3 - A notícia

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A casa de Filomena era de dimensões pequenas, arranjada, organizada e limpinha. Não havia nada fora do sítio ou camas por fazer. Filomena era uma mulher que dava importância à limpeza.

Henrique e Lourenço sentaram-se no seu sofá que parecia novo e combinava na perfeição com a decoração moderna da sala e esperaram o café que Filomena lhes oferecera.

À primeira vista era uma mulher muito prestável e amigável, mas Henrique não pôde deixar de reparar no quanto o sorriso da mulher parecia falso e no medo que surgira em seus olhos, quando ele e Lourenço se apresentaram como dois policiais. Ela tentara disfarçar, mas estava lidando com dois policiais que não nasceram no dia anterior.

Ao chegar com os dois cafés, pouso-os na mesa e voltou à cozinha com um "já venho" em seus lábios. Surgiu na sala com uma chávena de chá para si e se sentou com ela nas mãos, de frente para os dois inspectores.

- Acho melhor pousar a sua chávena. Só um instante - disse Lourenço.

A mulher seguiu a sugestão imediatamente sem perguntas e esperou que os homens dissessem o que queriam de si.

- O seu marido está? - perguntou Henrique, apercebendo-se que já devia ter feito aquela pergunta quando entrou na casa.

- Não tenho marido. Só sou eu e a minha filha.

- Violeta Sousa? - perguntou retoricamente Lourenço - Estamos aqui por causa dela.

A expressão da mulher convidativa enrijeceu. Olhou para o seu chá pousado na mesinha da sala e encarou Lourenço.

- Não pago multas de ninguém. Se ela se meteu em problemas, o pai dela que pague. Ele tem dinheiro.

Henrique e Lourenço cruzaram os olhares. Filomena tinha uma ideia da filha bastante interessante. Pensar directamente que estavam ali para que alguma multa fosse paga, sem sequer perguntar porque estavam ali, os impressionou, mas disfarçaram.

- O pai dela é Diniz Manuel Resende Sousa? É isso?

- Exactamente. Estamos divorciados há quase quinze anos.

Henrique estava com vontade de seguir com um interrogatório nesse mesmo momento, mas estavam ali para dizer à mãe que a filha morrera.

- Não existe maneira de contactar com ele? - perguntou Lourenço.

A mulher tirou o celular do bolso de suas calças extremamente coladas ao corpo e procurou o número de Diniz.

Henrique podia jurar ter visto um silvo de sorriso no rosto da mulher. Foi por isso que após Lourenço apontar no seu bloco de apontamentos o número do pai da vítima, não se conteve e disse da maneira mais amarga que encontrou:

- A sua filha está morta desde sexta-feira à noite. Você será obrigada a nos acompanhar à delegacia mais próxima para depôr.

O rosto da mulher ficara branco como a cal. Os seus olhos agora esbugalhados mostravam o quanto ela estava surpresa e quando se levantara de repente, com os dois policiais a olhar para ela esperando uma reação, a mulher desmaiou e bateu com a cabeça no móvel da sala.

- Não era para ter sido eu a dar a notícia? - perguntou Lourenço olhando para a mulher no chão.

- Desculpa. Não consegui resistir.

Depois Henrique aproximou-se da mulher e deu-lhe um par de estalos, o mesmo que tivera vontade de fazer quando a mulher dissera que não pagaria multas a ninguém. Sentira imensa satisfação com essa atitude.

A mulher acordou em sobressalto, logo após os estalos demasiado fortes do inspector Henrique e quando ía desmaiar outra vez, o inspector, com uma expressão fechada e feroz lançou da forma mais sincera que conseguiu:

Caso Violeta (Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora