Discussão

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Os tremores que tentavam aquecer seu corpo fizeram caimbras em suas pernas, seus braços, suas costas, sua barriga. A dor o acordou.

Gxxx tremia e contraía em espasmos. Os trancos fizeram com que expelisse o que tinha engolido.

Sentiu o odor fétido do líquido, pensou que seria o mesmo que enfiar a cabeça numa privada usada por todos os números.

Os espasmos não o ajudavam a ter forças para erguer o corpo... Melhor ficar ainda de lado.

Sentia o gelado do chão... liso e molhado. Algo entre os lábios, tentou cuspir. Enroscado entre os fios. Logo conseguiria controlar seus tremores, tiraria aquilo de sua boca, enquanto isso, continuaria tentando cuspir.

Seus dedos estavam crispados e duros.

Começou o formigamento, seus músculos estavam voltando.

Sua cabeça estava melhor, sentia algum calor vindo na direção de sua cabeça.

Desistiu.

Aquilo não era um coma como ele insistia... Como chamaria aquilo?

Importava?

Importava fugir.

O que quer que estivesse gerando aquele calor... estava ajudando-o.

Os lábios não estavam mais dormentes, sentia que o que tinha entre eles era macio, mas consistente... Naquele ponto, tinha que usar o que estivesse a seu alcance. Tentou tateá-lo com a língua... por entre os fios... Uma semente? Não podia ser um cocô. E tinha algum fio enroscado entre seus dentes... preso àquilo. Um absorvente íntimo?!

Num movimento desesperado, desvencilhou o pequeno corpo dejeto dos fios e dos seus lábios com seus dedos trêmulos e descoordenados. O pequeno ficou pendurado, pendente pelo seu cordãozinho de sua boca, al dente. Ele tentava puxar o fio, mas escorregava por entre seus dedos. Devia ser a baba, a saliva que lubrificava o fio entre seus dedos gelados, fazendo-o parecer gelatinoso.

Desistiu.

Deixou aquilo pendente quando o barulho do que parecia uma porta de metal que bateu o fez sentar-se e virar na direção do som.

Doeu... atrás.

Gxxx viu a porta da Instituição de Medicina Legal... estava aberta... ainda...

Ele estava de novo dentro do túnel.

O chão molhado... foi ele.

Ainda estava nu, úmido. O sangue e seus coágulos tinham sido... lavados. Cortes bem superficiais... hematomas... equimoses.

Tocou-se atrás.

Doeu.

Inspirou fundo... Dane-se! Não seria pego e impedido por uma porcaria de fio. Não, não seria louco de tentar arrancá-lo... A criatura pode ter costurado... Se estivesse muito fundo, poderia sangrar até morrer.

Ele não estava morto e não queria morrer.

Ia sair dali.

Inspirou mais uma vez e foi juntando o fio, enrolando como dava. Lembrando da boneca do lixo... Sentou meio de lado, abrindo bem as pernas e com todo o cuidado que foi possível, enfiou o fio para dentro. Seria mais seguro.

Barulho de metal!

Virou para a porta.

Uma bacia...? Um balde...?

Dane-se! Era a saída!

Levantou cambalente e foi caminhando trôpego, apoiando nas laterais do túnel para a porta do seu prédio.

Exame de corpo delituoso: ExpurgoOnde histórias criam vida. Descubra agora