6 - A melhor amiga

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4.12.17

Durante todo o seu depoimento, Diana não cessara de chorar a morte de sua melhor amiga.
Fora a pior segunda-feira de sua vida.

Estava a faltar às primeiras aulas do dia, mas o que era isso comparado à morte da sua melhor amiga? Ainda não conseguia acreditar naquilo.

Estava à espera de a qualquer momento acordar e ver que tudo não passava de um sonho, mas ali estava ela, na delegacia de Viseu, onde passava todos os dias, mas nunca entrara, sentada de frente para um policial que lhe fazia lembrar ainda mais Violeta. O tom de azul de seus olhos era quase idêntico ao azul dos olhos de Violeta, mas esses ela nunca mais veria. Sentiu até um pouco de constrangimento e culpa quando deu por si a pensar que Henrique era um inspector muito bonito para a idade que devia ter. Ele parecia experiente. Fazia lembrar as séries policiais que gostava de ver com Violeta, cada uma em sua casa. Era a maneira que elas tinham de se sentirem próximas estando longe uma da outra.

Falara das qualidades da amiga, dos professores que partilhavam e os que não partilhavam. Das queixas que Violeta tinha da própria mãe, do constrangimento que sentia ao lado do pai por ser promotor público, das inseguranças e até da paixoneta de liceu mais recente.

- Ela gostava dele, mas ele nunca soube. Rúben é bem aluado. Dificilmente se aperceberia dos sentimentos de Violeta, mesmo que estes lhe batessem à porta - comentara com Henrique, enquanto tentava acalmar os nervos e abafar um choro comendo um chocolate marx que comprara à entrada da delegacia.

Tentara a todo o custo lembrar-se de alguém que poderia querer a morte da melhor amiga, mas por muito que pensasse, só conseguia culpar Filomena. Seria algo perfeitamente possível de acontecer em Mentes criminosas.

- Acha que a mãe dela seria capaz de matar a própria filha? - perguntou Henrique incrédulo. Ele achara a mulher uma má mãe, mas ainda assim custava-lhe a acreditar naquela teoria.

Diana fungara, mais umas lágrimas correram por o seu rosto abaixo de uma só vez e esperou um pouco até conseguir falar. Tentou começar o que iria contar da melhor maneira possível. Ela sofria com a amiga a cada vez que Violeta desabafava com ela sobre o assunto que ela estava prestes a revelar.

- Violeta sofreu muito na vida. Eu aposto que os pais dela não lhe contaram. Aliás, o senhor Dinis nem sabe, mas a mãe, aquela cretina sabia - Henrique arregalou os olhos quando Diana disse a palavra "cretina" com tanta raiva - Violeta sofreu de bullying na escola primária. Eu não a conhecia na época, mas ela contou-me vários episódios, o que eles lhe faziam, a maneira como a ameaçavam... - Diana levou as mãos ao rosto completamente molhado, deixando o resto do chocolate pousado na mesa. Inspirou e expirou longamente e voltou a falar - Eram cinco rapazes contra uma menina indefesa, percebe? Ela não tinha como se defender, apenas fugir, mas seria bastante difícil. Andavam todos na mesma turma que ela e ainda por cima quatro deles andavam também no ATL* (Actividades tempos livres) com ela. Durante quatro anos ela sofreu agressões diárias.

- E você...

- Tu, por favor, eu tenho idade para ser sua filha - alegou Diana.

- Tens razão - constatou - Então tu achas que a mãe dela sabia?

- Eu não acho, eu sei. Ela sabia, a Violeta queixava-se, mas a vaca da mãe dela nunca quiz saber. Ela ainda se ria da situação. Violeta contou-me que uma vez Violeta contou aos avós, pois eles estavam acusando-a de fingir dores de barriga para ir para a escola, então ela disse a verdade. Disse que todos os dias era um pesadelo e havia miúdos na turma dela, que todos os dias lhe faziam uma espera para lhe bater e obrigar a fazer coisas que ela não queria. Os avós gostavam muito dela e teriam acreditado e feito algo, se aquela vaca da mãe dela não estivesse lá para ouvir.

Caso Violeta (Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora