8.11.2017
"Se algum dia fui feliz? Eu não sei bem. Para mim a felicidade é uma utopia, feita de pequenos momentos luminosos, aqueles pequenos momentos que fazem o teu dia valer a pena. E sim, já tive momentos desses, um deles foi quando conheci a garota mais inteligente da minha turma e a mais extrovertida também. O seu nome: Diana. Conheço-a há dois anos e continuo a achá-la a melhor pessoa de todas. Ao lado dela sinto-me de certa maneira menos invisível, menos fraca e mais eu. Alguns momentos com ela são os melhores, tenho pena que por vezes não possam durar mais, a minha mãe é "um pouco" controladora, o que é bastante contraditório tendo em conta a pouca importância que ela me dá.
Outro momento bom, eu diria extraordinariamente incrível e fofo foi quando os meus olhos caíram nele. Garoto lindo demais, a sua pele mulata num tom de descafeinado, o seu cabelo bem curtinho mas ainda assim encaraculado, os seus olhos castanhos brilhantes. Eu nunca vira garoto tão bonito antes. E foi engraçada a maneira como ele me ofereceu a pêra que a senhora da cantina lhe deu por engano. Ele não gostava de pêras. Eu admito que não ligo muito, é algo que temos em comum, mas aceitei porque não lhe quis fazer a desfeita de dizer que preferia ficar sem sobremesa. Diana tentou em vão fingir que não se estava a rir de nós dois e eu tive que fingir também, não só o riso, como também o erubescer das minhas bochechas, os pulos em que as minhas hormonas estavam e o aceleramento do meu coração. Por momentos pensei que me fosse faltar o ar e ainda assim foi a melhor sensação do mundo. O único senão deste amor platônico é que por muito que eu tente me aproximar, ele parece inalcançável e é difícil, falta-me a coragem. Nestes momentos gostava de ser mais como a Diana, desenvolta, ir até ele e pregar-lhe um beijo na boca, nem que tivesse que correr a seguir, mas ao menos ele percebia. Mas eu não sou assim, não tenho essa coragem, sou fraca. Fraca demais para admitir que gosto dele, que nem para Diana nunca disse abertamente, mas ela é perspicaz, sim, ela sabe, inclusive tentou algumas vezes que a gente se cruzasse, que eu seja obrigada a dizer-lhe alguma coisa e é precisamente nesses momentos que eu disfarço e faço de conta que não vejo, porque é o mais fácil de fazer. Ele podia falar, mas ele também não me diz nada, então o nosso momento de troca de palavras resume-se apenas áquele momento na cantina e eu realmente tenho pena disso, porque gosto dele e nem sequer consigo evitar isso."***
A folha caíra do diário de Violeta e a leitura fluiu, mal Núria lhe pôs os olhos em cima. De certa maneira identificava-se com aquelas palavras, com a personalidade de Violeta e até com a sua história, porque apesar de não ter dificuldades nenhumas em empunhar uma arma, tinha dificuldades de abordar o homem que gosta por ser tímida nesse requisito. E o fato de trabalhar com ele não facilita, não para ela. Apaixonar-se por um homem obcecado por o trabalho, não fôra a sua melhor tirada. Tinha plena consciência disso, mas não conseguira evitar. Ele era e sempre foi tão ele, tão genuíno e charmoso, era uma honra trabalhar com alguém com tanta paixão por fazer justiça, com tanta garra por mudar um pouco o mundo para melhor. Era uma honra ser sua companheira e adorava fazer trabalho de campo com ele.
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Caso Violeta (Andamento)
Mystery / ThrillerUma garota é encontrada morta à beira de uma auto-estrada, numa noite de dezembro. No bolso do seu casaco, a perícia encontra o bilhete de alguém que desafia o inspector Henrique Santos, a encontrar o assassino que matou Violeta e o mesmo que matou...