O sol do fim da tarde enfim se põe no horizonte, deslizando pelo céu claro, queimando, completamente vermelho e esplendoroso. Como se o próprio Apolo estivesse puxando sua carruagem e levando o sol para adormecer nas águas azuis do Mar Egeu.
Pouco a pouco vejo Atenas se transformar num mar negro de escuridão, que logo é dissipada pelas luzes das casas que ficam ao poente do palácio. A iluminação laranja se rebela diante dos meus olhos e consomem um pedaço do céu, como se a cidade estivesse pegando fogo. A imagem por si só é uma catástrofe de beleza. Assusta e encanta ao mesmo tempo a quem observa deste ângulo.
Não há o que comparar.
Toco no vidro frio da janela e me inclino um pouco mais para frente, minha respiração embaça minha imagem e sei que vou ter que limpar depois, mas não me importo. Esse pedaço raro de beleza deve ser apreciado, nem que seja por simples segundos enquanto as pessoas passam e olham de esguelha.
Percebo a hora que ele entra na sala. O local parece ficar mais aquecido e sinto seu calor ultrapassar qualquer barreira e tocar em minha pele, como se fosse algo sólido. Respiro fundo, a imagem embaça ainda mais na janela e em seguida se desmancha, e eu desmancho com ela quando sua voz forte adentra em meus tímpanos e corre pelas minhas veias, nadando direto para o meu coração. Tenho medo de que ele possa escutá-lo, de que se eu virar em sua direção Narkys possa ver seu contorno pulsando contra o meu peito fortemente. Já não sei quem é mais tolo. Eu ou meu coração.
- Querendo atravessar janelas Áttie? Isso é novo. - Esboço um sorriso para mim mesma, mas logo o apago antes de me virar para encará-lo.
- Alteza. - Digo com uma reverência desajeitada e sem graça. Narkys tem um sorriso nos lábios e, de repente, tudo o que posso fazer é mirar neles e divagar. Meus pensamentos impróprios sobre beijos e mais beijos me fazem corar e desviar o olhar, mas interiormente desejando esse feito.
- Não te vi hoje. - Comenta caminhando até mim. Hoje veste jeans azul com uma blusa social branca. Inclino a cabeça para o lado querendo saber onde quer chegar e isso faz com que uma mecha loira escape do coque que fiz, caindo em meu rosto. Meu falso cérebro manda um comando aos meus dedos, ordenando que eles levassem a mecha para trás da minha orelha. O príncipe segue todo o percurso que faço e não posso descrever seu olhar além de encantado.
Isso me surpreende e lá estou eu ruborizando novamente.
- Hã, o que? - Do que estávamos falando mesmo?
- Não te vi hoje. - Repete e dá um passo em minha direção. - Nem ontem. E nem a semana toda. Disse que estaria no meu quarto todos os dias na mesma hora, mas sequer apareceu.
- Ah, isso. - Falo sem graça e encaro meus pés. - Greta, minha chefe, ficou sabendo que você estava ocupando o quarto nas minhas horas de limpeza. Trocou o horário. - E fiquei chateada a semana toda.
- Entendo. - Ele faz uma cara pensativa. - Pensei que tinha a ver com o fato da nossa última conversa. - Lembro-me dos acontecimentos daquele dia e mordo os lábios. Ele me oferecer para ser sua dama de companhia foi o fim da picada.
- Não. - Comento sorrindo. E lá está novamente, aquele olhar encantado que me confunde e que me faz desejar mais. - E sinto muito ter recusado seu pedido, Alteza. Não é minha área de especialização.
Dando de ombros, Narkys me observa. Observa minhas roupas, meu rosto, meus sapatos. Me encara dos pés à cabeça e coça o queixo, como se pela primeira vez não soubesse o que fazer.
Mas então, quando seus olhos escuros se iluminam, sua expressão sorri para mim e seu corpo demonstra toda a alegria que sente em rajadas de energia, sei que ele teve uma ideia do tipo que apenas Narkys Archeron II tem. Espero para ouvi-la.
- Já sei o que está errado, Áttie. Esse tempo todo eu estava fazendo errado. - Ele praticamente caminha correndo até mim e me segura pelos ombros. - Não sou eu que preciso de ajuda. Tenho ajuda até demais. Não sei como meus criados não me ajudam no banho. - Acho graça e rio. - Mas é sério agora. Não sou eu que preciso de ajuda. Você precisa.
Paro de rir abruptamente. Minhas articulações doem e não consigo me mexer. É como se de repente eu fosse feita de metal e eles estivessem enferrujados, era como se meus fios estivessem escapado de seus respectivos postos e se enrolado de uma maneira irremediável em meus ossos. Eu sou um ninho de pássaros mental.
- Narkys... - Estou tão chocada que nem ao menos percebo que quebrei uma das mais importantes regras de etiqueta e o chamei pelo nome ao invés do título.
- Eu sei, é uma ideia fantástica. - Fala balançando a cabeça orgulhoso. E ele realmente parece acreditar em suas palavras. - Você não nasceu para isso Áttie. Limpar chão, paredes, janelas. Você deveria ser uma dessas modelos famosas, uma musa, algo desse tipo. Deveria estar usando sua inteligência e seu carisma para outras coisas ao invés de deixar príncipes bobos. - Ele pisca e se dá conta do que falou. - Esqueça o que eu falei. Não tem nenhum príncipe bobo e você não é carismática, inteligente e... e... Linda. - Sua mão toca meu rosto suavemente e eu fecho os meus olhos. Mas tão rápido quanto a ação veio ela se vai. - Definitivamente não é linda. Não mesmo. - Balbucia.
Abro os olhos e fico sem saber o que fazer. Toda a proximidade, a invasão de espaço, os inocentes toques que me queimam de dentro para fora... Narkys Archeron II é alguém para se apaixonar. A beleza dele é mais do que apenas a exterior. Seu coração é lindo, sua gentileza e sua diversão são incomparáveis. Não é preciso de muito para que um cérebro entenda que Narkys é um imã para corações, mesmo um cérebro artificial. Ele conseguiu pescar o meu. E mesmo que eu queira entregá-lo em suas mãos no momento, sei que é perigoso. Na verdade, é além disso. Seria irresponsável, inevitável e seria a causa da minha inexistência. Ainda sou algo que abomina, mesmo que não saiba disso.
Gente
Desculpa o sumiço. Estou sem Internet (aquela facada no coração).
O que acharam do capítulo? (Eu sou totalmente - "Narkys? Oi, tenho interesse." - nessa vida)
Deu até saudade de escrever sobre o diabinho. Aí meu colassaum ~inserir meme~
Até o próximo ♡
Bjs
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Coroas de Lata - Sinópticos |Conto2|
Storie breviSegundo conto da série Coroas de Lata (Primeiro conto: Sintético - disponível no perfil da @QuaseCarol) ☆Prêmio de Primeiro Lugar no desafio 6 (distopia) do RealezaBr☆ ----------------------------------------------- Abaixo a monstruosidade. Era isto...