Diana aconselhara os inspectores a irem primeiro à turma do 11ºH, a turma de Abel, Rui e César, mas os inspectores começaram por as salas mais próximas, talvez tivessem sorte ao perturbar a sala de física ou química antes da hora do almoço.
Quando chegaram à sala e Henrique bateu à porta determinado, uma garota abriu a porta no segundo a seguir, como se tivesse adivinhado que iriam bater à porta antes disso acontecer.
Os três inspectores mostraram os crachás e Henrique chamou os três rapazes da lista.
A turma olhava para eles com os olhos arregalados e então os três rapazes saíram.
Como haviam combinado, cada inspector tomara conta de um garoto diferente. Fazer perguntas aos três ao mesmo tempo não era uma boa ideia. As respostas seriam influenciadas e apesar daquele não ser um interrogatório formal, tinha importância para conhecer todos os eventuais suspeitos de homicídio de Violeta. Mais tarde eles iriam receber em casa uma carta que os obrigava a irem à polícia prestar declarações oficiais.
Por hora, eles sabiam que não eram depoimentos oficiais, não tinham intenção que o fossem, a intenção era compreender quem eram aqueles garotos, o impacto que tiveram ou ainda tinham na vida de Violeta. Era importante para o caso, sobretudo tendo em conta que não tinham pistas onde se apegar e tinham que começar por algum lugar.
Henrique fizera questão em ficar com a abelha mestra do grupo, Abel. O mais cruel dos ex-agressores de Violeta. Tinha curiosidade em o ouvir, para conhecer a sua personalidade, o seu carácter. Dava-lhe voltas ao estômago só de pensar que com menos de 11 anos quase matara alguém. Em todos os anos de polícia, era a primeira vez que tinha um relato tão macabro de uma criança. Ele sabia que haviam casos assim no estrangeiro, mas era aquele tipo de notícias que a gente só pensa que existe muito longe da nossa realidade.
Perguntou as coisas rotineiras que perguntava a qualquer testemunha, anotando quase tudo por iniciais no seu bloco de apontamentos e então abordara Abel com o assunto do bullying, coisa que o rapaz tratou logo de negar da maneira mais pacífica possível. Ao contrário de Bernardo que quase tinha escrito na testa a palavra "culpado", Abel tinha uma performance admirável ao encenar uma atitude ofensiva e ao fazer de contas que não sabia porque estava a ser interrogado pela polícia.
Prestara-se ao papel de fazer de inocente e ignorante e Henrique até poderia ter acreditado, não fosse ter quase vinte anos de experiência na sua carreira. Não era um garoto de uns 16/17 anos que lhe iria mandar areia para os olhos. No entanto, Abel Cunha era muito seguro de si, tinha uma atitude de gente poderosa. Henrique já tinha conhecido pessoas assim. Era tudo fachada, uma maneira de desviar as culpas, de parecer inatingível e livre de erros. O que esse tipo de pessoas não tinha, era a astúcia de lidar com um polícia que conhecia a mente das pessoas mais perturbadas do país. Na academia policial em Lisboa, onde estudara, tivera psicologia avançada, o ideal para lidar com psicopatas de todos os tipos e a maior parte dos psicopatas tinham a mesma atitude de Abel, pensavam que estavam protegidos de tudo, que nunca apareceriam testemunhas, que nunca existiriam falhas ou pistas deixadas para trás. Henrique olhava o garoto com imensa vontade de lhe meter as mãos atrás das costas, lhe meter as algemas e levá-lo até à delegacia de Viseu, ou mesmo ao DIC da Guarda, mas mantera o seu sangue frio. Ele descobriria o assassino de Violeta mais cedo ou mais tarde e mesmo que esse assassino e se não fosse Abel e seus capangas, ele iria incrimina-lo por bullying. Ele iria incriminar todos que fizeram bullying com Violeta.
Henrique olhou para Abel com um sorriso malandro.
- Abel Cunha, o "senhor" - disse da maneira mais sarcástica possível - terá que depor mais tarde na delegacia. Coopere, se não prometo que a situação vai ficar preta para o seu lado.
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Caso Violeta (Andamento)
Misterio / SuspensoUma garota é encontrada morta à beira de uma auto-estrada, numa noite de dezembro. No bolso do seu casaco, a perícia encontra o bilhete de alguém que desafia o inspector Henrique Santos, a encontrar o assassino que matou Violeta e o mesmo que matou...