Sapatos iludem, sapatos confundem. Sentada, acendia um cigarro atrás do outro, enquanto atirava lamentos e suposições sobre sua amiga, que atenciosamente a ouvia sem julgamentos aparentes. Magra, de estatura mediana, cabelos curtos e olhos bonitos que contrastavam com uma suavidade de sua rosto, permanecia desiludida e cega, continuamente a eterna busca pelo certo alguém ideal. Talvez porque o mundo seja carregado de babacas demais, ou porque tivesse sido uma babaca demais com caras legais.
E a vida nesse inverso reverso, onde as canções tocavam e insistiam em dizer do valor que o ser humano não da quando tem na mão, continuava sempre com Marias apaixonadas por Joões, que por sua vez gostavam de Anas e as trocavam por Helenas. Sendo assim, as duas amigas permaneceram lá por horas, contando casos, dissertando desilusões e juntas num café compunham uma prosa composta de mágoas, expectativas falhas, mas nunca sobre casamento, família, filhos ou sobre essa doença social que o mundo chama de padrão.
Mais um cigarro e um último conselho vindo de uma delas "sapatos", um dia todo mundo encontra os sapatos certos, aqueles que não calejam os pés, seguros, confortáveis e sempre lá.