"Prepare-me!"

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Em cada nova foto, um zoom. Mexia nervosamente e ruidosamente no notebook para mais rápido chegar aos contornos nevados ao fundo. Era tudo o que era: branco infindável. Atravessávamos o ápice do inverno e a frieza dos dias cada vez mais noites estendidas. Naquela fotografia em questão havia cor. Muita cor. Um verde claro que mesclava com um tom mais escuro e que ascendia aos céus da linha que contorna as cadeias montanhosas. Havia também uma linha de amarelo naquelas auroras, e talvez algo que chegasse perto do branco. Havia muita cor, mais nada da figura fantasmagórica de Ásmundur. O louco que um dia invadiu uma fotografia minha, jamais faria isso novamente. Seu lugar era outro. Lonjura inteira. Um mistério só seu. Eu quase quis estar morto também para descobrir por onde o assombro da sua figura poderia estar.

Ao diminuir o zoom e deixar na tela a fotografia no plano original em que foi feita, o homem em foco era muito mais bonito que o assombroso que eu procurava nos detalhes. Muito mais bonito e vivo. Sua beleza mostrou-se completamente nua quando saiu do banheiro e repousou no arco da porta, esperando por um olhar meu. Talvez fosse de pouca ou nenhuma loucura, mas era bonito inteiro. E era bom deitar-me com ele.

Maxim permaneceu em silêncio por algum tempo depois que reconheceu o meu olhar desejoso sobre o seu corpo ainda molhado como prova de um recente banho. O cheiro da última transa que ainda resistia no quarto, era logo substituído pelo cheiro bom do sabonete que usara para tirar do seu corpo o resto da nossa perversão. O membro caído acomodava-se perfeito sobre o grande saco que carregava orgulhoso, mas esse acordava rápido. Dava-me um sinal de vida, qualquer animação por mim. Motivado, exibiu seu andar vitorioso até uma mesinha não muito distante da que eu ocupava e voltou para mim segurando a camisinha que exibia também com certo orgulho.

- Prepare-me! - acarinhou meus cabelos úmidos, entregando-me o mesmo membro já desperto. - Eu quero outra.

Por ordem daquele acima de mim, guardei entre os lábios devidamente molhados a cabeça da coisa ofertada. Por conhecer a abertura conseguida e a minha capacidade de engolir, adentrou os meus fios com os seus dedos e forçou meu rosto contra o que era seu. Fez-me engolir o membro e tão logo molhar todo o corpo. Deixou-me novamente longe do seu tesão e analisou a dureza como se não a conhecesse. Alisou o corpo inteiro do membro, comprimiu a cabeça, esticou a pele já muito usada e sorriu sua perversão apertando meu queixo, fazendo-me erguer o olhar. Esperto que era, tratei de encenar inocência como se também não soubesse o que acabara de fazer.

- Deixou-me duro rapidinho. Agora quero-o sobre a cama - ele ordenou.

Era um macho feito. Um homem inteiro. O corpo duro, as pernas compridas e os braços fortes. O rosto fechado tornava-se leve quando sorria e notei que o fazia ao sentir algum tipo de prazer: quando fodia-me com a força de um necessitado e quando as auroras dançaram acima das nossas cabeças. Por elas que estava nas terras geladas de perigosos extremos. Por um registro decente abaixo delas pegou meu número ao chegar no hotel e por elas avançamos uma noite inteira cortando a neve com o peito e a coragem. Nos dois dias seguintes da conquista, era sobre os meus bloqueios que ele avançava. Destruía, motivado pela fome de outra proteína, todas as forças do meu corpo e machucava-me quando, insistente, penetrava-me em uma nova transa logo após outra.

Era dele todo o meu derramar. Despejava em sua boca torcida todas as vezes que tive meu corpo penetrado e meu membro massageado. Vi que não era por dar-me prazer ou compartilhar alguma favorável troca naquela foda, mas por arrancar-me os líquidos e sugá-los como bicho que se alimenta da essência masculina. Não cultivava vergonha por ser somente isso e em cada novo gole parecia tomado de mais força e mais vontade. Parecia mais inspirado em abrir caminhos e acessar os espaços mais escuros e quentes, onde escondem o que são as pessoas.

Foi assim que teve-me outra vez: devidamente protegido, penetrou-me com força, fazendo meu corpo estremecer por tanta euforia e todos os movimentos seguintes diziam da necessidade de arrancar de mim aquilo que eu bem sabia. Era gostoso servir o homem, sentir a dor de ser objeto do outro. Coisa nenhuma. A minha subtração deu-se pelo prazer. Mais humana, impossível. Os meus gemidos guardava para si. Fazia assim: derramava-se sobre minhas costas e procurava minha boca com a sua. Beija-me intensamente sempre que os gemidos fossem mais altos. Era isso a segunda coisa mais querida. Quando conseguia os mais puros, inspirados pela dor, era quando atingia o ápice do seu coito quase solitário. Depois disso fazia-me soltar o sagrado líquido e bebia direto da carne o que ainda tivesse para sair, fosse da espessura que fosse.

Depois daquele sexo particular de cada um, repousou o corpo sobre os lençóis bagunçados e fez um sinal diminuto para que eu fizesse companhia ao seu corpo nu e sujo. Adicionar carinho ao que era só necessidade não mataria nenhum dos dois. Despejava os dedos ao longo dos meus cabelos e mantinha meu rosto colado ao seu peito coberto de pelos grossos que machucam a pele mais suave, mais tratada de cuidados. Foi ele quem primeiro falou:

- Não sente nenhuma dor?

- Sinto, é claro.

- Foi coagido a manter-se em silêncio quanto às reclamações?

- Não. A pouca reclamação deve-se ao meu desejo por ela.

- Pela dor?

- Pelo que mais seria?

- Não é possível que outra pessoa no mundo seja tão mais insensível que eu.

Nós rimos, porque era essa a proposta dele. Depois fez o meu corpo subir levemente na lateral do corpo dele e tendo a bunda livre, bagunçou o interior das nádegas com o seu dedo gordo. Analisava os machucados que fizera. O inchaço, as fissuras.

- Você é estranho.

- Falou aquele que só transa por querer a consequência do gozo - eu devolvi quando livrei-me do dedo intruso e parti ao banheiro.

Precisava de outro banho. Nem mais lembrava qual era o número daquele. Diferente dos outros, não esperei que o homem dividisse o banheiro comigo, pois previa que nada mais poderia sair de mim ou dele. Estávamos vazios. Inteiramente vazios. Maxim das vontades e da perversão tão humana, eu da culpa que inventava. Descontava em meu próprio corpo a falta de responsabilidade ao lembrar-me de Ásmundur. Permitia a dor por perceber a falta do sentimento.

O homem suspirou um pedido forçado para jantar com ele naquela noite, mas lembrou logo da impossibilidade do convite. Estávamos em uma vila onde a noite é reservada ao descanso. Não conseguiu, por isso e por uma única vez, ser alguém decente depois do uso incauto da carne. Rimos quando lamentou e ainda nu, junto a janela que nada servia, puxou-me para alguns carinhos. Raridade daqueles dias.

Não era tudo noite e havia ainda algum movimento na única avenida principal. Os estabelecimentos fechavam as portas, mas o Velho Baldur, o bondoso do café tão estendido quanto a noite, ainda resistia. De certo atendia os últimos clientes e por isso não seria nenhum incomodo servir uma caneca do bom café que fazia.

Da janela, tendo minha cintura emoldurada pela mão gorda de Maxim e o ombro mordido por dentes afiados protegidos pelos lábios tão duros e torcidos, vi a velha caminhonete do meu pai descer tomando o rumo do porto em notada velocidade. Pelos contornos ainda vistos pela claridade que escapava dos portes, notei os ombros largos demais para serem do meu Senhor, mas também tinha pouca informação para afirmar tão convicto que era Anton o condutor. Poderia o meu pai estar protegido por um dos seus casacos grossos acima de alguma camada alta de roupa. Por curiosidade desvencilhei-me do homem que apertava-me certo de que transaríamos uma última vez e fui rápido em juntar as minhas coisas espalhadas sobre a mesa. O membro incansável do homem babava em sua ereção desavergonhada e apontava para mim enquanto ele separava o dinheiro cobrado para a noite de auroras. Foi somente isso o combinado: o sexo era por querer. Somente por querer.

A minha curiosidade quanto ao homem de contornos indefinidos só se transformou em um sentimento concreto mais próximo do medo quando, ao exterior do hotel, segurando a porta do jipe, avistei uma pequena movimentação de carros onde era o começo do porto. Dali não avistava o píer, mas algumas pessoas a caminho dele. Teríamos luz somente pela metade do dia seguinte, então esse seria o melhor horário para zarpar. Aventuravam-se por águas escuras, e este certamente fugia de algo.

E por observação das circunstâncias, era mais certo afirmar que fugia de alguém.

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