Consciência

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- Como ele está?

Max estava tão desalinhado quanto Eve. Fazia vinte e quatro horas que não dormiam e nem sequer tomavam banho. Desde a noite do atentado, Eles permaneceram juntos no hospital, numa desconfortável sala de espera, bebendo café puro e aguado e comendo sanduiche de máquina expressa. Pelo menos a sala de espera ali era privativa.

- Ele acordou! - Ela se aproximou rapidamente e se aninhou nos braços de Max, chorando copiosamente, como se um enorme peso tivesse sido arrancado de seus ombros.

Eve havia estado em choque, com ataques de ansiedade, mas não tinha chorado. A cirurgia foi na madrugada logo após o atentado, e realizada às pressas, e Will já havia perdido muito sangue. Tendo durado a noite toda, Eve e Max ficaram a ponto de enfartar na sala de espera aguardando notícias que demoravam a chegar.

Dez horas depois, uma eternidade, o cirurgião de emergência apareceu, tão mais cansado do que eles e disse que Will já havia saído da cirurgia, porém, estava sob supervisão e ainda muito fraco, com sinais vitais baixos e em coma induzido.

O projétil não entrou profundamente, mas não significava que estava fora de perigo. Will teria que lutar para sobreviver e o que restava era esperar.

Eve e Max tiveram uma breve permissão para vê-lo. Will estava amarelado, olhos escuros e afundados, lábios arroxeados e mal parecia estar respirando.

Ela se aproximou do leito, apanhou a fria mão de seu marido e sentiu que queria desmoronar ali mesmo. Mas não podia. Precisava ser forte por ele.

O cirurgião os acompanhou e disse que o dia seria intenso e crucial para Will.

O bla-bla-bla médico entrou como um som abafado em seus ouvidos. Ela acariciou o cabelo bagunçado de Will, sentiu os lábios tremerem querendo chorar, mas não se deu por vencida pelo desespero. Aproximou a boca dos ouvidos de Will e sussurrou: "Não desista, amor. Não posso ficar aqui sem você pra me proteger."

O cirurgião percebeu que Eve não estava prestando atenção nele e calou-se por um segundo.

- Ele pode nos ouvir, doutor? - Perguntou Max com as palavras saindo em câmera lenta.

- Sinceramente eu não sei dizer - respondeu. Então se aproximou, abriu os olhos de Will e jogou a forte luz da lanterna de pupila neles. - Ele está estimulando bem. Aparentemente as funções neurais estão funcionando como deveria. Eu gosto de pensar que ele pode ouvi-los.

Depois disso não puderam mais ficar com ele. O dia passou devagar demais e o cansaço lhes dava agonia.

Em certo momento, a enfermeira surgiu na porta e disse que havia uma visita.

- É o Joseph, com certeza - supôs ela.

Mas quem entrou pelas portas foi Arthur Branstorm.

Eve se mostrou tão perplexa quanto Max. Secou uma lágrima errante que saíra sem sua permissão e projetou o melhor sorriso sem dentes que podia.

- Senhor Storm, obrigada por ter vindo. - Disse Eve dando um passo em sua direção e estendendo a mão direita, esquecendo-se por um momento que ele era canhoto.

Ele se aproximou quase inclinado e ao invés de lhe corresponder o aperto de mão, puxou-a para um abraço apertado.

- Por favor, me chame de Arthur. Eu sinto muito, filha. Sinto muito. Willian é quase como um filho pra mim. Sei que não sou médico, mas se tiver algo que eu possa fazer, não hesite em pedir. Estou à sua disposição.

Eve sentiu-se envergonhada por um momento. Estava diante do maior financiador da pesquisa deles, foi o homem que acompanhou o trabalho de Will sua vida inteira, era, além disso, um dos empresários mais influentes do mundo, assim como um dos homens mais ricos segundo a última pesquisa da Forbes e estava ali abraçando ela como um pai, consolando-a; e ela estava suada, sem banho, sem escovar os cabelos ou os dentes e provavelmente parecendo uma louca fugida de um manicômio.

Transcendence (Fanfiction History)Onde histórias criam vida. Descubra agora