Exame externo e interno

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Acordou com barulho de caminhão de lixo passando.

Engoliu a saliva grossa em sua boca.

Sentia frio.

Madrugada.

Começou um bocejo cansado e engasgou com os fios que ainda pendiam por dentro da boca, passados por dentro dos seus lábios.

Nem abriu os olhos. Entendeu. Voltou a chorar.

“Eles te mataram?” – uma voz de mulher, baixo.

Gxxx secou e encolheu-se abraçando seu corpo.

Nada prestava, era tudo lixo.

Percebeu que estava nu, o chão estava molhado, era duro e rugoso com pequenas pedrinhas que incomodavam.

Passos pisando nas pedrinhas com baque duro... uma voz de mulher... sapato de salto?

Abriu os olhos.

Pés, dedos com unhas pintadas de vermelho... esmalte estava lascando, sandálias escuras, talvez pretas e de salto.

Os pés pisavam bem afastados... filetes de líquido viscoso vermelho carmim escorriam pelas pernas para os tornozelos... Não era só a cor, ele sentia o cheiro do sangue. Os pés pararam afastados.

Olhou para cima.

Uma mulher de pernas afastadas segurando algo entre as coxas. Sua saia azul estava encharcada de cor vinho. Sangue escorria por entre seus dedos... de suas coxas pelos joelhos esfolados para as pernas... Sua blusa estava rasgada, parte de seus peitos estavam à mostra, dava para ver o mamilo esquerdo... Os esfolões na pele, a sujeira da blusa, os joelhos... ela foi arrastada.

Arriscou olhar mais acima.

Ela estava inclinada, tentava vê-lo?

Os ombros também tinham marcas... vinco de alça de sutiã... Seus peitos eram grandes, conhecia a marca, mas não arranhavam... As alças foram arrancadas ou rasgadas... Tinha um rosto que não era uma beleza e nem um trubufu... era comum. A maquiagem tinha escorrido dos olhos fazendo uma máscara cinzenta ao redor e que, em algum instante, escorreu para suas orelhas. Parecia que estava de óculos... Ela chorou deitada... O batom pink borrou com o sangue pisado em seu lábio inferior e, aquele que escorreu pelos rasgos da mucosa, foi para o terço inferior do lado esquerdo... coloração vermelha socada, forçada no inchaço desse lado do rosto.

Quem lhe acertou era destro.

Os cabelos estavam desgrenhados e eram de um castanho médio desbotado. Parecia cabelo de boneca velha jogada no lixo.

“Você se matou?” – perguntou de novo a mulher com seus olhos assutados.

“Não.” – resmungou Gxxx.

Ainda não tinha arriscado levantar-se. A mulher segurava algo entre as coxas abertas, ele não conseguia ver o que era.

“Você é um deles? Eu não lembro de você...” – a voz da mulher boneca velha do lixo tremia.

“Não sei de quem você está falando.” – Gxxx falou devagar, engolindo as palavras, enquanto se movia para levantar.

Ergueu o tronco e quando tentou sentar sentiu uma fisgada, um puxo no fundilho. Doeu ardido. Fez uma careta e ajeitou-se sobre a coxa, livrando a pressão do traseiro.

“Está parecido...” – a mulher boneca velha no lixo olhava para suas mãos, entre as coxas ensanguentadas.

Gxxx viu e, com receio, olhou para as suas...

Ensanguentadas... Tremendo, tateou... O quinto membro estava lá, o par de bolas também... Suas roupas tinham sumido. Estava nu e pintado com sangue, seu próprio sangue. Apesar de um pouco constrangido com a presença da mulher, tateou mais baixo... Tinha que verificar o que mais aquela abominação atarracada tinha feito. Lembrava de ter desmaiado e depois... o que mais aconteceu? Sentiu dolorido, mas parecia tudo em ordem, nada rasgado nos fundos e uma fisgada!

Exame de corpo delituoso: ExpurgoOnde histórias criam vida. Descubra agora