10 - Funeral de Violeta

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Quando Rúben acordou, as lágrimas escorriam pela sua face. Era uma dor indescritível. Tantas vezes tentara reunir coragem para abordar Violeta e agora era tarde demais. Agora só a veria no seu funeral.

Um dia estamos cá, no seguinte pudemos não estar.

Já tinha pego emprestado o fato preto do seu irmão mais velho. Vestiu-o sempre chorando, sempre pensando que era o dia do funeral da garota que gostava.

Quando soube a triste notícia não foi nas melhores das circunstâncias. Foi como ser espetado por uma faca em pleno peito, tal foi a dor que sentiu.

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Pequeno flashback

Procurara por Violeta com o olhar, como fazia todos os dias. Às segundas-feiras a turma de Violeta tinha aulas quase sempre em salas próximas à dele. Era estranho! A escola parecia estranha. O ambiente estava pesado. Tentou avistar a longa cabeleira castanha clara de Diana, pois onde estava uma das garotas também estava a outra, mas Diana também não estava. Talvez estivessem doentes, pensou.

Quando Ricardo entrou na sala de aula com os olhos molhados não imaginou que isso tivesse a ver com a garota dos seus olhos. Ricardo sentou-se no lugar atrás de si, como sempre. Rúben virou-se para trás e sussurou: "O que se passa?".

Esperou que Ricardo tira-se algo da mochila e viu o jornal semanal regional Viseense. Pegou nele e viu na imagem de capa os olhos mais bonitos que vira na sua vida. Rúben conheceu aquela foto, ela a tinha como perfil no facebook e ele era capaz de ficar horas olhando para ela, mas depois de ler o título que antecedia à foto, desejou nunca mais a olhar. Por momentos pensou estar a ter um pesadelo, imaginou que iria acordar e aquilo seria mentira, mas o beliscão que se deu a si mesmo não fez mais nada a não ser magoa-lo. Lágrimas surgiram em seus olhos, não pelo beliscão, mas sim pela dor da perda de Violeta.

- Eu lamento - ouviu Ricardo quase sussurrando - Eu sei...

Rúben olhou o amigo sério, esperando ele desenvolver o seu diálogo.

- Eu sempre soube que tu gostavas dela - Ricardo limpava as lágrimas.

- Não é verdade - começou por responder - Eu amo.

Pegou nos seus pertences e foi embora. A professora olhou para o seu aluno atónita, o que era compreensível, Rúben nunca tomara uma atitude dessas, era talvez o seu aluno preferido e foi por isso que não foi capaz de dizer uma palavra para o impedir de sair. Não se sentira irritada, mas sim preocupada. Toda a turma olhara para ele com a mesma expressão, não era todos os dias que viam o delegado de turma ter essa atitude.

Com a mochila às costas, Rúben fugira irritado por viver numa cidade, se vivesse numa aldeia sairia e se sentaria num prado qualquer para chorar a perda mais dolorosa da sua vida, mas em Viseu toda a gente o olhava até conseguir encontrar um sítio isolado. Naquele momento nem queria voltar para casa, porque tudo, absolutamente tudo lhe fazia lembrar a garota de olhos cor de mar, a sua cor preferida. Imaginara tantas vezes os dois lado a lado e nesse instante essa esperança tinha-se perdido para todo o sempre. Sentia que uma parte de si tinha morrido. Porquê Violeta, porquê ela?

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Quando chegou ao funeral, conseguiu distingir Ricardo por entre as pessoas. Viu também a grande cabeleira de Diana que podia jurar ter perdido o brilho ao lado de um senhor impecavelmente vestido. Esse dava a mão a uma mulher que devia ter a mesma idade que ele. Ao se aproximar mais das pessoas reconheceu mais estudantes da escola. Aliás, engoliu em seco quando viu Abel Cunha se aproximar sempre bem perto do padre. O rapaz vestia uma veste branca de sacristão e... era impressão sua ou ele sorria do canto da boca? Teve uma vontade imensa de lhe dar um soco. Só um psicopata sorri num funeral e ele sentia que não devia permitir aquilo, não no funeral de Violeta, mas não conseguiu fazer nada, ao contrário de Diana. Quase em câmara lenta Diana foi até ao encalço de Abel e sem que este tivesse à espera atingiu-lhe em pleno nariz com o soco de sua vida. Rúben pudera ver aquilo e quase juraria que o garoto ficara com o nariz torto. De suas narinas começou a escorrer sangue e o rapaz já não tinha mais aquele sorriso que tinha de lado. Uma raiva acabara de florescer dentro de Abel. O padre ficara perdido ao ver aquilo e olhara para Diana de maneira criminatória, mas Rúben admirara-a muito por a atitude que acabara de tomar. Imensa gente ficou chocada e aquilo causou um ambiente nada próprio de um funeral.

Caso Violeta (Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora