O caminho até aqui

Cap. 10 - Cigarros

Assim que falei com algumas pessoas, me encaminhei para próxima a Gaby. 

-Feliz? - Disse quando ela se virou me abraçando. - Fiz tudo o que você queria, até mesmo dançar. 

-Mas eu não pedi para vocês dançarem. - Ela falou dando de ombros. -Não põe mais essa responsabilidade para cima de mim.

-Seu irmão é um idiota! -Falei revirando os olhos. - Ele havia dito que você pediu. 

-Vai vê ele gosta de você. -Ela disse dando de ombros, tentei parecer indiferente, mas estava difícil com Cristal fazendo festa dentro de mim.

-Não é como se eu me importasse. -Dei de ombros. 

-Bom, essas são Ana e Kayte. -Ela apontou para duas garotas que pareciam ter a mesma idade que ela e estavam próximas a nós. - Minhas duas melhores amigas do bando. -Falou sorrindo e eu abracei levemente as duas.

-Eu vou sair um pouco, prometo não demorar. -Falei sorrindo e indo para fora do salão. Queria por fim a agonia que eu estava sentindo, fazia dois dias que um cigarro não repousava em meus lábios e eu, pode-se dizer, era uma viciada.

Não pude deixar de lembrar da festa que eu havia ido com Bia, aquela que beijei o tal de Aaron, jurei que voltaria a vê-lo algum dia. 

Coincidentemente eu estava como naquele dia, sozinha em um canto mais escuro, distante das pessoas, com um cigarro nos lábios e fumaça nos pulmões. 

-Droga. - Praguejei olhando para o chão, quando senti a presença de alguém vindo da floresta próxima a onde eu estava. Alias tudo nessa "aldeia" é cercado de floresta. 

E não era qualquer pessoa, era um lobo, eu podia senti-lo se aproximar. Um lobo tão poderoso que senti minhas pernas bambas. Nunca me vi tão apavorada.

Eu ainda sabia me defender, e ainda poderia entrar para o salão de festa novamente. Eu podia sentir o poder que emanava dele, se eu quisesse ter alguma chance teria que me transformar, mas assim acabaria rasgando o vestido preto que eu usava, e nem sei se saberia voltar para a casa do supremo depois disso. Olhei em volta rapidamente sentindo todo o meu corpo relaxar quando vi um terno preto perfeitamente dobrado em cima de uma pedra próximo a mim.

Eu conseguia reconhecer esse terno, era do Supremo, Diego era o lobo que se aproximava e estava me causando tanto medo. Fiquei surpresa. A última vez que senti tanto medo foi no dia do assassinato dos meus pais. 

Notei ao longe olhos vermelhos, e apesar da minha excelente visão noturna, foi difícil visualizar o corpo do lobo do supremo, sua pelagem era de um preto tão escuro quanto a própria noite. Seu lobo era um dos mais belos que eu havia visto e ele se aproximou com a máxima elegância que lobo pode alcançar, e involuntariamente, eu me curvei. Não foi como se eu quisesse eu jamais me curvaria diante de ninguém, foi como puro instinto. 

Senti algo tocando nos meus cabelos, me levantei ao notar que era Diego me cheirando com o focinho. Naquele momento parecia que todo a superioridade estabelecida por aquele grande lobo de olhos vermelhos houvessem se esvaído, comecei a gargalhar e fazer carinho em sua pelagem, o cigarro já não me era necessário então joguei um pouco distante de nós, ele lambeu meu rosto me fazendo cair sentada no chão.

-O cheiro estava forte? -Perguntei sorrindo e ele balançou a cabeça concordando. -Vá se trocar a festa não acabou. -Falei rindo, ainda lhe fazendo carinho na cabeça, mas ele balançou a cabeça negativamente e depois apontou o focinho para floresta. -Quer que eu vá com você? -Perguntei me levantando e ele concordou. -Não olhe, vou tirar essa roupa, se eu rasga-la sua irmã me mata. -Disse e ele se virou olhando para floresta.

Minha transformação foi surpreendentemente suportável, a dor foi pequena comparada a outras vezes e logo os pelos brancos de Cristal se estabeleciam por todo o meu corpo. 

Me aproximei de Diego lhe fazendo um carinho com focinho, avisando que estava pronta para ir.

Ele uivou para a lua olhando para o céu e eu o acompanhei, em seguidas disparamos floresta a dentro. Nunca havia me sentido tão forte antes e nunca havia sentido Cristal tão feliz. 

Mas como sempre digo, algo sempre me atrapalha.

Flashback's começaram a passar na minha cabeça atropelando pensamentos e me fazendo perder a noção de realidade. 

A minha respiração começou a ficar alta e eu parei de correr, sentindo meus batimentos apenas aumentarem. Eu estava perdendo o controle sobre mim.

"Meu amor prometa para mamãe que ficará quieta. Nós te amamos." - A voz da minha mãe passou pela minha mente e a lembrança de quando eu estava dentro do guarda roupa. Eu não suportaria viver aquilo novamente, então comecei a balançar a cabeça freneticamente, como se em algum momento os pensamentos lembranças fossem ser esquecidas apenas com aquele movimento. Senti mãos circularem minhas costelas e em seguida um forte aperto. Era um ataque e eu não sei se sobreviveria aquilo. Poderia ouvir a quilometro os ossos das minhas costelas se partindo em pedaços.

A dor só aumentou, até se tornar insuportável e eu apagar.