Coisa Linda

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Coisa linda

vou pra onde você está

não precisa nem chamar.

Coisa linda

vou pra onde você está.

Estava indo para a casa da outra quando um telefonema a apressou. O destino, por fim, decidiu separá-las. Uma iria embora e a outra ficaria. Claro que se veriam, visitariam uma a outra, mas já não seria igual, elas bem sabiam. Sentaram-se uma ao lado da outra na cama da garota de cabelos pretos, os fios caiam-lhe sobre os ombros e parte sobre o rosto. A mais alta achou por bem animar a amiga, mesmo que ela já não se sentisse tão animada assim. "Vais achar novos amigos e conhecer novas pessoas" ela dizia com o sorriso aberto no rosto emoldurado por aquela imensidão de caracóis.

"Tu me conhece bem para saber que não será fácil isso" respondeu a outra com uma cortina de cabelos negros a esconder-lhe o rosto da amiga ao seu lado. "Mesmo tu ainda tem discussões comigo, mas sabe como sou e os outros não saberão. Além de que nenhum deles será como você é."

"Mas você é linda" falou ela passando os braços em volta dos ombros da menor que se encostou em seu ombro. E, consigo mesma, pensou que iriam todos a se apaixonar pelo jeitinho todo lindo que tem a sua melhor amiga.

Linda do jeito que é

da cabeça ao pé

do jeitinho que for.

É, e só de pensar

sei que já vou estar

morrendo de amor,

de amor.

Coisa linda

vou pra onde você está

não precisa nem chamar.

Coisa linda

vou pra onde você está.

Conversaram mais um tanto, mas os ânimos pouco mudaram. Numa hora o diálogo parou e nenhuma das duas disse mais nada. A mais alta sentiu as mãos delicadas tocando seu braço fino que logo foi abraçado pela amiga que, logo depois, recostou a cabeça em seu ombro. Ela jogou para o lado seus cabelos encaracolados e recostou a cabeça na da amiga. Deitaram-se ainda nessa posição, seus dedos se entrelaçaram e ambas encararam o teto.

Elas adormeceriam dali a pouco, a dona dos cabelos encaracolados sabia disso, mas não se incomodou em avisar os pais que sabiam onde ela estava. Logo que finalmente fechou os olhos, depois de ter certeza de que a amiga já dormia, ela ouviu menor murmurar. "Linda como é, você não teria problemas em arrumar amigos lá", tinha sido a frase dita em sussurro, mas ela já estava dormindo antes de pensar em responder o quanto a amiga era linda também.

Linda feito manhã

feito chá de hortelã

feito ir para o mar.

Linda assim deitada

com a cara amassada

enrolando o acordar,

o acordar.

Coisa linda

vou pra onde você está

não precisa nem chamar.

Coisa linda

vou pra onde você está.

Ao acordar a memória da ultima frase dita entre elas ainda estava na cabeça cheia de cachos. Elas pouco haviam se movido e as mãos continuavam unidas, mas a outra havia se virado de frente para a amiga e os cabelos negros e lisos lhe cobriam a face. A maior afastou os fios e encarou o rosto adormecido com um sorriso triste pensando no quanto a amiga era boba por não perceber o quanto era linda.

Ah, se a beleza mora no olhar

no meu você cegou e resolveu ficar

pra fazer teu lar,

pra fazer teu lar.

Acarinhou os cabelos e o rosto da morena enquanto sorria lembrando-se dos bons momentos. Deu-lhe um inocente beijo na testa e separou os dedos para se virar e voltar a adormecer com a testa colada à testa da outra, sabendo que, custasse o que for, não ficaria muito tempo sem vê-la.

Coisa linda

vou pra onde você está

não precisa nem chamar.

Coisa linda

não precisa nem chamar

vou pra onde você está

Esse SorrisoOnde histórias criam vida. Descubra agora