A menina do cabelo cor de rosa

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Era uma vez uma menina que tinha o cabelo cor-de-rosa. Rosa, rosa. Rosa como bala de morango. Rosa como algodão doce. Rosa como um bicho de pelúcia cor-de-rosa que enfeita quarto de bebê. Tinha os cabelos compridos e os balançava ao vento, para lá e para cá, em rodopios dançarinos. Rosa que dançava ao vento tão bonito que parecia um carrossel. Tão lindo!

A pele da menina do cabelo cor-de-rosa era branquinha, muito branquinha. Talvez por isso o cabelo parecesse ainda mais rosa. Seus olhos curiosos tinham a cor do céu antes de chover. Um cinza tão intenso que nos fazia esperar pela chuva. E chovia. De vez em quando, os olhos da menina do cabelo cor-de-rosa choviam. Quase sempre escondidos, choviam.

A boca da menina do cabelo cor-de-rosa tinha um sorriso tímido. Ele parecia sempre se esconder atrás de um ou dois tufos de cabelo. Quando os olhos choviam, ele se escondia bem fundo e ninguém o via. Mas os olhos paravam de chover e ele aparecia, timidamente, como um raio de sol no meio das nuvens. E quando ele aparecia, o rosto da menina do cabelo cor-de-rosa se iluminava.

As pernas da menina do cabelo cor-de-rosa eram cansadas. Pareciam se mover devagar, devagar como um rio na seca, sem pressa de chegar onde tinham que ir. Já os seus braços eram ávidos. Moviam-se rapidamente e tudo acontecia como num filme: o braço inquieto, sabendo o que viria, a picada de mosquito- e então o braço imóvel e a cabeça girando. Todo o corpo num torpor desconfortável, enquanto a mente sonhava em voar para longe dali.

A menina do cabelo cor-de-rosa estava entrando na sua quarta década de vida e, há muito, já deixara de ser menina. Mas, ao ouvir do homem de branco a notícia, algo se deu dentro dela. Uma vontade de viver, mais do que nunca. Uma vontade de voltar a ser criança e deitar no colo de sua mãe onde nunca nunca nunca mal nenhum seria capaz de lhe alcançar.

A menina do cabelo cor-de-rosa nasceu sem cabelos. Teve cabelos escuros, por muito tempo compridos. Depois, não teve mais um único fio na cabeça. E foi então que resolveu mudar. E quis ter os mesmos cabelos da sua boneca preferida. E teve os cabelos cor-de-rosa durante muito, muito tempo.

A menina do cabelo cor-de-rosa pode estar sentada ao seu lado, neste momento, e você nem sabe disso. Ela viu muitas outras meninas, com e sem cabelo, alcançarem a lua e virarem estrelas lindas, que iluminam suas noites. Mas ela continuou aqui. Com o cabelo crescendo, quase todo preto – alguns fios brancos, que ela não disfarça mais. E uma única mecha mínima, imperceptível aos olhos desatentos, cor-de-rosa. Para que ela sempre se lembre da sua história e a leve adiante.

 Para que ela sempre se lembre da sua história e a leve adiante

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