"Eles voltaram, Buck".
Essas palavras soavam como um eco lento e constante em sua mente. "Eles voltaram".
Buck mal tinha entrado no escritório do agente supervisor. Aquelas palavras soaram como um gatilho hipnótico. "Eles voltaram".
Buck sentiu um formigamento nas mãos e então foi como se tivesse sido sugado.
Algo saiu através dele. E então viu-se, abaixo, de pé, diante do agente supervisor sentado em sua cadeira.
A mente de Buck saiu dele. E voou.
"Eles voltaram".
Buck voou para cima. Olhou pra baixo e se viu ainda em pé, no prédio do departamento. Olhou pra cima e voou, se distanciando. Precisava ir além das nuvens negras amontoadas lá no alto. Um brilho azul cintilou ao seu lado e um relâmpago despencou dos céus com um estrondo em seguida.
Buck olhou pra baixo. Ainda podia ouvir a voz do agente supervisor.
"Doze pessoas morreram. Dentre eles, um importante cientista. Foram eles, Buck. Foram eles."
As palavras retumbavam como o estrondo daquele relâmpago nos seus ouvidos enquanto sua mente subia.
Olhou pra cima e as nuvens se aproximavam rapidamente. Então teve medo.
Quando falou, não escutou a própria voz, não era sua boca quem proferia as palavras.
"Por favor, eu não quero. Eu não quero!"
Buck viu as nuvens negras girando num redemoinho e então ele foi direto para o centro do espiral tempestuoso.
***
Outro estrondo e de repente Buck não estava mais voando. Olhou pra baixo e viu seu corpo, diante de si, suas mãos esticadas seguravam sua arma, apontando pra frente.
O galpão mal iluminado fez suas pupilas dilatarem. No alto, uma única lâmpada dependurada acendia e apagava constantemente, e as vezes uma faísca explodia do fio, em curto-circuito.
Buck ouvia a própria respiração entrecortada. Seu coração batia descompassadamente e seus sapatos sociais faziam clock-clock ao pisar no chão de madeira.
Mas além de si, Buck a viu e se lembrou. Sophie.
A agente à sua frente era quem liderava a investigação aos ataques fanáticos que praticavam terror em todo o Estado.
Eles surgiram dois anos atrás, numa iniciativa que a princípio ninguém deu atenção.
Eles se chamavam de Os Revolucionários e colavam cartazes em todos os postes, com informativos contra o avanço da tecnologia.
Fizeram um canal no YouTube com vídeos falando sobre a invasão de privacidade na internet, e em como isso era anticonstitucional e desumano.
Mostraram os termos de privacidade de inúmeros aplicativos e redes sociais, com parágrafos que pediam permissão para localizar o usuário em tempo real, obter acesso ao microfone e câmera dos computadores e smartphones, além de controlar o que o usuário armazenava, postava e apagava de seus perfis.
Os vídeos faziam um apelo às pessoas para que apagassem seus rastros digitais e boicotassem a invasão de privacidade daqueles a quem eles chamavam de ditadores da Nova Ordem Mundial.
"Estamos nós mesmos acorrentando nossas mãos e pés e nos tornando seus escravos", diziam eles numa voz feita em computador. "Eles estão nos manipulando, nos obrigando a lhes dar acesso a tudo que nos diz respeito, e o próximo passo será entrar na nossa mente e roubar nossos pensamentos".
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Transcendence (Fanfiction History)
FanficO mundo não é mais o mesmo. Estamos vivendo o despertar de uma Era onde a ciência discute a possibilidade de viagens no tempo, singularidade, dimensões paralelas e buracos de minhoca que atravessam universos inteiros. Durante a Inquisição Espanhola...