Restaurante

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Os meus pensamentos dançam ao som da música do restaurante. Não sei há quanto tempo estou aqui sentada, mas ele ainda não chegou.
A sua mensagem deixou-me apreensiva, quase nunca me levava a jantar e quando o fazia era porque tinha feito algo de errado. Três anos de namoro e o ciclo ainda se repetia, apesar de saber que não era o mais saudável numa relação, eu dependia dele e, acima de tudo, eu amo-o.

"Já sabe o que vai pedir?"

"Vou aguardar mais um pouco, a pessoa que falta está mesmo quase a chegar..." disse torcendo para mim que isto se tornasse verdade.

Mais de uma hora se passou. O empregado ainda não parou de perguntar se já queria pedir a comida e os olhares das pessoas à minha volta torna-se cada vez mais notórios e repletos de pena, como se soubessem que ele não vai aparecer. Sinto-me cada vez pior, já não é a primeira vez que ele se atrasa e perceber que toda a gente já se apercebeu faz-me lamentar que não tenha saído mais cedo. Talvez deva ir embora e acabar com a situação de vez...

No momento em que me vou levantar alguém se senta na cadeira à minha frente.

"Desculpa pelo atraso amor. Eu sei que já passa super da hora mas o trânsito estava terrível." O desconhecido disse, falando um pouco alto de modo a informar as pessoas. "Já agora, sou o Diogo, apenas segue a minha deixa, ok? A pessoa que não se deu ao trabalho de aparecer é um completo idiota." Proferiu num tom quase de sussurro.

"Sou a Carolina, obrigada." sussurrei de volta.

"Então já pediste alguma coisa?" O sorriso dele era mesmo bonito...

"Não, que pizza vais querer?"

A sua mão passou várias vezes no cabelo escuro enquanto se decidia, estava repleta de anéis prateados que contrastavam perfeitamente com o tom da sua pele. Ele tinha realmente sido um querido por se ter sentado comigo e me ter salvo de uma grande humilhação. Para além disso, ele é a coisa mais fofa que eu já vi na minha vida.

"Gostas da 4 estações ou preferes outra?"

"Para mim essa está ótima." Lá estava aquele sorriso de novo.

Chamamos o empregado e fizemos o nosso pedido, depois ele pegou no telemóvel e digitou qualquer coisa.

"Desculpa, estou só a avisar os meus amigos que não vou jantar a casa."

"Não faz mal." Falei timidamente. "Conta-me mais sobre ti."

"Que posso eu dizer? Já sabes o meu nome, gosto de gravar e tenho duas iguanas. E tu?" disse coçando a parte de trás do seu pescoço.

"Não há muito que se lhe diga, sou a rapariga que o namorado deixou pendurada e gosto de desenhar e pintar." Ele sorriu com um sorriso de pena, não queria que ele me visse dessa maneira. "Mas, até agora, o facto de ter sido pendurada resultou num jantar não planeado muito divertido."

Entretanto a pizza chegou e ele não teve tempo de responder. Era gigante e parecia deliciosa... O tempo passou a correr e quando dei por isso já só tinha sobrado uma fatia. Um facto sobre mim é que eu não gosto de partilhar comida, mas teria de fazer o obséquio porque o Diogo salvou a minha noite.

"Estás a pensar em quê?" perguntou olhando nos meus olhos.

"Que estou cheia e que podes comer a última fatia..."

Ele assim fez, mas insistiu que eu desse duas dentadas para o ajudar. Talvez tenha percebido que o que disse não foi totalmente aquilo que estava a sentir... De qualquer das maneiras tinha sido um doce comigo a noite toda.

Estava na hora de ir embora, este jantar tinha sido maravilhoso e não queria nada que acabasse...

"Bem parece que está na hora. Diverti-me imenso, obrigada pelo que fizeste por mim hoje!" disse dando o meu melhor sorriso.

"Também gostei muito do jantar, espero repetir isto mais vezes, o que dizes?"

Não tive tempo de responder, assim que ele terminou a pergunta o meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem do Henrique.

CarolineOnde histórias criam vida. Descubra agora