Nastácia decide seguir o curso d'água. Após alguns poucos minutos de caminhada, encontra uma saída para a mata, a partir da qual o curso começa a ganhar corpo e jeito de rio. Ela percebe presenças em meio às árvores. Ela força os olhos para ter uma visão mais nítida e reconhece as criaturas pela descrição que lera em livros de folclore: eram caiporas, de baixa estatura e cabelos avermelhados.
Ela observa os caiporas com fascínio e uma ponta de medo. Da parte deles, parece haver apenas uma imensa curiosidade. Quando Nastácia faz menção de se aproximar, as criaturas se escondem rapidamente, todas ao mesmo tempo, gerando um ruído abafado de folhas pisadas.
Antes que Nastácia possa avaliar o que aconteceu, um ruidoso vendaval se forma ao redor dela, levantando várias folhas do chão e girando-as no ar. A longa saia de Nastácia se ergue, dançando ao redor de suas pernas, enquanto seus cabelos se emaranham. Em meio ao vendaval, uma risada infantil, típica de moleque, parece vir de todas as direções. À medida que o vendaval diminui de velocidade, nota-se um borrão vermelho se movendo pelo ar. O vento começa a parar e o borrão assume forma humana, mais precisamente de um moleque negro, trajando gorro e short vermelhos. Era um saci-pererê.
– Eu não acredito! – murmura Nastácia, incrédula.
– Pois pode acreditar. É verdade!– responde o saci, tocando uma das pontas do cabelo de Nastácia.
– Sai pra lá, seu peste!– grita Nastácia, estapeando a mão da criatura.
Num piscar de olhos, o saci já está longe, com um redemoinho formado em volta dele, da cintura para baixo. Tateando seus cabelos onde a criatura pegara, Nastácia percebe que umas duas mechas estavam unidas numa trança, da raiz às pontas. Ela acaba rindo da situação, enquanto fala para si própria:
– Aquele moleque devia trabalhar em um salão...
Ela olha ao redor até avistar o rio e segue em direção a ele. Era hora de voltar para o sítio. Basta-lhe seguir em sentido contrário ao fluxo do rio e fazer seu caminho de volta. Ainda na beira do rio, porém, Nastácia é distraída pelo som de um canto mavioso, de uma voz feminina doce e suave, que a enfeitiça e atrai.
e
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Sítio do Picapau Amarelo: O início
FanfictionAntes de Pedrinho, de Narizinho, do sabugo Visconde e da boneca Emília. Esta história é uma prequel do Sítio como o conhecemos, adicionando alguns elementos e conexões, além de preencher algumas lacunas deixadas nas outras mídias: como Benta e Nastá...