Tudo muito suspeito...

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   I.

- Não!

- Não? Como é que podes dizer isso?

- Ela é a minha filha! Não quero que andem a ver o corpo dela!

- Já falamos sobre isto. É para o bem.

- Bem? Bem de quem? Dela que está morta? De mim que perdi uma filha? De ti que nem queres saber dela? Poupa-me!

- Não. É para um bem comum. Um assassino vai ser posto atrás das grades, e mais ninguém irá sofrer!

- Sim, mas e depois? Isso vai trazer a minha filha de volta? Isso vai trazer menos sofrimento a nós que perdemos alguém? Não me parece.

- Elaine, tu não podes fazer isso! Eu sei que nada nem ninguém vai trazer a tua filha, mas tu tens de ser compreensiva, há uma pessoa à solta e nós temos de apanha-la antes que mais alguém acabe morta. Já que não posso fazer a autópsia à Arlete, deixa-me fazer uma investigação à casa para saber o que a poderá ter matado. Por favor, é a única coisa que te peço.

Elaine parecia indecisa, durante os poucos minutos de conversa ela parecera muito estranha, estava mais fria e distante. Não parecia a mesma pessoa que tanto se ouvia falar pela vila inteira.

Elaine Clark sempre fora muito respeitada, e embora estivesse nos quarenta, esta aparentava ter muita menos idade, o que é algo de extraordinário para alguém que teve quatro filhas.

Com os cabelos castanhos a fugir para o loiro, e com os seus grandes e brilhantes olhos esverdeados, Elaine sempre fora uma das mulheres mais bonitas da vila, mesmo quando era mais nova sempre teve rapazes a andar atrás dela e sempre que era dia de S. Valentim, esta recebia muitos presentes: uns mais fofos onde tinham cartas com poemas muito românticos, outros eram simplesmente tralha desnecessária. Mas Elaine sempre fora muito firme na sua vida amorosa.

Mais tarde, quando havia viajado para Paris, Elaine conheceu Max.

Max era um homem muito bonito e atencioso e por mais anos que passem essas duas características continuam fortemente visíveis nele. Mas com o trabalho e as viagens constantes, Max veio a ficar distante. Parece que a sua relação com as filhas já teve dias melhores, mas esse não seria um motivo de matar uma das suas filhas. Apesar das zangas e discussões,ele amava muitos as suas meninas, e fazia sempre tudo para as ver felizes.

- Está bem, mas por favor faz o que tens de fazer e não te ponhas a esturbar o trabalho dos criados, eles já têm problemas sufecientes por causa da falta de luz.

- Sim! Obrigada. Já agora porque é que há falta de luz?

- Quando nós fomos uma vez à América, nós conheçemos uma senhora, que tinha acabado de perder o seu marido e filho na Guerra, e então para o luto deles ela andava sempre no escuro. Ela dizia que sempre que acendia a luz sentia um vazio enorme, e no escuro ela sentia-se menos solitária. Quando eu perdi a Arlete eu senti exatamente a mesma coisa, claro que isto é uma coisa temporária, afinal a nossa vida tem de continuar e assim com ela esta casa voltará ao normal.

- Muito bem.- disse Agatha a alevantar-se. Estava ansiosa por começar (finalmente) as investigações. Não pouparia nos questionários. Era necessário fazê-los para que se descobrisse o culpado daquele terrível crime. Começaria as investigaçoes pelo local do crime: o quarto.

A casa dos Clark, tinha perto de cem quartos, e mesmo com pouca luminosidade, ou quase nenhuma, notava-se que os Clarks eram uma das famílias mais bem sucedidas de Inglaterra.

A sala, à qual Agatha tivera a conversa, não era uma simples e vulgar sala, mas sim um salão de baile, claro que com os enormes sofás e com a mesa de madeira polida no centro do salão, não a fazia demonstrar a sua grandeza. Ao longo das paredes, conseguia-se notar quadros cujo as pinturas variavam ao longo da parede: Um com prados verdes, ou talvez acastanhados, outros com homens montados num cavalo branco numa postura de bravura, uns quadros minúsculos com a pintura das filhas quando eram pequenas, outros grandes onde mostravam a família clark e os seus ascendentes. Outros até mostravam um casal que parecia estar muito apaixonado, a dançarem uma espécie de valsa. Esse era o preferido de Agatha. Agatha sempre gostava de quadros que a faziam criar uma história, e aquele talvez fosse um dos melhores. Nada melhor do que uma bela história de amor.

Uma Traição MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora