Desculpem a demora.
Problemas técnicos kkkNossos lábios se desprendem depois de instantes ínfimos e ao mesmo tempo infinitos. O meu corpo dói com o choque da situação e eu sinto que, se os meus sentimentos são o fogo, os fios que formam os meus filamentos entrarão em combustão a qualquer momento.
Um beijo poderia quantificar a forma que é o ritmo sequencial das batidas do meu coração? Poderia tornar delineadas as minhas ações? Parece que só tornou tudo ainda mais insano.
— Áttie – Narkys sussurra, e eu ainda posso sentir o toque sensível e quase imperceptível dos seus lábios nos meus.
Cada inspirar dele ameaça me destruir como bloquinhos de brinquedo e me remontar a seu bel-prazer.
— Tenho uma coisa para te mostrar – ele fala, finalmente sendo misericordioso o bastante para se afastar de mim.
Assinto, tentando suprimir o sorriso patético e adolescente por baixo de uma camada indiferente e controlada.
— Vem. – É tudo o que ele fala, enquanto me puxa para fora da sacada.
Sinto o olhar de todos nos capturar com desdém, admiração... Até malícia. Porque todos sabem a direção que tomamos ao subir a grande escadaria dourada. O lugar onde tantas vezes eu estive, apenas sustentada pelas minhas fantasias inúteis e pó sufocante. Apenas eu e meus fios de cobre.
A dor da dúvida é lancinante e minha consciência começa a gritar como uma inimiga que eu posso estar entendendo tudo errado. Que talvez não seja nada tão mágico quanto estou imaginando. Porém, eu já cansei. Simplesmente cansei de viver nas arestas de meus temores e dúvidas simplesmente por não querer chamar a atenção. Simplesmente por continuar colecionando motivos para me manter envolta da monotonia e da mediocridade.
Eu não ressurgi em órgãos de metal para deixar de viver da mesma forma.
Então, trato de por um sorriso no rosto e seguir o príncipe, seja lá para o que for. Chegamos até a porta de seu quarto, que mais se assemelha a porta de um grande gabinete ou tribunal do que do dormitório de um jovem órfão.
Ele abre a porta e finalmente larga a minha mão. Só agora percebo o quanto ela está suando. Ele vai até a cômoda, que outrora eu tanto encerei e arranca da gaveta um bolinho de papéis, cheio de orelhas.
— Vai me passar tarefas, alteza? – brinco.
Ele ri e tenta, inutilmente, desamassar os papéis. Arranca uma caneta do bolso e começa, alternando a íris castanha entre as folhas e eu.
— Áttie, seu teste de aptidão será logo em breve. Então, como um príncipe mimado e sem muito que fazer durante o dia, tomei a liberdade de pesquisar, mais ou menos, o tipo de coisas e perguntas que fazem neste teste.
Murcho os meus ombros, apesar de achar fofo e gostar dos fins daquele rápido passeio.
— Nossa, Narkys. Pensei que seria algo mais...
— Ousado? – ele pisca e dá um meio sorriso que me desmonta – Se você quiser...
Dou de ombros e me aproximo, tentando olhar os papéis.
— Olhe isso aqui – ele retoma. – É um teste vocacional. É bem semelhante ao teste de aptidão oficial, porém algo mais simples, tirado de um site de estudantes qualquer.
— Certo.
— Vamos testar você, Áttie. Vamos ver no que você é boa.
— Provavelmente em lustrar globos e mesas de príncipes irritantemente estudiosos.
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Coroas de Lata - Sinópticos |Conto2|
Short StorySegundo conto da série Coroas de Lata (Primeiro conto: Sintético - disponível no perfil da @QuaseCarol) ☆Prêmio de Primeiro Lugar no desafio 6 (distopia) do RealezaBr☆ ----------------------------------------------- Abaixo a monstruosidade. Era isto...