- Corre, Ícaro! Corre! - grita, Luna, empurrando-o para trás.
- Não! Vamos enfrentar! Nós conseguimos, Luna! - resistiu.
- Não, Ícaro! Agora não é hora!
A enorme criatura surgiu entre fumaça densa das chamas. Pele grossa, 5 metros de altura, extremamente musculoso. O monstro carregava uma árvore como tacape, balançando de um lado pro outro, arremessado tudo que estivesse no caminho.
Ícaro não se deixava intimidar. Desviou da sua irmã e avançou em direção ao destruidor. Ele tinha a vantagem. O filho do sol possuía a benção do fogo e, no momento, era o que mais havia ao redor dele. As chamas tomavam conta de toda a área destruída da vila e se espalhava como se tivesse vida e pressa.
- Ícaro! Não! - berrou, tentando impedir o irmão de lutar.
- Proteja-se, Luna!
Em quanto corria em direção ao inimigo, sentiu o tempo ficar em câmera lenta. Uma dose de adrenalina muito alta estava sendo liberada em seu corpo inteiro. Estendeu o punho direito para trás e canalizou seu golpe.
- succendam... - começou a sugar as chamas que o rodeava, concentrando em seu punho.
- Ícaro! Pare! Você ainda não... - estava gritando desesperada quando viu a magia se concretizar
- Flammae!
O braço direito de Ícaro estava tomado pelo fogo. O golpe não se concentrou por completo no punho. Ele ainda não dominava a técnica, então era difícil manter o poder em apenas um lugar. As chamas tentavam se espalhar para seu pescoço e tronco. Ao absorver tanto fogo, agora ele havia dois adversários. O fogo e o monstro. Luna não podia fazer nada para impedi-lo, uma vez que a magia havia sido conjurada.
O monstro iniciou o golpe. Balançou a árvore tacape sobre a cabeça e desceu com toda a força na direção de Ícaro. Por sua vez o rebelde inconsequente desviou do golpe e escalou pela árvore. No meio do salto, sentiu fraqueza. O golpe era mais avançado do que ele esperava.
As chamas não o obedeciam e se espalhou para a região do pescoço e tronco por completo. Ícaro sentiu sua pele arder. Seu coração disparou. Ao invés de liberar as chamas e desistir do golpe para minimizar os danos, decidiu fazer o ultimato. Saltou do braço da imensa criatura em direção ao seu peito e mirou o coração. Era tudo ou nada. Usou toda sua energia e concentrou novamente as chamas indomáveis ao menos em seu antebraço e desferiu o golpe contra o inimigo.
A enorme chama e todo o fogo da região foi redirecionada ao peito do inimigo em um golpe poderoso. Um furacão partiu de Ícaro e dos destroços em direção ao peito esquerdo do monstro e explodiu arremessando tudo para trás. O golpe havia sido realmente poderoso e efetivo. Um buraco se fez atravessando a musculosa criatura. Mas havia sido um golpe descontrolado. Logo após a liberação das chamas, elas se dissiparam para todos os lados em virtude da desconcentração súbita.
Luna também havia sido atingida pelo fogo descontrolado de Ícaro, mas não foi isso que a preocupou. Ela sabia a punição disso. O fogo não pertencia mais aos destroços, pois Ícaro os absorveu. Não havia lugar para as chamas retornarem, sem serem consumidas, a não ser o conjurador. Enquanto Ícaro estava de joelhos em cima da criatura morta, sentindo-se realizado com o golpe, um imenso tornado de fogo se formava no céu e começava a ir em sua direção. Ela sabia que seu irmão não suportaria tal poder, pois ele ainda estava aprendendo a domar. Absorver o fogo para o espírito era algo inimaginável para um iniciante.
O tornado tomou corpo, e já imitava a luz do dia. Começou a tomar velocidade para cair sobre o domador. Luna, em um ato desesperado, correu para seu irmão, gritando com lágrimas nos olhos.
- ÍCARO!!!!
- Eu consegui, Luna!! Eu... - ao olhar para a irmã, reparou em sua expressão de tristeza e desespero. - consegui...
Só então olhou para o céu e viu o seu novo inimigo. Hipnotizado e com medo, paralisou-se. Não havia como fugir daquilo e nem se quer tinha energia para tentar. Ficou encarando o tornado vir em sua direção. O tempo estava praticamente parado. Uma sombra surgiu diante de seus olhos. Sua irmã entrou em sua frente de braços abertos. A fúria das chamas se concentrou nela ao invés do seu irmão.
- LUNA!!!!!
- Não se mova. - olhou para trás. - Você conseguiu fazer um golpe realmente poderoso, Ícaro. Fico orgulhosa. - sorriu.
O rosto dela começava a se deformar pelo calor.
- Lu... - foi interrompido.
- Ícaro. Desculpe... eu acho que não vou conseguir mais te proteger de agora em diante.
As últimas chamas alcançaram-na e incineraram seu corpo. Ela havia absorvido tudo em um ato de sacrifício pelo irmão. Tudo que restou agora eram suas sendo levadas pelo vento.
Ícaro apenas encarou as cinzas voarem para longe. Após longos segundos, a ficha caiu. Ele não havia forças para gritar ou chorar intensamente. De joelhos, ficou olhando para suas mãos.
Na mesma noite, anteriormente, seu pai haviam sido assassinados pela hora de monstros menores que atacaram a vila. Sua madrasta já havia falecido a muito tempo. E agora, ao contrário de escutar sua irmã, ele, indiretamente, a matou. A pessoa que ele mais amava e admirava. Luna deu sua vida para protegê-lo.
Após horas encontraram Ícaro ajoelhado em cima do monstro.
- Ícaro! O que houve?
- Eu matei... - encarou o homem recém chegado, com olhos arregalados e cheios de lágrimas.
- O monstro? Eu estou vendo. Parabéns, você salv... - foi interrompido pela conclusão de Ícaro.
- ...a Luna.
- O quê? - ficou confuso.
- Ela...
As pessoas da vila começaram a retornar para ver os escombros e presenciaram a cena de Ícaro falando com o homem assustado.
- Eu matei a Luna.
- Co... Co... Como? - gaguejou se afastando do rapaz.
- Eu usei um golpe pra matar o gigante... e matei ela também...
Ícaro não entendia bem o que estava acontecendo, ou o motivo das chamas se voltarem pra ele. Mas uma coisa parecia clara na sua cabeça. Ele matou a Luna.
Aos poucos as pessoas se afastaram do garoto, com medo de que ele os atacassem. Todos sentiam uma mistura de medo e ódio em relação a Ícaro, pois sua irmã era bastante popular e amada por todos. "Que tipo de monstro seria capaz de ferir uma mulher tão amável?" Era o que todos pensavam.
Dês deste dia, Ícaro foi tratado com desprezo. Como um monstro. Alvo de ódio. O que o tornou fechado e sério. A única coisa que sabia fazer era treinar dia após dia. Além disso teve que se aprimorar em caça para vender em vilas distantes e conseguir sobreviver, já que não podia contar com ninguém da sua vila, a não ser os anciões. A única coisa que o ligava a vila era seu laço com os anciões e o desejo de se tornar líder da próxima geração, na esperança de mudar o pensamento que todos tinham sobre ele.