Conclusão

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Acordou num salto, assustado.

Olhou ao redor.

Estava num hospital. Era um leito de hospital... nem tanto, era uma maca de hospital com uma parede divisória de um lado e um biombo do outro e mais um aos seus pés. Virou devagar apoiado em seus cotovelos para ver o que tinha em sua cabeceira… a parede com os bicos de gases terapêuticos, um monitor com fios conectados nele. De seu braço saia um longo, maleável e estreito tubo transparente acoplado num saco de soro com, provavelmente, algum medicamento... gotejava vagaroso no pequeno cilindro de conexão... indo para sua veia. No punho esquerdo, uma pulseira... seu nome. Tentou sentar e sentiu seus fundos bastante doloridos. O lençol escorregou, decobrindo parte de sua barriga... Tinha as marcas do Hospital Central estampadas... Levantou-o para espiar... Estava sem roupas, seria melhor chamar alguém.

Esperou um pouco.

Pensou.

O que tinha acontecido?

Não achava nenhuma campainha para acionar e chamar alguém.

Não devia ter dormido muito, eles não teriam deixado-o nessas condições por dias. E se não tivessem passado dias? O coma engana muito, o cérebro se perde quando fica nesses estados de confusão. A percepção do tempo é relativa. Foi tudo um pesadelo.

Olhou com cuidado para baixo, não queria uma tontura ou se desequilibrar e cair da maca, ou pior, cair e ela acertar sua cabeça.

Viu uma escada de dois degraus encostada na lateral da maca, não viu nada que pudesse calçar. O chão não parecia sujo, mas era um chão de hospital.

Seus ouvidos pareciam tampados. Cutucou com seus dedos... não estavam tampados. O acidente poderia ter afetado sua audição, os líquidos dentro do tímpano... Devia ser isso, por isso ouvia abafado... Desde que não se desequilibra-se...

Puxou o protetor lateral devagar, destravou a proteção e abaixou-a. Até aí estava tudo bem. Virou-se estendendo as pernas na lateral da maca, sentando. Foi doloroso, particularmente num ponto.

Bufou.

Sofreu um trauma... Aqueles residentes maquinados da cirurgia deviam ter feito o A, B, C, D, E completo... nem para poupar um colega daquele exame de Esfincter... Melhor não falar nada, um dia ia ter que fazer exame de próstata mesmo.

O complicado ia ser descer sem virar a maca, lembrava de casos que foram parar na sua mesa de exame, ele não queria ser um.

Biombo lateral afastou.

Gxxx quase pulou da maca de susto, mas acalmou quando viu que era uma enfermeira. Percebeu os olhos de reprovação dela fitando suas pernas pendentes na maca... ele sentado... sozinho. Logo atrás vinha um médico... residente da cirurgia, viu o crachá. Ótimo! Tinha acordado e o susto destampou seus ouvidos... Sorriu.

Eles não sorriram. Talvez não tenham visto.

"Ele estava assim." – resmungou a enfermeira para o médico.

"Tudo bem." – o residente pegou no braço dela e afastando-a... – "Está melhor, doutor…?" – pegou um caderninho do bolso, lendo rápido algo – "… Gxxx. O senhor já levantou!... Ainda bem que esperou para descer, essas macas viram fácil. Como está se sentindo, alguma tontura, está enxergando bem?" – era seco, mas de certa forma amigável.

Gxxx sentiu que eles não gostavam dele e a ironia... Realidade. Eles não tinham porquê gostar dele, nem o conheciam. E o resto... que ele passou... desvaneios da mente. Eles não sabiam. Foi bobo ter sorrido.

"Só estou com sede. Tenho que ficar em observação?" – Gxxx até queria contar tudo o que aconteceu, discutir a tormenta que sua mente passou com alguém, mas preferia mais poder ir para casa, tomar um banho. Sentia-se sujo, e deitar.

Exame de corpo delituoso: ExpurgoOnde histórias criam vida. Descubra agora