O início

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Assim que entramos no carro, o Diogo ligou o ar condicionado no quente. As suas mãos esfregavam nas calças e de seguida bafejava-as de modo a aquecê-las. Parecendo que não, o facto de termos parado para falar com aquele grupo fez com que os nossos corpos arrefecessem e também o obrigou a retirar o seu braço dos meus ombros. Admito que fiquei um pouco chateada com essa sequência de acontecimentos. Não que eu queira algo com ele ou assim, mas porque eu estava quentinha e, de repente, um vento gélido apodera-se do meu corpo.

"Desculpa aquilo de há bocado." 

"Não faz mal..." não quis perguntar se ele era famoso ou o que é que ele fazia. Talvez ficasse magoado por eu não o conhecer. Imaginem que até é uma pessoa importante e eu não sei, não vou fazer figura de burra. 

O resto da viagem foi tranquila. Ambos estávamos cansados, resultando daí o nosso silêncio, porém a música que tocava na rádio era calma o suficiente para não estragar esse silêncio e torná-lo confortável. Foi uma noite realmente incrível, algo que já não tinha há bastante tempo. E ele era realmente um anjo por me proporcionar tal experiência.

Finalmente chegamos a casa. Estava tão envolvida nos meus pensamentos que nem dei por isso. A única coisa que me despertou foi a voz dele.

"Carolina." disse num tom suave. 

"Chegamos." constatei a realidade e ele riu-se. Não queria que aquela noite acabasse. O meu estado de felicidade tinha atingido o pico. "Obrigada por tudo hoje." 

"Sempre que quiseres repetir é só mandar mensagem." Eu adoro o sorriso dele. 

"Vou pensar nisso." gargalhei. 

Ele inclinou-se para mim e deixou um pequeno beijo na minha bochecha. O rubor voltou de novo e eu senti-me a corar. 

"Boa noite Carol." 

"Boa noite." disse acabando por abandonar o carro e dirigir-me para casa. 

Não olhei para trás. Não devolvi o beijo amigável. Não queria sentir nada disto. Assim que pisei o chão de minha casa, o meu corpo colapsou. O cansaço desenvolvia-se a cada passo que dava e os meus olhos lacrimejavam violentamente. As minhas lentes incomodavam-me, mas a preguiça de as tirar falava mais alto. Caracterizo-me como uma pessoa que gosta de correr riscos, mas só até às nove da noite ou perto disso. O sono toma conta de mim, o meu corpo fica dormente e acabo por cair num sono profundo. 


***


Quão péssimos conseguem ser os dias de trabalho? Péssimos suficiente para acordar já com o meu psicológico a lamuriar-se que não lhe apetece ir. A verdade é que eu e o frio eramos incompatíveis. Gosto de acordar com o sol a aquecer a minha cara, mas durante estes dias isso já era impossível de acontecer. Fiz um esforço máximo para me levantar. Um arrepio apoderou-se das minhas pernas despedias e rapidamente me arrependi da minha decisão, contudo tenho de me despachar para não chegar atrasada. 

O Natal aproximava-se, as decorações e enfeites estavam por todo o lado. A minha respiração formava nuvens de vapor de água à medida que seguia o meu caminho. Pela rua ouviam-se músicas de natal e pessoas atarefadas, o costume. 

A minha mente perdeu-se assim que entrei por aquelas portas. O escritório estava um caos, as pessoas andavam freneticamente de um lado para o outro e o barulho era demasiado alto para alguém entender a situação. Foi naquele momento que perdi a paciência, odeio barulho de manhã. 

Eu gritei exasperadamente na tentativa de os acalmar, mas não funcionou. A minha cabeça pesava, o espaço diminuía e a respiração de cada um irritava-me profundamente ao ponto de os querer matar. Dirigi-me apressadamente para o meu escritório e tentei ignorar o barulho de fundo. 

Talvez ouvir uma música vai ajudar a abafá-lo.

Assim o fiz, acedi ao youtube e ele apareceu do nada. A cara do Diogo estava num dos quadradinhos do meu ecrã! Agora os adolescentes faziam sentido... E o nome dele no meu contacto também! 

Não sabia que eras youtuber. Enviei, sem esperar uma resposta.

Dediquei-me ao meu trabalho totalmente focada. Papelada para cá e para lá, a minha mesa estava uma confusão e, por muito grande que fosse, lamentava-me sempre de não ter espaço para nada.

"Vens almoçar?" a cabeça da Ana apareceu por trás da porta.

"Sim, onde vamos desta vez?" 

"Shopping?" Acenei um sim e agarrei o meu casaco.

O meu telemóvel vibrou e recebi uma mensagem do Diogo. 

Não é nada de especial. Isso afeta a nossa amizade? 

Não pensei nessa situação. Afetaria? É apenas uma amizade... Não é como se tivesse câmaras apontadas para mim o dia todo ou que a minha privacidade se alterasse. Assim sendo, acho que não afetaria em nada. 

Não. Mas devo continuar a chamar-te Diogo ou preferes outro nome?  Seria estranho chamar-lhe Windoh, estou demasiado ligada ao inglês para não me rir.

Chegamos ao shopping e, antes de almoçarmos, demos uma vista de olhos nas lojas. O Natal está à porta e ainda não comprei nada para ninguém. Não havia nada que me chamasse à atenção, exceto uma ou outra papelaria com canetas de cores maravilhosas.

Já sei o que me vou oferecer de Natal!, ri com o meu pensamento.

Ao caminharmos para a zona de restauração, observei um pequeno grupo de rapazes com câmaras na mão. Qual seria a coincidência ou até a probabilidade? Acredito mais na probabilidade do que em coincidências. Um deles dirigiu-se até à Ana com um sorriso estampado no rosto. Talvez se conhecessem?

CarolineOnde histórias criam vida. Descubra agora