VACILÃO

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Assim que eu acordei, sentei-me na cama e fiquei pensando no sonho recorrente que há tantas noites me perturbava. Cada detalhe ocorria do mesmo jeito e a cada dia parecia mais real. Por incrível que pareça ainda não havia comentado nada sobre, com a Karen, mas isso não passaria de hoje.

Peguei meu notebook que estava jogado embaixo da cama e coloquei sobre meu colo, certifiquei-me de que estava no volume mais alto e dei play em Troye Sivan, meu gosto musical talvez não seja tão requisitado, mas era o que me animava na maioria dos meus dias. Iniciei a mesma rotina chata que estava acostumada a fazer todas as manhãs: tomar banho, ir até o guarda roupa pensar em que camiseta usar mesmo sabendo que todas tinham praticamente os mesmos tons cinzas/escuros - acabei vestindo uma calça jeans que ficava bem justa e uma camiseta escura sem estampa - descer as escadas, ir até a cozinha tomar o café da manhã - Quem estava lá fazendo ovos mexidos? Senhorita Bella, mais conhecida como minha mãe.

— Quando cheguei ontem não lhe vi pela sala, dormiu cedo? — Disse enquanto me mirava com seus olhos penetrantes.

— Sim! Cansei de ver séries — respondi tranquila.

Ela rapidamente tirou a frigideira de cima do fogão elétrico, pegou dois pratos e nos serviu, sentando-se sobre uma das cadeiras que ficava ao lado da mesa de vidro. Logo percebi a pia estava com uma montanha de louças sujas, que por sinal eu teria que lavar assim que voltasse do colégio. Sentei ao seu lado, peguei uma xícara e me servi com bastante café. Logo em seguida ela perguntou:

— Como vai o colégio? — Agora, olhando mais próximo de seu rosto percebi seu olhar cansado, com muitas olheiras.

— Vai muito bem, vou passar. Não se preocupe. — Mamãe e eu tínhamos algumas dificuldades de comunicação e na maioria das vezes quando a mesma forçava instigar algum assunto aleatório, fazia tudo parecer o mais breve possível.

— Que bom! Este ano está passando muito rápido, já estamos em setembro, meu Deus! E você já sabe qual faculdade vai querer cursar? — Sentir um odor de cachaça pura.

— Qualquer uma! Sei lá! — falei de maneira ríspida, não sabia o propósito dessas perguntas, mas não queria continuar nesse assunto.

Olhei para o relógio que estava no seu pulso e vir que já se aproximava das 7 horas e teria que me apressar ou perderia o ônibus.

Foram várias e repetidas colheradas nos ovos mexidos e dei um beijo de despedida na testa dela, corri até meu quarto, peguei minha mochila e fui para a parada de ônibus.

Lá estava Karen a minha espera no mesmo local de todos os dias, seguimos conversando sobre as aulas que iríamos ter: Geografia, redação e no último tempo, novamente matemática.

"A morte seria mais bem-vinda que essa tortura", pensei comigo mesmo.

Ao chegar ao colégio ela e eu andamos até a cantina para esperar Fredd. Foi quando comecei a comentar com ela sobre meus sonhos estranhos:

— Era meio que eu ia em direção a algo, mas não sabia o que era. — tentava explicar a ela da melhor maneira possível, mas ouvindo minhas próprias palavras agora, tudo parecia sem nexo. — E a maré estava começando a subir e o sol a se pôr muito rápido. Eu me afogava e ouvia uma voz me dizendo "adeus". — falei enquanto coçava minha cabeça pois não tinha deixado tão simplificado como imaginava.

— Que louco! Na verdade, muito louco! E há quanto tempo você está tendo esse sonho? — ela me perguntou sem se interessar muito no assunto.

— Acho que há umas cinco semanas. — respondi.

— O quê?! cinco semanas?! — ela pulou em cima de mim — cinco semanas e você não me fala nada sobre o assunto?! Que bela amiga você é! — Karen era aquele tipo de pessoa totalmente neurótica, que não admitia você esconder ou deixar de contar algo a ela. Essa cobrança era maior sobre mim, por sermos tão próximas.

O recomeço de sua chegadaOnde histórias criam vida. Descubra agora