5 - O depoimento do pai

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Dinis tinha os vasos sanguíneos de seus olhos azuis em cor de sangue. Jaime olhava para ele, como se temesse que a qualquer momento o homem se sentisse mal. A viagem de carro tinha sido silenciosa e o jovem estava sentido-se culpado por se vangloriar interiormente de ter conduzido um porshe panamera. As mudanças fizeram-lhe impressão, mas podia se habituar aquilo facilmente.

Quando chegaram à Delegacia de Viseu, Lourenço guiou os outros dois homens para a parte dos escritórios. Jaime nunca saira do DIC, nunca exercera naquela delegacia, então não conhecia o local.

Enquanto Lourenço se sentava numa das secretárias, Jaime fez sinal para Dinis se sentar e ficou em pé olhando o procedimento.

Dinis fornecera o seu cartão pessoal para o policial logo ao princípio e sem que lhe perguntassem, deu o seu nome inteiro, a sua data de nascimento e a sua morada. Só se calara porque percebera que estava tomando o controle da situação e tomara consciência disso. Os nervos faziam com que falasse muito.

- Qual foi a última vez que viu a sua filha? - perguntou Lourenço, fitando Dinis de uma maneira compassiva.

- A última vez que a vi foi à cerca de dois fins-de-semana atrás, quando estive com ela nos dias a que tenho direito, mas a última vez que falei com ela foi na terça-feira por telemóvel.

- Havia algum assunto importante que precisassem falar?

- Não me parece. Ela apenas me ligou porque eu fiz questão que ela o fizesse - Lourenço o olhou intrigado. Dinis percebera o que lhe viera em mente - Ela ía ter um teste de matemática e estava nervosa com isso. Eu fiz questão que ela me ligasse quando obtivesse o resultado.

- Não que seja relevante - comentou Lourenço - Mas já agora que nota é que ela recebeu?

- Um dezesseis. Perfeitamente aceitável, não acha? - Lourenço concordou acenando com a cabeça - Sabe, Violeta era muito perfeccionista. Não tolerava falhas, sobretudo as próprias falhas. Não que tivesse razões de queixa. Ela era uma óptima aluna. Das melhores da turma. Só a matemática é que a deixava nervosa e mesmo assim ela tinha notas bem satisfatórias.

- Ela tinha algum professor ou professora preferido.

- Creio que sim. Ela gostava tanto da professora de língua portuguesa quanto da própria matéria. Destacava-se bem acima dos colegas nessa área. Escrevia muito bem a minha filha. Ganhou concursos de escrita estudantil e adorava ler. De vez em quando compro-lhe... - Dinis apercebeu-se que empregara mal o modo verbal, deu uma tossidela afastando o choro que ameaçava voltar e continuou - comprava-lhe livros. Ela adorava.

Dinis disse o nome da escola, o nome da turma, o número de turma e até o nome da rua onde a escola se encontrava.

- Sabe com quem ela se dava na escola? Havia algum namorado na vida dela?

- Não conheço muito bem, mas a melhor amiga dela chamasse Diana Ribeiro. Eu tenho o número dela. Vai ficar muito triste quando lhe der a notícia... - fechou os olhos - Posso beber alguma coisa? Tem distribuidor de cafés?

Jaime respondeu que sim às duas perguntas e perguntou o que o homem queria beber. Em segundos voltou para o lugar onde estava em pé, depois de pousar o cappuccino fumegante na mesa.

- Sabe, era o único café que ela conseguia beber. Cappuccino. De resto, é como a mãe dela, não gostava de cafés.

Lourenço acenou a cabeça e deu continuação às questões.

Caso Violeta (Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora