Sábado, 21 de janeiro

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Sábado, 21 de janeiro

Quando eu tenho inveja da sorte dos outros, mamãe e vovó dizem: “Deus
sabe a quem dá sorte”. Na Boa Vista agora é que eu acabei de crer. Já disse a
vovó que ela quase nunca erra, quando fala as coisas.
Nós todos, os meninos e meninas da Boa Vista, depois que acabamos de
jantar e que meu pai e tio Joãozinho despacham os trabalhadores, a coisa que
mais gostamos é ficar descalços, com o pé no molhado, subindo e descendo o
desbarranque da lavra, procurando diamantinhos e folhetas de ouro, pois tudo
meu tio compra. Diamante é raro achar, mas folhetas de ouro a gente encontra
sempre.
Estávamos, todos os meninos, andando de um lado para outro, cada um
com os olhos arregalados nos corridos. Estava conosco Arinda. De repente ela
abaixou com um grito e apanhou um diamante bem grande. Corremos todos
para o rancho, atrás de meu pai e meu tio. Ele olhou e disse a meu pai: “Veja,
Alexandre, que beleza!” e deu para Arinda cinco notas de cem mil-réis,
novinhas. Ela saiu correndo para o rancho do pai dela e nós atrás. O pai, a mãe e todos ficaram doidos de alegria. O pai dela dobrava as notas, metia no bolso,
tornava a tirar, olhava, tornava a guardar.
Fiquei até com pena do pobre e achei que foi melhor Arinda ter achado o
diamante. O rancho dela não tem senão um couro para todos dormirem,
coitados.
O pai dela disse que vai aumentar o dinheiro, que vai fazer um serviço num
lugar que ele sabe que vai dar diamante. Fiquei triste quando cheguei em casa e
contei, e que meu pai disse a meu tio: “Que idiota! Eu sei onde ele vai enterrar o
dinheiro; é naquela gupiara do Bom Sucesso que nós já lavramos”.
Arinda não ganhou nem cem réis e não se importou.

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