primeiro para que eu me sinta bem e aí, sim, eu possa comer. Engulo em seco e levo uns segundos decidindo o que responderei primeiro. As duas perguntas têm o mesmo peso.

• My Angel • || Daniel Sharman ||Onde histórias criam vida. Descubra agora