Mad Sounds [🏥]

4. Quem somos nós?

Você não pode esperar que o mundo te dê a faca e o queijo na mão. Ter o queijo fatiado então? Impossível.

As coisas nunca são fáceis assim e Camila sabia muito bem disso. Durante toda a sua vida ela teve que ir atrás de seus objetivos apesar de todas as dificuldades que apareceram no seu caminho.

Não foi fácil aguentar tantos xingamentos e brincadeiras de seus colegas de escola por ela não fazer as coisas do jeito que eles faziam, mas mesmo assim ela sobreviveu.

Não foi fácil se manter viva com aqueles estúpidos de jaleco branco a mantendo dopada doze horas por dia e mesmo assim ela conseguiu fugir. Ainda não acreditava como, mas pretendia se manter assim para sempre.

Livre. Livre de seus pais e de seus médicos.

Ela prezava a sua liberdade mais do que qualquer coisa. Nunca mais queria se sentir como um pássaro com as asas arrancadas. Ela jurou que nunca mais a manteriam trancada naquelas salas brancas, junto com outras pessoas loucas, empurrando vários remédios goela abaixo. Foi por isso que ela precisou fugir. Por isso precisou se defender daquelas pessoas, machucá-las para se manter a salva.

A sobrevivência sempre em primeiro lugar. É assim com todas as espécies.

E agora, mais uma vez ela tinha a armadilha perfeita, só faltava a faca para executar o trabalho.

Terminou de comer suas panquecas e aguardou enquanto Lauren quitava o almoço delas. Era assim entre elas, Camila cedia o carro e Lauren pagava a gasolina e as refeições.

Era assim que a latina queria viver para sempre com ela: dividindo e compartilhando.

As coisas eram simples desde o começo, e seriam simples quando elas chegassem aos seus destinos e percebessem o laço que tinham criado durante a viagem. Camila já sentia a atração entre as duas florescer, não demoraria para a relação delas evoluir. E então Lauren seria para sempre dela.

Mas enquanto isso, ela precisava cuidar das pessoas que ameaçavam acabar com a sua felicidade. E aquele cozinheiro era definitivamente uma dessas pessoas.

Quando elas passaram pela porta de saída para voltar para o carro, Camila fingiu se lembrar que precisava ir ao banheiro e então disse para Lauren que esperasse por ela no carro.

A verdade é que, antes de saírem, a latina ouviu quando a garçonete pediu para que o cozinheiro a ajudasse com o lixo na parte de trás do restaurante. Essa seria a oportunidade perfeita para ela se livrar dele, bastava esperar a garçonete entrar de novo e surpreender o cozinheiro enquanto ele estivesse sozinho.

Ele nunca conseguiria denunciar Camila para ninguém. Ele não acabaria com a sua liberdade.

Em vez de passar pela porta do banheiro, Camila foi para a porta dos fundos, pronta para estrangular o cozinheiro com um fio até a morte, e quando achassem o corpo, ela já estaria longe demais. Sã e salva com Lauren.

Mas assim que abriu a porta, Camila foi pega de surpresa, não esperava encontrar a cena que via diante de seus olhos. Ela se moveu sorrateiramente para se esconder o máximo que pode enquanto observava a garçonete, que lhe atendeu tão calmamente minutos atrás, desferir golpes de faca por todo o corpo do cozinheiro.

Por que ela estaria fazendo isso? Será que ela também teve que se defender?

Camila se concentrou mais para ouvir enquanto a mulher murmurava frases do tipo "porco nojento!", "você nunca vai conseguir arruinar minha família", "nunca mais vai passar a mão em mim de novo", "nunca mais vou sentir seus olhos imundos em mim".

A latina virou o rosto enquanto a outra mulher finalizava sua suposta vingança. Ela percebeu, aliviada e um pouco enjoada com a cena, que não precisava se preocupar mais com aquele corpo morto.

Apesar de sempre fazer tudo que pode para se manter a salvo e livre, Camila nunca gostou de ferir as pessoas, nunca demorou mais do que o necessário para se livrar de alguém que estivesse em seu caminho. Se pudesse, ela nem mesmo encarava suas faces sem vida. Porque aqueles rostos a atormentavam. O sangue em suas mãos a assombrava todas as noites antes de dormir.

Mas aquela mulher? A garçonete que a atendeu uma hora atrás? Aquela mulher que aparentava ser tão normal? Aquela estava perturbada de verdade.

Pelo que ela teve que passar para chegar até esse ponto?

Isso não importava, a última pessoa no mundo que iria julgá-la era Camila, que tinha os próprios demônios para exorcizar.

Assim que se sentiu satisfeita com o trabalho terminado, a garçonete largou a faca de lado e saiu arrastando o corpo pesado e morto até um grande saco de lixo preto que estava mais adiante. E Camila não esperou nem mais um segundo para sair de seu esconderijo, mas ela ainda precisava de algo para se defender no futuro, então pegou a faca e voltou rapidamente para o carro onde Lauren a esperava.