ASÍ ERAN NUESTROS DIAS

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- Lionel.

É claro, não poderia ser mais do que isso. Apenas um sorriso e seu nome saindo com algum humor da boca de Neymar. Sentado diante dele na mesa do refeitório, o brasileiro sorri discretamente e o encara com um olhar que diz mais do que qualquer palavra poderia falar. Não podem passar disso, não diante de todos. Perdidos naquele olhar, todas as lembranças voltam e encontram o ponto comum que é a saudade.

- Resolveu voltar?

- Não. Só vim fazer uma visita rápida.

- A quem?

Neymar sorri novamente.

- O que você acha?

- Acho que você não deveria estar aqui.

- Não deveria, é? Foda-se. Já estou. E você vai me tratar assim?

Era difícil dar o braço a torcer. Messi calcula quanto pode se entregar, já sabendo que não terá tudo o que espera em troca. Ao redor deles, outros jogadores passam e param para cumprimentar Neymar, causando grande alvoroço. Não tem como eles conversarem em paz assim. Não vai ser ali que aquela questão vai se resolver.

Pode ser que não se resolva nunca.

Neymar não parece estar preocupado com nada. Conversa com os colegas e é simpático com todos. Quem sabe não tenha vindo por causa dele, afinal, Messi pensa. Sabia desde sempre que o mundo do jogador era enorme e que ele era apenas uma parte, possivelmente a menor, forçada a diminuir a cada dia mais dadas as circunstâncias.

Sem saber o que fazer, levanta abruptamente da mesa e deixa Neymar ali. Era estranho sentir o coração tão acelerado dentro do peito. Suas mãos tremem enquanto ele se afasta em passos lentos, os olhos grudados no chão.

No vestiário, nenhuma resposta vem dele ou de quem quer que seja. O motivo de Neymar ter voltado. Se eles ainda teriam algo. Se ele sentia o mesmo. Se sentiam o mesmo, passado todo aquele tempo. As horas vão escorrer suaves até ele desistir de se fazer todas aquelas perguntas. Uma vida inteira vai passar sem que ele saiba, era melhor não perder tempo com isso.

Se deita no banco de barriga para cima e fica olhando o teto. É lógico que não vai adiantar nada. Seria melhor que Neymar nem tivesse aparecido, pensa com raiva. Por que era sempre ele que decidia como Messi deveria se sentir, no fim das contas. O que era cansativo e humilhante em muitas formas. Gostaria de não se deixar dominar tão fácil. Se senta no banco, inquieto. Amar alguém era sempre essa sensação incômoda de não caber dentro do próprio corpo. Com Neymar ali tão perto, a sensação tinha voltado com a força de um soco e o deixava sem ar.

- Meu filho tá aí.

Neymar diz a título de "olá" ao entrar no vestiário e encontrar Messi. O argentino bufa e com isso arranca um sorriso do brasileiro.

- Ainda está com raiva de mim?

- Você foi embora e não deveria ter voltado.

- Não deveria?

- Não.

- Não deveria.

- Já disse. Não.

Estava sendo ríspido como não costumava ser, não conseguia evitar. Ao ver Neymar sentando ao seu lado, respira fundo e continua mirando os próprios pés. Quanto do que ele sentia podia ser extravasado? Era como tentar conter com as mãos nuas uma panela de pressão que explodia pelos ares.

- Eu vim só para te ver. É isso. Peço desculpa se causei esse transtorno todo. Você está chorando?

- Não. Você não deveria se abalar, de qualquer modo. No PSG suas chances são melhores. Você não é apenas uma letra em uma sigla, não foi o que você disse para a imprensa? Ou apenas um... Algum tipo de peça que não se encaixa na minha vida, não foi o que você disse para mim?

Amor em Jogo | LIVRO 01 | Messi & Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora