"Ouvi dizer que íamos sair amanhã."
Como é que uma simples mensagem podia deixar um nervo miudinho percorrer por todo o meu corpo? Era algo incompreensível, por mais café que tomasse nunca sentia algo assim. Um formigueiro percorria as minhas mãos deixando-me incapaz de escrever. Porém, também não sabia o que lhe responder. Será que esperava algo espontâneo ou algo engraçado?
"A que horas?"
Não quis dizer com esta mensagem que aceitasse o seu pedido. Na verdade, não nos conhecemos assim tão bem. Ele continua a ser apenas o rapaz que me salvou de uma grande humilhação, e só tivemos oportunidade de conversar durante uma hora e alguns minutos.
"Passo em tua casa às 19h, pode ser?"
Onde é que será que vamos? O que irei vestir? Mil e umas perguntas passavam pela minha cabeça à velocidade da luz e não tinha resposta para nenhuma. Neste momento são três da tarde e eu acabei de sair de um relacionamento, não vou, de modo algum, atirar-me de cabeça para outro!
Apesar de tudo, um entusiasmos começava a crescer dentro de mim. Sentia-me como uma criança prestes a abrir os presentes que recebera. Nem café tinha bebido e o formigueiro estava de volta, as minhas pernas tremiam e mal podia esperar para me sentar e acalmar. Estava num turbilhão de emoções inexplicáveis.
Restava-me voltar para casa e arranjar-me.
"Combinado!"
As horas passavam e a ansiedade tomava conta de mim. Não me sentia em mim, as minhas pernas enchiam-se do formigueiro que sentira mais cedo. A minha boca estava seca e nem a água que bebia intensamente ajudava. Esta não era eu, não é um encontro, é apenas uma saída. "Acabaste de sair de uma relação, não vais mergulhar de cabeça para outra." Pensava para mim. A verdade é que nem eu sabia o porquê deste nervosismo todo.
A campainha tocou. Apressei-me a vestir o casaco e verificar se tinha tudo o que precisava e olhei uma última vez para o espelho, para ter a certeza que estava tudo como eu queria.
"Olá." Disse entrando no carro.
"Já lá vai uma eternidade desde a última vez que te vi!" Olhou para mim e sorriu "Continuas linda."
Desta vez fui eu que sorri, não estava à espera que ele dissesse isso. Deixou-me sem jeito e não soube o que responder, a música tomou conta do carro e era tudo que se ouvia até chegarmos ao nosso destino. Ele também estava lindo, os anéis nos dedos dele estavam em perfeita harmonia e o cabelo dele perfeitamente penteado. Dava para perceber que ele tinha cuidado com a sua aparência e isso agradava-me.
"Onde vamos?" Finalmente perguntei.
"Onde gostarias de ir?"
"Não sei," realmente não sabia "diz lá onde vamos." A curiosidade matava-me.
"Vamos jantar e depois dar um passeio, pode ser?"
Queria meter me com ele, mas não tinha essa confiança ainda. "Pode." Respondi simplesmente, não sabia o que mais dizer. Acho que as palavras são sobrevalorizadas, nem tudo aquilo que se diz tem conteúdo e às vezes podiam ser evitadas.
A música parou de repente assim como o carro. Estávamos finalmente à porta do restaurante. Parecia algo simples, não tinha muita gente e tinha ar de acolhedor. Mal passamos pela porta um bafo de ar quente atingiu a minha cara e o meu corpo arrepiou-se com a diferença de temperatura. Adoro as roupas de inverno, mas o frio gélido que se faz sentir nesta altura não é para mim.
Ao pé da entrada, um senhor careca nos seus quarenta anos de idade levou-nos até à nossa mesa. O ar acolhedor ampliou-se assim que notei a lareira e as velas, assemelhava-se ao cenário de um filme e não podia gostar mais dessa ideia."Então, gostaste?"
"Está fantástico! Não sei é se vamos chegar à parte do passeio..." dei uma gargalhada "depois de comer vou é dormir aqui ao pé do quentinho."
Ele riu de volta e passou a mão pela cabeça. Andou lentamente até mim e puxou a cadeira para eu me sentar. Nunca me passou pela cabeça que ele fosse tão cavalheiro, eventualmente está a ser assim só porque quer ser querido e não o seja sempre.
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Caroline
Fanfiction"Há todas as razões boas para eu não gostar de ti, menos a de eu gostar, porque gosto." Fernando Pessoa © Copyright 2017 Todos os direitos reservados.