Amor próprio

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O som do meu telemóvel soava demasiado alto para o meu gosto. Odeio acordar assim logo de manhã! "Henrique" era o nome que eu via no visor, não bastou ontem à noite, ainda tinha de me acordar.

"Bom dia." O meu humor matinal era evidente.

"Bom dia. Esqueceste-te de me responder ontem à noite!"

"Também te esqueceste de aparecer e ainda assim eu não disse nada, como sempre." A última parte saiu mais como um sussurro. Talvez devesse ter uma conversa séria com ele o mais cedo possível."

"Bem, adiante, queres ir tomar o pequeno-almoço a algum sítio?"

Era a oportunidade perfeita. Debati-me sobre o assunto a noite toda, esta era a decisão mais certa a tomar, tinha de aceitar a realidade. Respondi-lhe um simples sim e disse para me mandar mensagem do sítio onde era para nos encontrarmos. Não estava com paciência nenhuma para me arranjar, simplesmente peguei na primeira coisa que me apareceu à frente e vesti. Atei o cabelo, lavei os dentes e saí.

O dia estava ameno. Meados de novembro e o sol ainda irradiava calor suficiente para me aguentar com uma simples camisola. Cada vez mais acho que o outono é a melhor estação.

"Já pediste alguma coisa?" Encarei-o enquanto me sentava. Nem se deu ao trabalho de se levantar para ao menos me dar um beijo. Não que eu quisesse, mas continuava a ser o meu namorado.

"Pedi dois cafés e umas torradas. Se quiseres mais podes ir pedir." A sua indiferença por mim estava cada vez pior, nem nos meus olhos me encarava enquanto falávamos.

"Tenho um assunto sério para falar contigo." Pedi suavemente.

"Não pode esperar para depois de comer?" Juro que às vezes me apetece sufocá-lo quando tem este tipo de resposta.

Dei um suspiro e respondi "Sim, pode ser.".

Entretanto a comida chegou, o Henrique ia falando do seu trabalho e do quão incompetente os seus colegas eram sem nunca se desculpar pelo que aconteceu ontem. Claro que deixar-me pendurada num restaurante e avisar umas horas depois que não vinha não é nada de especial. Isto deixa-me tão frustrada, só me apetece chorar.

Aguentei as lágrimas, não ia mostrar parte fraca nem dar o braço a torcer. Estava na hora de ele perceber a verdade nua e crua.

"Henrique." afirmei "Está na altura de conversarmos."

Ele olhou para mim com um ar de confusão, "Queres conversar sobre o quê?"

"Sobre nós." Não podia ter sido mais direta.

"Se é sobre aquilo de ontem à noite, eu já te tinha pedido desculpa." Eu apenas respirei calmamente, eu não acredito que ele disse isto!

"Um pedido de desculpas não chega, tu pedes desculpa e fazes o mesmo! Estou farta de estar no mesmo ciclo há mais de um ano. Tu não ligas para nada daquilo que eu faço ou digo. Eu mando-te mensagem e tu nem te dás ao trabalho de responder!"

"Mas..."

"Não me interrompas," as lágrimas tentavam de tudo para escorrer pela minha face "que eu saiba uma relação envolve duas pessoas e, neste momento, sinto que só eu estou a fazer esse esforço que devia ser feito pelos dois! Eu estou farta e para mim não dá mais..."

As minhas mãos tremiam, mas conseguia agarrar na minha garrafa de água. A minha boca estava seca, não sabia o que esperar depois de ter dito isto tudo. A única certeza que tinha neste momento era que um peso tinha saído de cima de mim.

"Como queiras. Depois não venhas rastejar para mim quando te sentires sozinha e não tiveres ninguém com quem falar."

Eu sentia nojo dele depois desta resposta. Nem me esforcei para lhe responder, deixei-lhe algum dinheiro na mesa e peguei nas minhas coisas e vim embora. Não vou desperdiçar o meu dia por causa dele, está um sol demasiado bom para não aproveitar. 

Assim o fiz, resolvi ir dar uma volta à beira rio. Aqui já havia uma brisa suave, os meus cabelos voavam e alguns colavam-se aos meus lábios devido ao batom. Com o frio os meus lábios secavam em demasia, era até doloroso olhar para eles; já as pessoas que olhavam para mim faziam sempre a mesma pergunta: "Estiveste com febre, não foi?" e eu lá tinha de responder sempre que não e que era apenas cieiro.

Depois de horas a passear, e de começar a sentir dor nos meus pés, resolvi voltar para casa. Fiz um esforço até à paragem de autocarro e sentei-me à espera, raramente o autocarro chegava a horas. As pessoas passavam à minha frente, umas com o passo mais apressado do que outras, alheias ao maravilhoso dia que as rodeia. No meio dos meus pensamentos sinto algo a tremer no meu bolso. "Diogo aka Windoh"  enviou-te uma mensagem.






CarolineOnde histórias criam vida. Descubra agora