1959, São Paulo, capital. Benta Encerrabodes de Oliveira, vinte e três anos, cabelos castanhos lisos emoldurando seu rosto ovalado, olhos cor de mel. Professora da rede pública, Benta sempre gostou de lecionar, ávida por adquirir e transmitir conhecimento. Não por acaso, é considerada por seus alunos como a melhor professora que já tiveram. Nascera e se criara no interior paulista, mas, na adolescência, mudara-se com seus pais para a capital.
Era casada com José Antônio Marcondes de Oliveira, até que este falecera, deixando-a com duas filhas pequenas: Antônia Cândida, apelidada de Antonica, com quatro anos, e Maria Emília, com dois anos.
Como a pensão que recebia como viúva não era o bastante para manter o alto padrão de vida que tinha antes do falecimento do marido, Benta decide alugar o casarão onde vivia e se mudar para uma residência mais modesta.
Num bairro menos abastado, ela encontra uma casa que lhe parece ideal: menor e mais simples do que aquela onde morava, mas ainda confortável. Ela se depara, entretanto, com outra interessada na casa: uma moça negra simpática, de cabelos compridos e cacheados, também em seus vinte e poucos anos, Maria Anastácia da Silva, ou simplesmente Nastácia, cujo vestido simples, casual e leve contrasta com as sóbrias roupas de professora usadas por Benta. A fala de Nastácia tinha um sotaque carioca que Benta raramente ouve em terras paulistanas. A proprietária da casa fica indecisa sobre para qual das duas deve alugar o imóvel, mas Benta surge com uma solução conciliatória: ela e Nastácia alugariam em conjunto, o que seria vantajoso para ambas, tanto financeiramente, uma vez que elas dividiriam o valor do aluguel, quanto nos cuidados com a casa, ao dividirem as tarefas. Nastácia concorda. A amizade entre elas surge quase instantaneamente. Em poucas horas, já são amigas de infância. Nastácia também cativa Antonica e Emília. As meninas ficam especialmente encantadas com as imitações que Nastácia faz de diversos bichos: cachorros grandes, cachorros pequenos, gatos, passarinhos...
Numa conversa com Nastácia, mais tarde naquele dia, Benta descobre que sua nova amiga trabalha como cozinheira na mesma escola em que ela, Benta, leciona. Uma excelente cozinheira, dedicada e, a exemplo de Benta, amada pelos alunos.
A divisão das tarefas da casa foi estabelecida com rapidez, em comum acordo e de forma prática. Uma lava a louça, a outra enxuga; uma cozinha, a outra varre; cada uma arruma a respectiva cama; levar o lixo para fora, alternando; cuidados com as meninas, compartilhados. Com alguns ajustes aqui e ali, a prática funcionou a contento.
Domingo à tarde. Enquanto Benta dá banho nas filhas, Nastácia decide fazer a sua especialidade: bolinhos de chuva. minutos depois, Benta chega à mesa com Antonica e Emília já limpas e arrumadas, deparando-se com os bolinhos arrumados em forma de pirâmide numa travessa. Benta decide experimentar. Num revirar de olhos, acompanhado por uma expressão de êxtase gastronômico, Benta exclama:
– Delícia!
Uma ligação de almas, que duraria décadas, foi consolidada.
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Sítio do Picapau Amarelo: O início
FanfictionAntes de Pedrinho, de Narizinho, do sabugo Visconde e da boneca Emília. Esta história é uma prequel do Sítio como o conhecemos, adicionando alguns elementos e conexões, além de preencher algumas lacunas deixadas nas outras mídias: como Benta e Nastá...